Susana Vieira reconhece muitos pontos em comum entre ela e a personagem de Shirley Valentine. Escrito em 1986, o monólogo clássico do dramaturgo Willy Russel traz para a cena uma dona de casa cuja vida é transformada após uma viagem com amigas. A personagem se reinventa e descobre que é possível criar toda uma nova existência a partir da independência e da autonomia.
Susana sobe ao palco do Teatro Royal Tulip, hoje e amanhã, para viver uma Shirley abrasileirada por Miguel Falabella, autor da versão que a atriz encena sob a direção de Tadeu Aguiar. "A Shirley é parecida comigo ou eu fiz ela ficar. Ela vai atrás da felicidade dela. Nós queremos viver", diz Susana, que já levou o espetáculo para São Paulo, Porto Alegre, Goiânia, Belo Horizonte e Portugal. "Eu faço essa peça desde 2016, entro todo dia para ganhar, nunca reclamei, nunca achei a peça isso ou aquilo, fico nervosa, com frio na barriga. Manter essa chama viva é que me interessa. O Miguel aproximou muito o texto de todas nós", conta.
Shirley é uma mulher cansada de não ser vista e entediada com um marido cuja única preocupação é saber o cardápio do jantar. Ela decide então viajar com as amigas e embarca em uma jornada na qual vai refletir sobre os próprios sonhos, a possibilidade de um futuro diferente e a vontade de viver. "Eu queria um texto do Miguel Falabela e ele me deu essa versão, eu amo fazer, é atual, é também sobre o ser humano, é sobre as nossas buscas, a nossa felicidade", garante a atriz, que completou 80 anos. "A Shirley nos mostra que não tem idade para ser feliz e para mudar, o importante é estar ligada na vida", garante.
Com 60 anos de carreira, Susana Vieira sabe que recomeçar sempre é possível, mas que é preciso querer. "É preciso ter coragem, força de vontade, eu amo a vida, digo sim para tudo", diz a atriz, que estreou na televisão em 1962 e fez mais de 60 novelas, incluindo clássicos da teledramaturgia brasileira, como Anjo mau (1976), A sucessora (1978) e Elas por elas (1982).
Qual o maior desafio em encenar um monólogo?
Engraçado, eu não me sinto sozinha, essa peça exige de mim e da plateia, ela vem junto comigo, então acho que o maior desafio é levar eles comigo até o fim, e isso acontece, mas é um desafio diário.
E o que Shirley traz de novidade para a mulher do século 21, um século em que lutas feministas são amplamente discutidas?
Eu, para sair de casa, tinha que casar virgem. Tratei logo de casar e fui atrás das minhas coisas, da minha vida, construí tudo que tenho por meio do meu trabalho, do meu suor, não dependi de homem nenhum, isso desde sempre. Às vezes, me sinto um pouco culpada, porque poderia ter ficado mais com o meu filho, mas eu fui a mãe que consegui ser, sou uma leoa pela minha família e também estou trabalhando a culpa na minha cabeça, porque se não fosse assim, não teria conseguido tudo que consegui . Você acredita que fiz 52 novelas?
Qual a mensagem mais importante desse texto, na tua opinião?
Viver, não desperdiçar a vida, fazer o que tem vontade, claro, sem prejudicar ninguém, caráter é obrigação, mas eu quero ser feliz. Fui fazer yoga outro dia, me informei sobre o budismo, acho que temos que estar atentas à vida.
O que Miguel Falabella traz para a peça?
Tudo. Eu sou da escola do Miguel, o Miguel é um parceiro para a vida. Fizemos muito sucesso com A partilha, ele me conhece muito bem. Colocou o texto na minha boca, do meu jeito, esse é um dos segredos dessa peça. E o diretor, Tadeu, trouxe um pouco da poesia da Shirley, essa mistura junto com a minha entrega tornam essa peça ser o que é.
Como o humor é importante nessa obra?
Humor é tudo, eu sou alegre, debochada, dou risada de tudo e gosto desse humor inteligente, gosto desse humor do Miguel, que tem uma tristeza, uma poesia, você ri, daqui a pouco você está emocionada.
SHIRLEY VALENTINE
- Direção: Tadeu Aguiar.
- Adaptação: Miguel Falabella.
- Com Susana Vieira.
- Hoje, às 20h, e amanhã, às 17h, no Teatro Royal Tulip (SHTN Trecho 1). Ingressos: entre R$ 25 R$ 120, pelo Sympla (www.sympla.com.br)
- Assinantes do Correio têm 50% de desconto no ingresso, pelo Sympla ou na Belini (113 Sul)