Há pouco mais de um mês, o Cine Brasília sediou o retorno do Cinebeijoca ao exibir o filme Ladrões de cinema, do cineasta Fernando Coni Campos, seguido por um debate entre os professores organizadores e os demais presentes. Seguindo a proposta de ser um evento mensal, o cineclube está de volta ao Cine Brasília amanhã, segunda (28/8), às 20h, com o filme Tudo bem, estrelado por Fernanda Montenegro e sob a direção de Arnaldo Jabor.
O Cinebeijoca, como ocorre hoje, é uma retomada do antigo cineclube que acontecia no Memorial Darcy Ribeiro, o Beijódromo. A iniciativa partiu dos professores da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB) João Lanari Bo, Mariana Souto e Pablo Gonçalo, além de contar com a participação de estudantes e egressos dos cursos de Audiovisual e Publicidade e Propaganda.
João Lanari e Pablo Gonçalo explicam o porquê da escolha do filme de Arnaldo Jabor. "Foi um filme bem sucedido, que teve boa bilheteria, e que foi apreciado sobretudo pelo elenco estelar que tem. Há também um aspecto importante que esse filme vem na sequência de dois filmes que o Jabor tinha feito baseado em Nelson Rodrigues, Toda nudez será castigada e O casamento", conta Lanari.
Pablo afirma que Jabor era um cineasta que estava "fora do radar", e que isso "não era justo com a sua obra". "É uma obra interessantíssima, porque é uma síntese de um momento do cinema novo, quando ele descobre o Nelson Rodrigues, e ela prenuncia um tipo de cinema muito característico dos anos 1980", explica o professor.
"O que eu acho muito interessante é que o apartamento é um confinamento e a classe média é um confinamento agonístico. Então ele tem relações de amor e ódio, tem contradições e paradoxos. Acho que tem muitas questões que o filme pode levantar que são atuais e que trazem de novo para a sociedade", complementa Gonçalo.
O projeto do Cinebeijoca é administrado majoritariamente pelos estudantes da FAC. Dentre outras atribuições, eles são responsáveis por alimentar uma zine com resenhas críticas dos filmes exibidos. Ciro Araújo, recém formado no curso de Audiovisual na UnB, reflete sobre os filmes de apartamento, tão comuns quando se trata de obras sobre a classe média.
"O Jabor se inspira muito no neorrealismo italiano e na nouvelle vague. Ele se alimenta de uma época onde o cinema novo (movimento do cinema brasileiro) estava se apropriando muito do cinema francês", explica o egresso. Araújo foi atrás de outros diretores e outras obras sobre apartamentos e percebeu algumas semelhanças, como a repetição do uso de paredes brancas.
"A gente vê uma tendência em como filmar também um apartamento, em como evitar certos planos, e ao mesmo tempo, eu falo também que filmar o apartamento, especialmente nessa época, e até os anos 1980 aqui, aqui no Brasil também, é filmar o burguês."
A estudante do quarto semestre de Audiovisual Gabriela de Mello, por sua vez, reparou que Tudo bem é um filme contraditório. "No meu texto, eu escrevi sobre a controvérsia desse filme, que, ao mesmo tempo em que o Jabor busca criticar essa classe média, o filme sob essa ótica da classe média", afirma Gabriela.
"O filme é bem irônico e cheio de alegorias. Até onde é crítica, até onde é engraçado e até onde você pode rir daquilo que está acontecendo? Talvez por conta disso você fica em dúvida se aquilo é sério ou se aquilo é engraçado."
*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel