Mulheres em defesa da terra

Documentário A Ilusão da Abundância é lançado na Marcha das Margaridas

Lançamento na Marcha das Margaridas é mais que oportuno, já que o trio protagonista remete à luta da ativista assassinada que inspirou o movimento. "É um privilégio exibir o filme aqui", disse a roteirista

Em menos de uma hora de exibição, o documentário A Ilusão da Abundância é capaz de fazer cair por terra ensinamentos dos livros de história de que a colonização da América Latina é assunto do passado. “Continuamos a doar nossos recursos naturais para o desenvolvimento de outros”, declarou a jornalista colombiana Erika González, uma das roteiristas do filme lançado nesta terça-feira (15/8), em Brasília, durante a 7ª edição da Marcha das Margaridas, organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).

Com maestria, o nome do documentário resume a ópera: países latinos, como Brasil, Peru e Honduras (as três nações escolhidas como cenário da história) são ricos em recursos naturais, mas, ao mesmo tempo, e contraditoriamente, têm a maioria da população na pobreza. Assim como nos tempos da colonização europeia nas américas, há mais de cinco séculos.

Daí os questionamentos que iniciam o filme serem tão pertinentes: quem são os novos colonizadores e quem são as pessoas que estão resistindo?

Lorena Pacheco/CB/D.A Press -
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Protagonismo feminino contra o neocolonialismo

A Ilusão da Abundância, de González e do jornalista belga Matthieu Lietaert, retrata o embate de três mulheres pelas suas respectivas terras, povos e preservação ambiental. Com muita coragem, enfrentaram e ainda lutam contra mineradoras e empresas transnacionais poderosas. A brasileira Carolina de Moura Campos, do Instituto Cordilheira, de Brumadinho (MG), onde o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, em 25 de janeiro de 2019, matou 272 pessoas ao despejar milhões de metros cúbicos de rejeitos no Rio Paraopeba; Berta Cáceres, de Honduras, assassinada em 2016 por defender o meio ambiente e as terras do povo Lenca, a maior comunidade indígena daquele país; e Máxima Acuña, que, numa verdadeira batalha de Davi contra Golias, venceu ação jurídica contra a Yanacocha, exploradora em Cajamarca, Peru, onde se localiza a maior mina de ouro da América Latina, mas que ainda hoje tem planos de expansão que ameaçam os camponeses locais.

O lançamento do documentário na Marcha das Margaridas é mais que oportuno, já que o trio protagonista remete à peleja de Margarida Maria Alves, líder campesina e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba, assassinada em 12 de agosto de 1983 e que inspirou o movimento feminista. "É um privilégio exibir o filme aqui hoje, na Marcha das Margaridas, com tantas mulheres tão valentes, que estão aqui pedindo e marchando por seus direitos", afirmou González, que estava presente ao lançamento.

Assistindo à obra mais uma vez, também na plateia da Casa Margarida Maria Alves, montada para o evento que acontece no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, estava Carolina, além de parentes de Berta e Máxima, que integram a Rede Latino-Americana de Mulheres Defensoras dos Direitos Sociais e Ambientais. Assim como a autora, elas discursaram ao final da exibição do longa.

"A mineração é a máxima expressão do patriarcado no mundo, é um estupro do corpo da Terra, porque sem permissão e violentamente essas empresas explodem os nossos territórios e todo o sistema hidrogeológico de manutenção da vida, das terras. E a gente precisa seguir organizadas e lutando contra essas e tantas outras violências. É um chamado para que nos nossos feminismos, nas nossas lutas cotidianas, que são várias, sempre lembremos da questão do extrativismo predatório, que não pode continuar, especialmente em tempos de emergência climática", declarou Carolina.

A ativista brasileira já fez um apelo emocionado no Congresso Nacional e foi até a Alemanha cobrar a responsabilidade da empresa que deu aval de funcionamento para a barragem de Brumadinho.


Reconhecimento

A Ilusão da Abundância já foi selecionado em mais de 30 festivais internacionais de 20 países e premiado em concursos como o Melhor Longa-metragem no 16º One World, Melhor Filme Ambiental no 15ª Millenium Doc FF, Melhor Filme Longa-metragem no 9º Portland Ecofilm Fest, e Menção Especial no 6º MujerDoc FF — todos em 2023. Além disso, o documentário foi escolhido oficialmente pela FIPADOC Impact Lab e pela FIFDH Impact e está sendo projetado como estratégia de impacto em eventos em que estão sendo negociadas leis que obrigam as empresas a respeitarem os direitos humanos e o meio ambiente, como no Parlamento Europeu, em Bruxelas, na Bélgica; no Escritório das Nações Unidas (ONU), em Genebra, na Suíça; na Conferência de Biodiversidade das Nações Unidas - COP15, em Montreal, no Canadá; na COP 2 do Acordo de Escazú, em Buenos Aires, na Argentina; e, agora, na III Cúpula de Chefes de Estado UE-CELAC, que acontece em Bruxelas.

O documentário será reexibido no Sesc do Setor Comercial Sul, a partir das 19h, nesta quarta-feira (16), segundo dia da Marcha das Margaridas, em que as mulheres vão sair do parque em caminhada pela Esplanada dos Ministérios em direção ao Congresso Nacional.

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