Duas das mais importantes manifestações artísticas, ligadas à cultura popular do país, estarão em destaque na programação de eventos nesta semana no Distrito Federal. A Casa do Cantador, em Ceilândia, promove de quinta-feira (10/8) a sábado (12/8), o Festival Regional de Repentistas do Distrito Federal e do Entorno; enquanto o Clube do Violeiro Caipira realiza de sexta-feira (11/8) a domingo (13/8), na Praça dos Estados, na Candangolândia, o Encontro de Violeiros e Violeiras.
O palco que, com frequência, recebe grandes nomes do repente e da cantoria originários do sertão nordestino apresenta mais uma edição do festival ao longo dos anos e já reuniu dezenas de duplas, em apresentações nas quais o improviso e a criatividade são protagonistas. O encontro costuma atrair espectadores de várias regiões do DF. A arte do repente foi trazida por imigrantes do Nordeste, que, enquanto candangos, tiveram fundamental atuação ao materializar o Plano Piloto projetado por Lúcio Costa e a arquitetura idealizada por Oscar Niemeyer.
Segundo João Santana, um dos produtores do Festival cantoria de repente é considerada a primeira tradição poética nordestina que absorve uma série de temas. "Entre eles política, religião, desigualdade social, família, esportes e outros assuntos passam a ser tratados com esmero e profundidade pelos repentistas, tanto em linguagem popular brejeira quanto rebuscada". Ele acrescenta: "As modalidades ou gêneros mais conhecidos são coqueiro da Bahia, voa sabiá, Brasil de Mãe Preta, martelo alagoano e segura o remo. Sendo os mais utilizados sextilhas, motes de sete sílabas e de 10 sílabas, e galope à beiramar. Esses se resumem em métricas a serem seguidas para a construção de poesias, que são propostas às duplas com um mote, sentença de um ou dois versos que dá o conteúdo sobre o qual os repentistas se desafiam".
Já para Chico de Assis, outro produtor, os gêneros determinam em quais versos da estrofe as rimas devem coincidir. Destes, o mais comum e, possivelmente, o preferido dos repentistas é a sextilha, composta de estrofes de seis linhas, ou versos. "Caso em que as rimas se dão nas linhas pares. O esquema de rimas começa a ficar mais desafiador a partir da sextilha, ou sete Linhas, uma adaptação da sextilha, porém, com sete versos. Aqui, as linhas pares rimam até a quarta, daí, a quinta deve rimar com a sexta e a sétima com a segunda e a quarta."
Assis vai além: "No Festival Regional de Repentistas do DF e Entorno, de caráter competitivo, se apresentam nove duplas, selecionadas em fase eliminatória entre os 23 repentistas inscritos. Também sobem ao palco, a convite do Festival, uma dupla da nova geração e outra de mestras repentistas consagradas.
A programação também contempla o forró, o teatro de mamulengo, a literatura de cordel e os poemas matutos. "A presença dessas outras artes do sertão é mais uma forma de difundir e fortalecer o espaço da cidadania daqueles que constroem a arte popular, se expressam através dela e fazem da mesma o exercício de sua brasilidade", justifica Santana.
Para Chico de Assis, outro premiado repentista e um dos organizadores do festival, "a reunião destas manifestações culturais enaltece a força artística e o histórico de resistência das culturas populares do povo de Brasília". Aberta ao público, o Festival também oferece uma oficina de poesia nordestina.
Para esta, cantadores devem compor estrofes de 10 linhas, fechando cada um com os versos da sentença dada — o mote — seguindo sua rima e métrica. "O esquema de rimas deve ser construído da seguinte forma: o primeiro rima com o quarto e o quinto; o segundo, com o terceiro; o sexto, com o sétimo e o décimo; e o oitavo, com o nono".
Na quinta (10/8), às 20h, a abertura da programação será com a competição das duplas de repentistas locais: Valdenor Almeida e Jonas Andrade, Osnil Soares e Waldir Lucena, Poeta Geraldinho e Louro Bento, e atrações especiais Nelson Martins e Nelson Santos. Na sexta-feira, haverá a apresentação do Mamulengo Fuzuê e competição das duplas Wladimir Maikovski e Donnzílio Luiz, Messias de Oliveira e Ramalho de Oliveira, Nelson Martins e Nelson Santos.
No encerramento, sábado (11/8), a partir das16h, a competição reunirá as duplas Chico de Assis e João Santana, Cícero Monteiro e Geraldo Queiroga, Chico Brazlândia e Zé Moacir. A atração principal é o show de forró pé de serra da cantora Mariele, seguido do anúncio do resultado das competições, e desafio entre Jairo Silva e Jéferson Silva, repentista da nova geração. Em todos os dias, Lília recitará o poema Poesia matuta. Nesta edição, o festival, que tem o fomento do Fundo de Apoio à Cultura do DF, possibilitará, via transmissão ao vivo, que apreciadores do repente, de outras regiões do Brasil, possam acompanhar em tempo real.
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