Música

Matuê assume o protagonismo da música brasileira com merecido sucesso

Em entrevista ao Correio, Matuê reflete sobre uma das melhores fases da carreira e se coloca na linha de frente de uma nova geração da música do Nordeste em show no The Town

Trapper Matuê -  (crédito: Mateus Aguiar/Divulgação)
Trapper Matuê - (crédito: Mateus Aguiar/Divulgação)
Pedro Ibarra
postado em 04/09/2023 14:01

Haverá um Brasil antes e depois do Matuê. O trapper é o artista mais ouvido do Brasil nos últimos anos, tem mais de 15 músicas com aproximadamente 100 milhões de reproduções no Spotify e conquistou o primeiro lugar dos rankings da plataforma por quatro anos seguidos. Ele se encaminha para mais um ano colhendo bons frutos do próprio trabalho com o sucesso do single Conexões de máfia e um show marcante no maior festival de 2023, o The Town. O ano é de Matuê, e ele está pronto para a posição de protagonismo que conquistou.

O artista cearense, natural de Fortaleza, investiu no trap quando o subgênero do hip-hop ainda era algo muito internacionalizado e pouco popular. Seja pela forma como fez, ou pela necessidade do público de algo novo, Matuê caiu nas graças do ouvinte e mudou o mercado. "É interessante a forma que a gente trouxe a valorização, falando de marketing, falando de lançamento, falando de videoclipes, falando até da mixagem e masterização", lembra o trapper que se sente pioneiro. "Hoje é super valorizado, mas antigamente era um valor que eu tinha na minha cabeça", complementa em entrevista ao Correio.

O processo foi de acreditar em si, sem necessariamente esperar que as pessoas em volta reconhecessem esse valor de imediato. "Na época que eu comecei a desenvolver essa ideia de fazer esse som, de trabalhar minha carreira como Matuê, eu mostrava para as pessoas à minha volta o que eu queria fazer e a galera dava risada, porque realmente era uma caminhada muito distante, um lance meio inimaginável", conta o artista.

Porém, nunca foi uma aposta e sim uma visão. "É engraçado que hoje em dia muitas pessoas que eu converso falam que sabiam que eu ia virar, que eu ia dar certo, mas, naquela época, era uma ideia que assustava as pessoas", explana. "Eu sempre acreditei 100% nisso, sempre tive certeza que ia dar certo, porque eu confiava muito no meu trabalho e a minha visão do que eu queria fazer dentro do mercado", recorda.

A ideia virou e continua virando. O artista lançou Conexões de máfia em 2023 e já é uma das músicas mais ouvidas do ano no país. O selo do qual é fundador, 30praum, já tem festival e ele é atração principal ou, no mínimo, celebrada por onde passa, incluindo palcos como o do Lollapalooza e do Rock in Rio.

O momento é de pensar nos próximos passos. Para eles, um álbum está no forno. Matuê prefere não falar quando será lançado. No entanto, o trapper já tem certeza da sensação que quer transmitir.

"A minha meta mudou um pouco, ela se tornou uma meta criativa, em vez de ser uma meta numérica, tem mais a ver com o que eu vou entregar criativamente para as pessoas, musicalmente, conceitualmente, então eu tenho trabalhado o meu disco novo muito focado nisso", afirma. "Eu realmente queria abrir a mente das pessoas, musicalmente falando, entregar algo que dê abertura pros meus fãs, para outros artistas que também me acompanham", acrescenta. "Eu realmente quero trazer algo que seja rico em texturas, cores, sons, em tudo", completa.

Matuê vê um amplo mundo para conquistar criativamente, mas, o planeta, ele pretende conquistar em português. Mesmo tendo feito parcerias recentes com artistas, como o norte-americano Rich The Kid, a ideia nunca foi se encaixar no mercado estrangeiro e sim trazer o público de fora para o Brasil. "Eu gosto muito mais da sensação de trazer as pessoas para o que é nosso do que a gente tentar se adaptar ao que é deles", diz Matuê.

Por enquanto, os fãs podem contar com um lançamento que ele tem antecipado nas redes sociais. Ele promete, em breve, uma colaboração com Mc Ryan de SP. "É uma surpresinha que preparei com o Ryan, que está muito próxima, já está perto. Não é nada tão grandioso quanto as coisas que eu estou trabalhando no meu disco, mas acho que pode ser uma surpresa inesperada", adianta. "Foi uma música que feita muito despretensiosamente. E às vezes é aí que está a magia", reflete.

Um passo para trás e dois para frente

Ao se entender como um artista do futuro do país, Matuê precisou voltar para o que o tornou artista: a poetisa Núbia Brasileiro, pessoa que também chama de avó. Uma mulher, na opinião dele, "à frente do tempo" e "orgulhosa de ser nordestina", que o criou, mas que morreu sem assistir um show sequer dele, há 16 anos.

Matuê evocou a memória dela ao palco para o show Matuê convida o Nordeste do The Town, realizado no último domingo. "Mergulhei no material, nas coisas que ela criou, nos poemas, nos livros que ela escreveu, e eu acho que tem uma coisa muito forte que eu posso trazer para esse show. E foi justamente isso que eu trouxe", conta. "Às vezes é sobre dar um passo atrás e conectar-se com as coisas da minha avó que até hoje são super fundamentais que eu entendi o Nordeste como protagonista", acredita.

O show do The Town mostrou que não só o artista quer representar a região em que nasceu e mora no palco com que ele quer que as pessoas de onde é estejam na linha de frente da música do Brasil. "Artisticamente, algo que de fato tenha o respeito, não só aquela coisa de inclusão do Nordestino. A gente não quer mais isso. A gente quer ser o protagonista mesmo da nossa história, da nossa arte, de tudo", clama.

Por isso, Núbia foi essencial, afinal, sem ela nem o Matuê seria realidade. "Eu a tenho como anjo da guarda mesmo, que olha por mim, acompanha tudo que eu estou fazendo, apesar de nunca ter visto um show meu, nunca ter visto a coisa acontecendo mesmo, foi a pessoa que colocou o primeiro instrumento na minha mão e me ensinou a primeira nota", confidencia. Por isso ele dedica essa apresentação para ela: "Ela vai ser a minha participação especial, esse show é para a minha avó".

 


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