Um problema básico, com um motorista ilhado, no meio do nada, e um carro quebrado. Assim começa a mais nova e iluminada proposta do cinema do diretor Wes Anderson, Asteroid City, que, estrelada por Jason Schwartzman (no papel do jovem viúvo Augie) e Scarlett Johansson (na pele da atriz Midge), vem na sequência de longas coloridos como A crônica francesa (2021) e O grande hotel Budapeste (2014). Pesam nas produções de Anderson (aqui, novamente, com roteiro coescrito por Roman Coppola) elementos próprios da criação nas artes, o que remete à metalinguagem que tanto satisfaz os fãs dele.
Como narrador, o ator Bryan Cranston (de Breaking bad) desponta em cena. Ele descortina a situação de uma cidade com população de 87 pessoas que recebe uma gama enorme de novos habitantes, por causa de uma conferência estudantil que culminará com a entrega de uma bolsa. Por trás do enredo está o trabalho do dramaturgo Conrad Earp (Edward Norton), que, entre ajustes intermináveis na elaboração de uma peça teatral, se esbalda com doses de bebida, na criação de um cenário à la western, que acolhe viagens de trem, um calor infernal e a aridez de cenas entre fartas montanhas rochosas de um lugar incerto, entre Arizona, Nevada e Califórnia.
Numa outra instância de enredo, o diretor Schubert Green (Adrien Brody) sofrerá a fim de materializar a ação repleta de tipos como a ingênua professora June (Maya Hawke), o geniozinho Dwight (Preston Mota) que se mistura com adultos e ainda fuma. Além de um general (Jeffrey Wright), presente para tornar oficial o tom dos jovens, praticamente superdotados, que interagem em dinâmicas que exigem memória e muita lógica.
Tramas paralelas, como a do drama do fotógrafo Augie que apoia o jovem filho Woodrow (Jake Ryan), enquanto se esconde do luto em família, se misturam às de frivolidade, no caso da sexy Midge, mais interessada no "estrelato" do que nos conflitos astronômicos de Asteroid City. É capaz de se ver afundada numa rigorosa quarentena por causa de um episódio surreal que envolve o inesperado personagem de Jeff Goldblum.
Numa dinâmica que agrega geringonças como uma máquina caça-níquel programada para entregar escrituras de terras (da tal Cidade Asteroide do título) compradas, virtualmente, Wes Anderson entrega mais um filme repleto de imaginação e orquestrado por galeria de infindáveis personagens de atores do porte de Steve Carell e Tom Hanks. Um monumento criado a partir da colisão de um meteorito, protocolos de segurança nacional associados a uma visita alienígena e projetos arquitetônicos abandonados e inoperantes fazem parte do potente arcabouço visual proposto por Asteroid City.
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