Numa conjuntura em que o reinado da maior estreia em cinema no Brasil, na realidade pós-pandemia, Barbie, atraiu 1,2 milhão de público, em apenas um dia, o circuito de cinema aposta na diversidade, no rastro de sucesso da boneca da Mattel. Filmes sobre ingênua assombração, invasão de clássicos, sucessos consagrados de animação, drama com temática lésbica e um clássico da literatura nacional revisitado na telona, se aliam ao talento de diretoras representantes de Israel, num painel diverso do audiovisual. Confira!
Mansão mal-assombrada
O longa da Walt Disney vem inspirado em uma das atrações do parque de diversões da marca. Em tom de comédia e suspense, o filme é dirigido por Justin Simien, e encabeçado por LaKeith Stanfield e Rosario Dawson. A trama traz uma mulher e o filho dela, que passam a depender das atividades de pesquisadores de matéria e espírito, num caso de invasões paranormal. Numa remota localidade americana, entram em cena uma especialista em atividades sobrenaturais, um professor, um padre versado em exorcismo e um estudioso de paranormalidade.
Com estimativa de renda nos Estados Unidos de US$ 27 milhões, no dia da estreia, o filme teve investimento na ordem de US$ 150 milhões. Numa perspectiva de renda na meca do cinema, leia-se os Estados Unidos, o valor está longe dos indicativos dos US$ 77 milhões para Barbie e dos estimados US$ 40 milhões para a renda de Oppenheimer. O filme da boneca da Mattel já trouxe US$ 200 milhões, enquanto o filme do criador da bomba rendeu a metade disso.
Avaliado na importante publicação Variety, o longa, bastante criticado pelo padrão fraco nos efeitos visuais, foi valorizado pela capacidade "de honrar quem passa por um processo de luto, ao mesmo tempo em que almeja estampar sorrisos no rosto do público". Tiffany Haddish, Danny DeVito e Jared Leto completam o elenco do pretendido blockbuster que traz ainda a recente ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante Jamie Lee Curtis (Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo).
Capitu e o capítulo
Instigado por um poema de Haroldo de Campos em torno do romance Dom Casmurro (o clássico de Machado de Assis), o diretor Julio Bressane, depois de 50 anos de carreira, estreou no Festival de Roterdã, mais uma obra machadiana, passadas quase quatro décadas da exibição de Memórias póstumas de Brás Cubas. Com colaboração da roteirista, professora e filósofa Rosa Dias, além de produção associada de Cacá Diegues, o novo longa traz o enredo de uma nova fase para o possessivo Bentinho (Vladimir Brichta), já apelidado de Casmurro (papel de Enrique Diaz). Amor, paixão e distanciadas percepções de fortes sentimentos dão as caras no filme protagonizado por Mariana Ximenes (a Capitu da trama).
Missão de sobrevivência
O cineasta Ric Roman Waugh dirige o astro Gerard Butler, no longa de ação situado no Oriente Médio. O norte-americano Tom é um espião que passa a ser perseguido após uma missão na qual ajuda a destruir uma usina nuclear iraniana.
Blue Jean
Filme de estreia de Georgia Oakley, também responsável pelo roteiro, o drama Blue Jean tem a trama situada em 1988, durante um obscuro período do Reino Unido, sob o governo de Margaret Tatcher. Na época, sob forte campanha de repressão à comunidade LGBT, a professora de educação Jean (Rosy McEwen) vive a insegurança do amor por Viv (Karie Hayes). No Festival de Veneza, o longa assinado por Oakley foi destacado por prêmio do público e, no Bafta, concorreu na categoria reservada à área técnica (de estreantes).
Van Gogh — Entre o trigo e o céu
Quase seis anos depois da exibição do longa Com amor, Van Gogh, feito a partir de 65 mil frames todos pintados a mão, por 125 artistas, uma nova visão em torno do célebre holandês chega aos cinemas. É o documentário que conta com participações do historiador Marco Goldin e da atriz e diretora Valeria Bruni Tedeschi, Van Gogh — Entre o trigo e o céu. O invejável lote de aquisições de 300 pinturas e desenhos, negociados no começo do século 20 pela colecionadora Helene Kröller-Müller, entra como tema central do documentário que leva a assinatura de Giovanni Piscaglia.
