Cinema

Renato Barbieri prepara documentário sobre a África para 2024

Longa terá filmagens em países como Mali, Senegal e Nigéria e tem como proposta olhar para a África como norte para o destino de uma humanidade imersa em tragédias climáticas

Na sequência do exame da escravidão contemporânea, no longa Pureza, que lhe rendeu a comenda da ordem do mérito, pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), o diretor brasiliense Renato Barbieri investiu no documentário Servidão, sobre a tradição escravagista no Brasil e a perpetuação da mentalidade de 500 anos, além de explorar a resistência abolicionista. A africanidade tem se tornando uma constante ainda em produções como Atlântico negro — Na rota dos orixás e a série de tevê Libertários. Barbieri crê que, depois da abolição, o Brasil se tornou mais racista. "Temos 500 anos de racismo, com diferentes tons. Quando você é racista, você se desumaniza, e ao outro também", explica Barbieri.

Impulsionado pelo investimento de R$ 1.35 milhão (via Fundo de Apoio à Cultura), e com vislumbre de filmagens no Mali, Senegal e Nigéria, Barbieri trará em 2024 o longa A África dentro da gente, que teve as filmagens iniciadas no Externa Club, em festa com line-up preto comandado pela DJ Valentina Luz. "Nosso corpo sentimento foi sequestrado pela cultura neurocêntrica, toda cerebral, e o sentimento não encontra bem seu lugar no academicismo. Numa festa eletrônica, há o resgate da singularidade e é um atributo que a negritude expressa. Na festa eletrônica, reina a cultura de paz, com o assédio zero", observa o diretor, em torno das celebrações sem sexismo ou machismo e de tolerância total.

Depois de muito usufruir da música clássica, da bossa nova, MPB e rock progressivo setentista, Barbieri, aos 65 anos, tem dançado a noite inteira, na cena eletrônica da cidade, a seu ver a segunda maior do Brasil, com farta investida clubber e black. "Tem a ver com o tema que trabalho: de que a humanidade toda tem ancestralidade africana, queira ou não. A espécie foi parida na África e se globalizou a partir dela", avalia.

A proposta, em A África dentro da gente, é a do olhar para a África como espécie de ponto de partida, como norte para o destino de uma humanidade imersa em anunciadas tragédias climáticas. "Temos que voltar a olhar para a tradição milenar, com visão de vida sobre o corpo sentimento, o que é muito pertinente nos tempos de hoje, de fragmentação, e ainda investirei no afrofuturismo", enfatiza Renato Barbieri.

A investida numa perspectiva construtiva que resgate de caminhos para a humanidade combina com as metas de urgências do cinema do diretor. "Prezo os pensamentos filosóficos e movimentos de dança de um corpo sentimento, apreendido na África. Nas festas, ninguém olha atravessado: no bojo traz à tona o antirracismo, que é uma missão de todos nós, de toda a sociedade", avalia o diretor. No filme, com imagens da festa captadas em celular, Barbieri será um personagem e testemunha dinâmica que transita em lugares de resistência da negritude. Na rota, São Paulo, Salvador e São Luís. "Tratemos a empatia e as situações de sequestro e de libertação dos corpos", conclui.

 

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