Nesta terça-feira (29/8), Luísa Sonza liberou Escândalo Íntimo, álbum polêmico que movimentou a internet nos últimos dias. No terceiro álbum de estúdio, a cantora mostra tempos sombrios e revela a própria mente em tempos bons e, principalmente, ruins, como em uma crise de ansiedade. O lançamento autoral tem 18 faixas, mas outras seis serão liberadas posteriormente, assim como a parte visual, que, ao final, formará um curta-metragem.
Esse é o trabalho mais intimista e profundo de Luísa até o momento. A construção de uma estética sonora marcante — com diversas referências e estilos explorados — mostra o amadurecimento musical da artista. A obra revela uma Luísa vulnerável, mas com coragem suficiente para colocar a cara a tapa sem se preocupar com as críticas.
Cada música do álbum é uma peça que formará uma história no fim, mas, antes de lançar o álbum, a cantora liberou duas músicas. A primeira, Campo de morango, tem apenas um minuto e 16 segundos de duração e causou revolta por ser uma canção com cunho sexual e pelo clipe, que mostra a cantora em uma cama manchada por suco de morango, o que remete a sangue. Não é segredo que Luísa recebe ataques pelos mais conservadores há tempos, então a cantora deixou claro que a canção foi lançada antes, estrategicamente, para chocar o público e repercutir. A artista conseguiu a atenção que queria, mas algumas pessoas consideraram um gatilho para vitimas de assédio sexual e aborto, o que pode ter passado dos limites.
A segunda faixa liberada, Principalmente me sinto arrasada, é uma resposta às críticas que ela recebeu, visto que já estava previsto. O single ilustra uma crise de ansiedade, nele a cantora tentou mostrar como a mente dela ficava com os ataques. Apesar de ser uma boa resposta aos comentários, Luísa conseguiu ilustrar tão bem o momento difícil, que a música não soa harmônica. A parte visual não deixa a desejar e tem até uma referência ao filme de terror psicológico, Pearl. Durante a divulgação, o público alimentou a ideia de que a cantora tinha feito um pacto com o diabo e, por isso, teve que gravar o álbum. Mesmo a cantora negando o pacto, o sucesso que o álbum atingiu em poucos dias mostra que funcionou.
Ter liberado as duas faixas com a parte visual antes foi uma jogada inteligente, visto que gerou curiosidade para o álbum e também deu uma ideia de como será explorar o consciente e o subconsciente de Luísa através do curta-metragem. A abertura do álbum se dá pela faixa que recebe o mesmo nome que o disco, um áudio instrumental com toques psicodélicos que geram uma tensão para descobrir o que vem a seguir.
A ousadia e sensualidade é explorada desde o primeiro momento. A música Carnificina é um pop dançante e envolvente. O álbum conceitual tem diversas referências à música brasileira, entre elas O bêbado e a equilibrista, cantada por Elis Regina.
A segunda música, A dona aranha, é igualmente dançante e mistura português com inglês. Além de misturar os idiomas, a cantora mescla elementos do funk com as referências à música infantil. O desafio de misturar sonoridades diferentes é notório nessa obra, principalmente na forma como a canção termina.
O diferencial do álbum começa a aparecer em Luísa Manequim. A sonoridade da faixa se assemelha a bossa nova e a cantora utiliza o sample de Abílio Manoel, de 1972. A partir daqui, a versatilidade musical começa a aparecer e as músicas fogem do pop convencional de Luísa Sonza.
Romance em cena, parceria com Marina Senna, abre as faixas mais românticas, mas a sonoridade continua gostosa. Campo de morango, a música que gerou muitos comentários, vem logo após.
Com elementos do r&b, Surreal é uma parceria com Baco Exu do Blues que, assim como Hotel caro — parceria deles lançada em 2022 —, funciona. No mesmo clima romântico, Iguaria e Chico tendem para o MPB. Essas canções trazem um lado mais otimista de Luísa, mas Chico, que é uma música dedicada ao namorado da artista, Chico Veiga, é uma declaração de amor que beira o piegas.
Em clima de sofrência, Luísa lançou Onde é que deu errado?, canção com letra que machuca e surpreende por ter elementos da música sertaneja. Antes desse álbum, o mais próximo que a artista chegou da indústria sertaneja foi Coração cigano, parceria com Luan Santana. Dessa vez, no entanto, a cantora brilha sozinha.
Como uma prova de que Luísa consegue fazer músicas dolorosas, vem Penhasco 2. A canção é emocionante e envolvente, mas o grande feito da faixa (para o álbum e para toda cena cultural) é que traz Em seguida vem Outra vez, que explora a vulnerabilidade e as dores da cantora. A intimidade presente na música mostra a intensidade do álbum. A faixa Principalmente me sinto arrasada vem logo depois e representa a ansiedade da cantora, mas tem um final bonito com a mensagem de que Luísa é capaz de se reerguer sozinha.
Com mais referências brasileiras, Ana Maria é um feat com a cantora Duda Beat, que consegue refletir a essência das duas na música e remete aos eletrohits. Vanessa da Mata e Ana Maria Braga foram as homenageadas pela canção. A homenagem mais óbvia de Luísa é Lança menina, canção em tributo a rainha do rock, Rita Lee.
Não sou demais é a última música do álbum liberada e entrega a moral da história. Nela, Luísa mostra como a jornada de autoconhecimento foi importante para perceber que muitos dos problemas foram criados por ela.
Escândalo Íntimo reflete a evolução musical e pessoal da cantora durante a carreira. Ter coragem de ousar mesmo com ataques de todos os lados e ainda entregar um trabalho intimista revela outras camadas da artista, que tem os problemas expostos pela mídia desde 2019. No entanto, o maior saldo do álbum é a variedade de sonoridades, que chama atenção para o talento da artista e pela grandiosidade do trabalho que foi feito para entregar uma obra que foge da zona de conforto, com um conceito estético por trás.
A primeira vez que o público poderá contemplar o álbum ao vivo e ver quais serão as mudanças nas performances de Luísa será no palco do The Town, em São Paulo, neste domingo (3/9).
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