Neste 1º de setembro é comemorado o Dia dos Bailarinos no Brasil. A data homenageia Maria Taglioni, bailarina do século XIX, que teria sido a primeira a dançar na ponta dos pés. A referência é dedicada àqueles que dançam a modalidade, que surgiu bem antes, no século XV, na Europa Renascentista.
Como o brasiliense Rodrigo Mena Barreto, 45 anos, que atua como coreógrafo e professor de dança há 30 anos. Mena tem mais de 400 prêmios nacionais e internacionais e é professor de ballet clássico, contemporâneo, de parede e jazz.
A trajetória dele na dança começou cedo. "Desde pequeno ficava dançando com os dedos na hora de comer e toda vez que tocava música eu corria para dançar". O convite para levar o hobby à sério veio da mãe, Sonja Mena Barreto, quando tinha 14 anos.
A mãe foi essencial para a formação profissional do dançarino. "Nós saímos num sábado de manhã para pedir bolsa de estudos, fomos em 10 escolas diferentes e recebemos 10 negativas, nenhuma das escolas tinha bolsa para homem. No carro, ela me disse que transformaríamos os nãos em sim".
Rodrigo então se matriculou para aula de jazz, no Guará, onde morava, e fez a dança por um ano. Uma tia se ofereceu para arcar com metade da mensalidade e ele conseguiu bolsa para os outros 50% do valor. "A gente vinha de uma família muito humilde, muito simples, não tínhamos muito luxo e esse dinheiro, lembro como se fosse hoje, era R$ 40, em 1994."
Foram quatro anos até se graduar na técnica clássica do método cubano. Depois disso, Rodrigo foi para Cuba estudar ballet e, quando voltou ao Brasil, passou a estudar o método vaganova, com o professor russo Serguei Alexandre, o que durou mais seis anos.
"Nesses anos todos de estudos, fui me graduando também em jazz e dança contemporânea em parede (quando homem e mulher dançam clássico junto, em alongamento, contato e improvisação). Fui estudando cada vez mais as outras vertentes, porque eu não queria ser só um bailarino clássico. Queria ser um bailarino multifacetado."
Bolshoi
Já nos anos 2000, Mena participou de uma aula pública do Balé Bolshoi, que estava em Brasília. Na época, alguns donos de escola foram convidados para assistir, entre eles estava Lúcia Toller, que o convidou para trabalhar na academia, onde hoje atua há 22 anos. "Eu entrei como professor de jazz, hoje sou professor de dança contemporânea, jazz e ballet clássico," diz orgulhoso. "Com meu trabalho consegui ir para fora do país, fazer cursos e, assim, consegui trilhar um caminho profissional muito bacana na dança."
Machismo
Rodrigo comenta que não lidou com preconceitos ou estigmas por ser um homem bailarino de forma direta, e que sempre aprendeu a se impor com seus pais. "Repasso muito as minhas lições e vivências aos meus bailarinos homens, para que eles se imponham também e acreditem na profissão de ser bailarino."
"Sempre consegui me afirmar de uma maneira muito positiva, para que as pessoas me respeitassem, até quem não compreende o que é ser um bailarino profissional e viver de dança. Trabalhar com isso é movimentar vidas e sonhos artísticos. Eu acredito que o preconceito está na desinformação, em não saber o que é aquilo de fato e eu, desde então, venho dizendo e ensinando algumas pessoas para que elas consigam compreender melhor um pouco da vida de um bailarino."
Há cerca de 20 anos, Mena oferece bolsas integrais a dançarinos que queiram aprender, mas não têm condição. "Eu faço exatamente o que eu queria que tivessem feito comigo, dou a oportunidade. Faço com eles um trabalho completo para que saiam dali com muita informação para poder treinar em seus caminhos e viver de dança. Faço isso como uma forma de agradecer a minha mãe e a Deus pelas oportunidades que tive."
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