Artes cênicas

Fernando Guimarães leva ao palco universo de Gabriel Garcia Marques

Diretor Fernando Guimarães leva para o teatro uma adaptação de Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez

Levar Cem anos de solidão, do colombiano Gabriel García Márquez, para o palco pode ser um trabalho hercúleo, mas também pode se transformar em uma fonte de histórias inesgotáveis. Por isso o diretor Fernando Guimarães decidiu que adaptaria partes do romance em uma sessão de contação de histórias de maneira a acomodar alguns dos personagens mais significativos do livro. Em cartaz até 16 de julho na Galeria de Vidro do Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul, Panapaná, flores e escorpiões é um conjunto de oito histórias que combinam a narrativa e o clima de realismo mágico do romance de García Márquez.

Com dramaturgia criada pelo próprio Fernando e por Adair Oliveira, e com participação especial de Yara de Cunto e Vera Holtz, a peça começa em uma igreja na qual um personagem, Aureliano Buendía, relembra trechos do livro. Na medida em que ele rememora certas passagens, outros personagens vão surgindo. "Eles vão lembrando de alguns personagens. Como nem todos conviveram, eles vão contando sobre outros personagens. O texto é mostrado por meio das lembranças do que ficou. É uma peça de lembranças", explica Guimarães.

Ele conta que já leu Cem anos de solidão cerca de 10 vezes. "É muito incrível a imaginação daquele homem. Eu adoro o universo fantástico. Em função disso, a gente resolveu adaptar. É um trabalho intimista", avisa. Na Galeria de Vidro, que recebe o espetáculo, cabem 40 pessoas dispostas muito próximas ao palco e aos atores, por isso o diretor decidiu trazer os espectadores para o espetáculo. "Tem uma interação com a plateia, porque ela está ao lado, não pode ser ignorada, mas é uma interação voluntária e simpática", diz Guimarães.

Além de Aureliano, a adaptação tem Rebeca, a menina que comia terra; Úrsula, a matriarca que atravessa gerações, vivida por Yara de Cunto, e outros personagens emblemáticos. "O realismo está presente nas histórias e entra na narrativa", avisa o diretor, que situou a história nos anos 1920. Ele destaca que foi muito difícil adaptar o texto, porque a vontade era levar tudo para o palco. Para escolher os personagens a serem representados, Guimarães ouviu o elenco e fez uma lista das figuras preferidas de cada ator. A partir daí, escolheu as histórias. "Eu queria que fossem as histórias mais diferenciadas do nosso cotidiano, que trouxessem esse universo fantástico. Achei que seria interessante manter uma brincadeira meio brechtiana, em que você conversa com o personagem e depois se torna o personagem", explica.

Publicado em 1967, Cem anos de solidão é um dos grandes clássicos da literatura sul-americana e um dos símbolos mais brilhantes do movimento literário conhecido como realismo mágico. A história atravessa um século inteiro ao acompanhar várias gerações da família Buendía-Iguarána, fundadora da mítica cidade de Macondo, cenário da narrativa. Filhos, netos, bisnetos e trinetos do casal fundador passam pelo romance em um emaranhado de personagens que, de certa forma, expõem a complexidade humana forma geral. Aureliano Babilônia, que dá início à peça, é o penúltimo de uma linhagem de Aurelianos que, no livro, são personagens mais intelectualizados e estudiosos, de espírito menos bruto que muitos de seus parentes. "A partir do momento que ele lembra dos personagens eles aparecem e eles mesmos contam a história. Eles fazem a narração de cada personagem e depois fazem o personagem", explica Guimarães.

Resistência

A partir desta quarta-feira (5/7), o Espaço Cultural Renato Russo também recebe a 37ª Mostra Dulcina, com uma seleção de três espetáculos dirigidos por professores da Faculdade Dulcina e encenados pelos alunos de teatro. A ideia veio de Fernando Guimarães, que também é professor da instituição e enxerga na tradicional mostra um ato de resistência. "Com a situação que a gente está no Dulcina pensei em manter viva essa chama. Eu sou um dulcinófilo, fui aluno da Dulcina. Trazer a mostra é um ato de resistência mesmo. Até o final vamos resistir", avisa.

Guimarães também realiza no espaço uma oficina de dramaturgia para ensinar e orientar a transformar um texto literário em um material teatral. A oficina tem um total de 10 vagas e já conta com 25 inscritos. A seleção será feita a partir de uma análise curricular.

Serviço

Panapaná, escorpiões e flores
Direção: Fernando Guimarães. Com Adair Oliveira, Alex Ribeiro, Bete Virgens, Lays Benevides, Logan Dias, Márcia Nardelli, Samuel Escorpiano, Suéllem Araújo, Rafael de Carvalho, Rafael Justus. Participação especial: Yara de Cunto
e Vera Holtz. Hoje, sexta, sábado e domingo, às 20h, na Galeria de Vidro do Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul). Entrada franca, mediante retirada de ingressos um hora antes do espetáculo (sujeito a lotação). Não recomendado para menores de 16 anos

 

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