Helena Lopes fala nesta terça sobre série que trata de memória histórica

Obra de Helena Lopes formam o livro Do chão para o chão - (crédito: Helena Lopes)

Nahima Maciel

postado em 15/08/2023 10:28 / atualizado em 15/08/2023 10:31

Em 2019, Helena Lopes e as três irmãs decidiram visitar a cidade onde a mãe nasceu, na Polônia. Durante a viagem, elas visitaram um campo de concentração que recebia prisioneiros durante a Segunda Guerra. Helena ficou impressionada com o projeto de preservação da memória implementado no campo, mas o impacto maior veio das marcas registradas no solo do local, a única parte do local na qual não houve intervenção museológica. "Fotografei o piso dos galpões por onde caminhei e, chegando em Brasília, coloquei essas imagens no computador e trabalhei no Photoshop", conta a artista, que fez das imagens o trabalho Do chão para o chão tema de conversa programada para esta terça-feira (15/8) com o artista Christus Nòbrega, na Galeria Casa Albuquerque, e de livro de mesmo nome a ser lançado na sexta-feira (18/8).

No computador, Helena manipulou as imagens para construir uma série de sobreposições de texturas diferentes, organizadas em camadas. Durante o processo, a artista também começou a escrever reflexões sobre a experiência. "Me senti como uma arqueóloga que trabalha com camadas, como se estivesse realmente entrando nesse universo mais profundo, e senti necessidade enorme de escrever sobre o que estava fazendo. Isso foi criando uma relação profunda entre imagem e texto", diz.

Em nenhum momento, Helena quis usar no trabalho o nome do campo visitado na Polônia. A intenção era evitar o impacto que o detalhamento de informações sobre esse período histórico pudesse causar. "Com esse mapa cartográfico, trabalhei as imagens de cada fotografia que fui registrando e como aquilo mexeu emocionalmente comigo", conta.

Além do livro, as imagens também renderam uma série de impressões em fine art, desenhos e um conjunto de esboços e rascunhos que poderão ser vistos em exposição em setembro, no Museu Nacional da República. "Quando comecei a escrever, estava preocupada em registrar o que estava sentindo na hora. Então o que fiz? Fui registrando minhas emoções, fazendo pequenos manuscritos, e fui graduando à medida em que foram surgindo. Alguns estão no livro", conta a artista, que levou quatro anos para completar o trabalho.