A jornalista Míriam Leitão estreia seu mais novo livro, Amazônia na encruzilhada: o poder da destruição e o tempo das possibilidades. O livro teve seu pré-lançamento durante a Fliparacatu. "Estou emocionada, porque ele acabou de nascer, aqui na frente de vocês, em Paracatu", disse Miriam, enquanto participava da mesa O passado milenar e o presente da Amazônia, ao lado do antropólogo Eduardo Góes Neves. A obra terá seu lançamento oficial nesta quinta-feira (31/8), na Livraria Travessa, no Rio de Janeiro, e em 12 de setembro, a jornalista virá a Brasília para autografar na Livraria da Vila, no Iguatemi. A escritora afirmou que a Amazônia pode definir o destino da humanidade. Em entrevista ao Correio, ela falou um pouco sobre como foi o processo de escrever o livro.
A contracapa do livro conta com o registro do fotógrafo Sebastião Salgado de Míriam Leitão enquanto fazia uma reportagem na floresta amazônica. "Nessa reportagem de 2013 talvez tenha nascido o primeiro momento em que eu quis escrever um livro sobre Amazônia", conta. Especializada em economia, a jornalista via o cenário econômico não priorizar as questões climáticas e até desprezar causas ambientais. "Eu venho estudando a questão ambiental climática há 20 anos e os economistas que eu ouvia, prezava e admirava não estavam ligados nessa questão", garante. Como jornalista, Míriam diz que é dever dela estar atenta ao que é urgente "A única coisa que o jornalista precisa saber é o que é o lead, isso é obrigatório. É preciso saber o que é mais importante, e hoje é a Amazônia", diz. O desmatamento acelerado da maior floresta tropical do mundo foi o principal motivo para a decisão de iniciar o projeto "A Amazônia sofre o extremo do perigo e ao mesmo tempo é uma grande possibilidade, por isso que eu chamo de o poder da destruição e o tempo das possibilidades", explica.
A escritora divide o livro em partes: A floresta, O plano real do desmatamento, A encruzilhada, Os primeiros povos, os crimes amazônicos, Os caminhos da economia e a Viagem. O livro começa a ser escrito a partir de reportagens feitas por Míriam, que que teve a oportunidade de ir à floresta "Não fui tantas vezes quanto gostaria, mas criei essas situações para voltar à Amazônia. Todas as reportagens que fiz estava sem querer juntando o material para o livro que eu não sabia que ia escrever", diz. A produção de fato começou durante a pandemia: "Eu aproveitei o que parecia ser o pior momento de escrever um livro por não poder sair do isolamento, mas porque os outros também estavam no isolamento, eu pude entrevistar muita gente sem sair de casa."
A obra mostra o cenário atual da encruzilhada após a saída do ex-presidente Jair Bolsonaro "A gente aprofundou muito no erro nos últimos quatro anos, cavou muito o buraco que já estávamos." Se os resultados das eleições de 2022 tivessem sido diferentes, o resultado poderia ser irreversível. "O governo Lula chega e, por isso, ele tem que enfrentar logo de cara a política de combate ao desmatamento". A análise é feita ao observar o cenário político e quais políticas são adotadas pelos governos anteriores para combater o desmatamento. A autora afirma que é inevitável ver que aconteceu um fenômeno impressionante de queda dos desmatamentos nos governos Lula.
A Amazônia se une também às questões indígenas, como no caso da omissão de socorro aos Yanomami "Como país no século 21, fazer outro genocídio é inaceitável, é absolutamente inaceitável sobre todos os pontos de vista. O desmatamento da Amazônia leva ao extermínio dos povos indígenas", lamenta Miriam. De acordo com a autora, os povos indígenas representam um patrimônio de diversidade sócio e étnica e são de extrema importância para o combate ao desmatamento da floresta por resistirem ao garimpo ilegal. "De tudo que foi errado desde o início da colonização, eles têm resistido e protegem o que temos de mais precioso, que é a floresta. Temos que nos aliar aos indígenas, é uma questão civilizatória."
Um dos objetivos da obra é deixar claro o que acontece e como isso afeta os principais causadores desse desmatamento. "Aumenta o risco climático e tira a possibilidade do Brasil ser a potência agrícola produtora de alimentos", diz a jornalista, que cita o ambientalista Russell Mittermeier, autor da teoria dos países megadiversos. "São 18 países que controlam 70% da biodiversidade do planeta e o Brasil é o primeiro desses 18, esse é o tamanho, nós somos uma potência ambiental."
Os caminhos para uma bioeconomia na Amazônia não são somente teóricos, já são praticáveis, como conta Míriam quando fala da produção agroflorestal. "Pequenos produtores executam nesse sistema em que se mantém as árvores e se produz embaixo", conta. As maiores economias na Amazônia são atividades profundamente destruidoras da floresta, como mineração e pecuária. Um dos exemplos dados pela autora de soluções para diminuir a criação de gado em áreas de proteção ambiental seria cobrar o pacto feito pelo Ministério Público com os frigoríficos, com a rastreabilidade do gado, da forma como foi feito com a soja e que obteve sucesso. "Como o escritor amazonense Márcio Souza diz: qualquer solução única para Amazônia está errada", afirma a jornalista. "A bioeconomia não pode ser uma palavra vazia como outras palavras que foram se esvaziando pela repetição oportunista. Tem que dar sentido e investir de fato numa economia sustentável na Amazônia, que é possível hoje."
Serviço
Amazônia na Encruzilhada
Lançamento em 12 de setembro, às 19h, na Livraria da Vila (Shopping Iguatemi, SHIN CA 4 - Lago Norte)
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br