Cinema

Filme relembra capoeirista morto por intolerância política

O documentário "Môa, raiz afro mãe" aborda sobre a vida e trabalho do capoeirista e conta com participações importantes de artistas brasileiros, incluindo Gilberto Gil

Môa, raiz afro mãe chega aos cinemas, nesta quinta-feira (3/8). Com direção de Gustavo McNair, o documentário relembra a trajetória de vida do músico, capoeirista e símbolo de resistência cultural, Môa do Katendê, morto em 2018 após uma discussão política. 

A produção do documentário começou no mesmo ano em que Môa foi assassinado. A ideia inicial do projeto surgiu após uma conversa entre o capoeirista e Gustavo. Na época, o músico chegou a dar uma entrevista para compor o filme, que acabou sendo a última antes dele ser assassinado. 

McNair conta que, depois da morte do artista, a entrevista ganhou um novo significado. "Ele gravou com a gente, passou o ano inteiro na Europa, e em outubro voltou para Salvador para votar e para visitar a família. No dia do primeiro turno, na madrugada seguinte, ele foi assassinado", relembra. 

Apesar do luto e da tristeza pela perda do amigo, o diretor decidiu prosseguir com o projeto, mas com uma nova perspectiva. Os primeiros passos foram visitar a família e amigos de Môa, para obter mais informações sobre sua vida. No entanto, a pandemia de covid-19 atrasou o processo. 

"A gente só conseguiu ir para Salvador para fazer as entrevistas em outubro de 2021. Ficamos lá por 20 dias e fizemos muitas entrevistas, todos os dias, com uma equipe local. Foi superlegal, superlindo e superintenso", conta. 

O principal objetivo do filme é retratar a importante trajetória de Môa, enfatizando o papel desempenhado por ele na sociedade. O documentário também aborda sobre elementos importantes da Bahia, sua terra natal. "A história das manifestações negras da Bahia, do carnaval, do axé, dos blocos, da capoeira, da negritude na Bahia nos anos 1970 e 1980. A história é muito rica e impactou muito a gente", explica. 

Celebração além do documentário

As homenagens para Môa do Katendê foram além do documentário. A celebração também foi materializada em disco, também intitulado Môa, raiz afro mãe. O projeto conta com participações de artistas importantes da música brasileira, como Emicida, GOG, Lazzo Matumbi, Marcia Short e Rincon Sapiência. O disco é composto por músicas de Môa, que nunca haviam sido gravadas. O processo de produção do disco é retratado no documentário. 

Gilberto Gil também desempenhou um papel importante na produção do filme. Gustavo McNair lembra que o artista fez questão de participar, enaltecendo a trajetória e a inteligência do capoeirista. "Fomos no estúdio dele e gravamos a entrevista. Ele falou super bem e com muito carinho sobre o Môa. Foi muito receptivo e muito fofo", conta. "Foi um dos depoimentos mais importantes do filme, porque ele trouxe muita sabedoria do que estava acontecendo naquele momento, da impressão que os artistas e o mundo tinham sobre ele (Môa)", complementa.

Reconexão com o Brasil 

Gustavo McNair enfatiza que o filme transmite uma mensagem de "reconexão com o Brasil", das origens africanas e da cultura originária. "Tem um desconhecimento, uma ignorância grande do Brasil com a sua história. Falta orgulho, falta conhecimento, falta reconhecimento de artistas como o Môa, que muitas vezes não são reconhecidos em vida. Artistas pretos que estão sempre lutando, uma luta diária de conquista e de transmissão de conhecimento".

O diretor espera que os espectadores do documentário possam se reconectar com o Brasil e voltar a sentir orgulho do país. "Gostaria muito que, através do que o Môa ensinava, as pessoas se conectassem com a nossa origem, com o Brasil verdadeiro, profundo, legítimo, cultural e riquíssimo, para que no futuro a gente consiga ter mais união e mais igualdade", finaliza. 

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