A programação da última sexta-feira (25/8) se enriqueceu com a multidisciplinaridade da Fliparacatu com a apresentação do grupo de dança Primeiro Ato, no Anfiteatro da Casa de Cultura. Seguido, Míriam Leitão subiu novamente à mesa de discussões com “O passado milenar e o presente da Amazônia” ao lado de Eduardo Góes Neves. Próximo, Conceição Evaristo estreou em sua mesa com Eliana Alves Cruz e Calila Mercês na mediação. Para finalizar o dia, diretamente de Moçambique, Mia Couto esteve ao lado do autor Itamar Vieira Júnior, reconhecido pela obra Torto arado, para discutirem “Palavras para desentortar arados”.
O dia contou também com a presença de Luana Tolentino e Tino Freitas na mesa “Educação e literatura/eixos transversos”, Jamil Chade e Juliana Monteiro com “Ao Brasil, com amor: cartas como gênero literário, diálogo e intimidade”, Sérgio Abranches e Afonso Borges que discutiram sobre “Sertanejos tão próximos e tão distantes”, Simone Paulino, Kakay e Ricardo Ramos Filho em “ Livro, poder e mercado ”, Adriana Abujamra e Matheus Leitão para a discussão “O jornalismo como ferramenta de memória”. O grupo Primeiro Ato trouxe emoções junto com o pôr do sol em Paracatu na apresentação “Terreiro”.
A jornalista Míriam Leitão revelou seu novo livro, Amazônia na encruzilhada: O poder da destruição e o tempo das possibilidades, pela primeira vez. Míriam reafirmou que a floresta Amazônica pode definir o destino da humanidade e se preocupou ao ponto de iniciar a escrever sobre o assunto "Eu vi a questão ambiental climática se tornando irreversível". O arqueólogo e autor Eduardo Góes Neves, questionado pelo público sobre as gestões dos governos destes últimos anos. "Existe uma diferença entre governo e estado, as políticas da Amazônia devem ser de estado. Vemos coisas ruins mas também coisas boas [vindas do estado]. Sem o estado não conseguiremos superar esse desafio" conta Eduardo. A jornalista especialista em economia questionou a falta de prioridade dos economistas. “Não haverá economia sem conciliação com o meio ambiente. Nós não teremos capacidade de produção no Brasil sem a Amazônia” afirmou, Míriam Leitão
Para uma das mesas mais aguardadas do evento, Conceição Evaristo trouxe consigo a aura de muita bagagem, conhecimento e influência. Com a participação da autora Eliana Alves Cruz, as duas discutiram Ancestralidade e decolonialidade." O futuro é ancestral. Os nossos ancestrais sonharam e nós estamos realizando" diz Conceição. "A gente não fala só de escravidao, a gente fala de coletividade ancestral, como viver na selva porque vivemos em um país que quer nos matar." afirmou Eliana, "A fabulação vem da vida, que viu coisas que ninguém viu".
Na última mesa da noite, o aguardado Mia Couto entrou com Itamar Vieira Júnior para discutirem sobre as suas literaturas. “Porque escrevo? A pergunta deveria ser porque não todos escrevemos. Escrever é algo tão humano, o mesmo que escutar histórias". O autor de Salvar o fogo, Itamar revela que carrega o ato de contar histórias consigo. "O que me interessa é retratar a vida das pessoas que são atravessadas por coisas que nem imaginamos". O autor também relembrou narrativas que o encantaram, como “O caso da borboleta Atíria”, em que os personagens são insetos. “Imaginei "como eles podem ter uma vida tão rica!", ela iluminou uma coisa que estava à minha volta, algo que nunca imaginei ter vida. Eu queria fazer a mesma coisa". Mia Couto também falou de seu processo criativo, em que seus personagens não são algo extremamente pensado, e sim sentidos. "Terra sonâmbula escrevi quando a guerra havia 15 anos. E eu próprio comecei a perceber uma desumanização de uma maneira absolutamente cruel. O único livro que escrevi sofrendo foi esse".
O festival é realizado graças ao patrocínio da Kinross, via Lei Rouanet, e com o apoio da Prefeitura Municipal de Paracatu, da Paróquia de Santo Antônio e do Projeto Portinari.
*Estagiária sob a supervisão de
Serviço
Fliparacatu
23 a 27 de agosto, a partir das 10h, no Centro Histórico de Paracatu (MG).