Música

Rapper mineiro FBC aposta na mudança com o quinto álbum de estúdio

FBC aposta na mudança enquanto vive a melhor fase da carreira com o novo disco O amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta

Pedro Ibarra
postado em 07/08/2023 10:19 / atualizado em 07/08/2023 10:28
Cantor FBC -  (crédito: Bel Gandolfo/Divulgação)
Cantor FBC - (crédito: Bel Gandolfo/Divulgação)

 As mudanças são inevitáveis. Porém, mudar é desbravar um novo ambiente e investigar o desconhecido pode ser assustador. FBC nunca teve esse medo. Desde que começou o rapper esteve sempre mudando, nunca se acomodou. Atualmente, músicas do artista constam em playlists de rap, funk, grime R&B e indie. Agora, chegou o momento da nova mudança, FBC mistura a pista de dança e as crises existenciais com o novo álbum O amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta.

Esse é o quinto álbum de estúdio de FBC, nome artístico do mineiro, natural de Belo Horizonte, Fabrício Soares. O trabalho é o primeiro desde que o artista estourou a nível nacional com Baile, disco de funk e miami bass ao lado do Dj e produtor VHOOR, mas é bem diferente do sucesso lançado em novembro de 2021. A intenção desde o princípio era de fazer um álbum mais dançante enviesado para o gênero house, uma variação mais eletrônica da disco music. Porém, a multiplicidade do house fez com que ele fizesse um passeio pela história da disco music durante 15 faixas.

FBC convidou os produtores Pedro Senna e Ugo Ludovico, ambos de Brasília, para que juntos pudessem fazer essa viagem pelo disco. "Eles conseguem sempre trazer uma coisa elegante sem perder o lado comercial", elogia o cantor em entrevista ao Correio. Fabrício afirma que a intenção era fazer um disco corajoso que fosse da pista de dança à intimidade. "Fazer 15 músicas, totalizando em 54 minutos, é um ato de coragem, porque não é música para TikTok. Eu imagino as pessoas ouvindo essas músicas a noite, no carro dirigindo, ou em casa curtindo um vinho. Uma coisa mais introspectiva e noir. Eu quis que os timbres remetessem a esse momento da vida de cada um. Mas, ao mesmo tempo, a gente teve cuidado para que todas as músicas soassem como se estivéssemos em uma festa", lembra.

Por conta dessa escolha o disco soa entre o soul, o R&B e o disco, muito distante do funk que fez sucesso absoluto em Baile. O que pode parecer uma grande mudança para quem o escuta, para ele é parte da vida. "Depois que comecei a fazer aula de piano, eu comecei a entender uma coisa: rap, funk, pagode, R&B, soul e até mesmo o rock são gêneros em que a maioria das composições é 4x4, o compasso é o mesmo. Por isso, para mim parece natural transitar entre esses gêneros", comenta FBC. "Existem muitos outros estilos que eu estou estudando para chegar neles. Ainda vão ter muitas eras pela frente", adianta.

Outro aspecto que o cantor levanta para explicar a nova sonoridade é brasiliense. Os produtores influenciam muito no produto final e por isso FBC os assina em todas as músicas. "Eu fui um dos primeiros do Brasil a fazer isso, se eu não fui o primeiro eu não sei quem foi a fazer isso em trabalhos solos. Antigamente, só dava para saber o nome do produtor nos créditos da música no Spotify", clama o artista, que começou com o processo em 2018. "Eu sempre fui um cara que trabalhou no sinal vendendo água porque não tinha dinheiro. Os produtores, porque viam que eu tinha talento ou por dó da minha condição, me fortaleciam. O mínimo que eu podia fazer era dividir o royaltie. Já que antes eu não tinha nada, era metade meu, metade seu", completa.

Viagem intergalática

Contudo, o que é mais original no álbum é o conceito. "O conceito e o título do álbum surgiram no meio do trajeto,  queria fazer um álbum de amor, mas no meio do caminho quis que o eu lírico do disco tivesse uma crise existencial. Nisso, ele começa a viajar, nas possibilidades de outros planetas, de outras oportunidades. No fim ele entende que a possibilidade está aqui, a vida na Terra, nas pessoas que tem compromisso com ele. Entende que é viver e é amar", explica.

Todo esse movimento partiu de um questionamento: "Qual música irá para outro planeta? Porque eu quero ir". "Quando eu escrevi o álbum, eu imaginei que a humanidade destruiu a Terra e tivemos que entrar numa nave e ir para um sistema solar parecido com planeta habitável em Andrômeda. Passaríamos 10 mil anos dentro dessa nave. Então, pensei em como que uma geração que nasceu e cresceu nessa nave irá ouvir música sem as madeiras e as peles que fazem os instrumentos, sem ter sentido o cheiro do ar e visto a cor do céu com os próprios olhos", divaga FBC. "Nessa viagem eu cheguei a conclusão: só o amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta", finaliza.

Com referências do passado e um pé no futuro, FBC acredita que a música pode ser eterna. "Para as pessoas do futuro olharem para o passado e encontrarem algo de significante, nós temos que acreditar nessas coisas, para que a humanidade sobreviva", pontua.

O amor, o perdão e a tecnologia realmente são capazes de levar FBC para outro mundo e ele tem exemplos que corroboram com a ideia. "O amor à leitura, a sensação de se livrar de um rancor e poder flutuar, a música de Jorge Ben Jor, os filmes do cinema, os livros da literatura são tecnologias inacreditáveis que o humano cria. Eu posso ir para o topo do Himalaia, para o sul da França, correr com um leão na savana da África e sentir o frio do estreito de Magalhães", fala o músico em tom divertido. "Eu posso fazer qualquer coisa e ir para qualquer lugar se eu acreditar nessas coisas, se eu realmente trabalhar isso dentro de mim", conclui.

 


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