Homenagem a Bresson
Iniciada pela exibição de Lancelot do Lago (1974), filme sobre a lealdade do cavaleiro da Távola Redonda ao rei Arthur, em detrimento do amor por Guinevere, a mostra A Ascese da purificação — Três x Bresson tem início às 18h50 no Cine Brasília (EQS 106/107). Nesta sexta-feira (28/7), às 18h50, será a vez de A grande testemunha (1966), em torno da vida do burrinho Balthazar. No sábado (29/7), a mostra dedicada à conjuntura harmônica no cinema de Robert Bresson, traz O dinheiro (1983), movido pela circulação de uma cédula falsa que traz uma corrente de miséria para um homem inocente.
E mais
No circuito das plataformas, o sescsp.org.br/cinemaemcasa (com caráter gratuito), exibe até 2 de agosto, um lote de filmes dirigidos por iranianas e que compõem a Mostra de Cinema Israelense. Entre as atrações, a ficção O julgamento de Viviane Amsalem (codirigido por Romi e Schome Elkabetz), que trata de um divórcio sujeito a muita interferência de rabinos, e o documentário Anseio, conduzido pela antropóloga Malka Shabtay, que examina o dia a dia de uma comunidade judaica na Etiópia.
Mostra Supremas animações
Tramas bem desenvolvidas — que tratam de amizade, família, coragem e superação — para públicos de todas as idades, num andamento com humor leve e inteligente. Foi com essas assinaturas, em uma atmosfera visual montada com realismo crível e envolvente, que a Pixar se tornou o único estúdio de animação a ter todos os seus filmes lançados sempre listados nas 10 maiores bilheterias norte-americanas. Montando esse panorama da empresa — disposto na mostra A magia dos pixels: espelhos animados da realidade, em cartaz no CCBB —, um dos curadores da mostra, Fabrício Duque completa: "Os personagens dos filmes da Pixar são carismáticos e cativantes. Eles são frequentemente engraçados, mas também podem ser profundos e vulneráveis".
Com inovações tecnológicas, o estúdio foi pioneiro no uso de técnicas computadorizadas, hoje em dia, popularizadas no meio da animação. Arrecadadores de mais de US$ 14 bilhões nas bilheterias, os sucessos se refletiram em prêmios: 32 indicações a estatuetas do Oscar e a vitória em 11 ocasiões. No CCBB, a amostra de parte deste universo rende, até 20 de agosto, 27 sessões, com ingressos, a R$ 10 e R$ 5 (meia). (RD)
Duas perguntas // Fabrício Duque, curador
Qual o impacto financeiro da Pixar no segmento da animação?
A entrada da Pixar no segmento de animação teve um impacto significativo no setor. Os filmes do estúdio foram os primeiros a demonstrar o potencial do CGI (a computação gráfica) para criar filmes de animação de alta qualidade, e eles ajudaram a popularizar o gênero de animação computadorizada. Os filmes da Pixar têm trazido grandes sucessos financeiros. Toy Story é a franquia de filmes de animação de maior bilheteria de todos os tempos. Em 1995, Toy Story foi o primeiro filme de animação totalmente computadorizado a ser indicado ao Oscar de melhor filme de animação. Cinco anos depois, Toy Story 3 se viu como a primeira animação a arrecadar mais de um bilhão de dólares.
Qual o diferencial da marca Pixar em termos de conteúdo?
As animações da Pixar construíram um império de emoções e sentidos, unindo alta tecnologia de computação gráfica, é a desenvolvedora do software de renderização padrão da indústria, o RenderMan, usado para geração de imagens de realismo fotográfico de alta qualidade. Os filmes da Pixar são caracterizados por seu realismo visual; humor frequentemente leve e inteligente (mas sem deixar de aprofundar temas mais complexos e existencialistas, como a memória afetiva da infância) e histórias que atraem públicos de todas as idades.