WC no Beat é Weslley Costa. Natural do Espírito Santo, ele ficou conhecido por trazer o ritmo Trapfunk para a música brasileira, e, inquieto como um artista deve ser, WC trabalha hoje com outro gênero inédito, o Drill funk. Em conversa com o Correio, o produtor falou sobre a carreira, perspectivas futuras e, inclusive, sobre inteligências artificiais, assunto em voga hoje em dia.
Famoso nacionalmente por trabalhar com grandes nomes do rap e do funk brasileiro, como Anitta, Matuê, Ludmilla e Xamã, Weslley Costa começou a ser DJ aos 9 anos. O primeiro "cascalho", como o capixaba mesmo disse, só chegou aos 13. Desde então, WC se torna, a cada dia, um artista consolidado no cenário nacional.
A música
Para quem começou cedo, pode soar estranho pensar que nem sempre a música foi prioridade na vida do produtor. “Antes de sair de casa, com 12 anos, eu já era um moleque que ficava na rua e que fazia os meus corres, além de estudar e fazer esporte”, relata WC. À época, o produtor era atleta de futebol, mas uma lesão grave no joelho o forçou a abandonar a carreira.
A vivência de um jovem que saiu de casa na adolescência o ajudou bastante na carreira, segundo o DJ. Para ele, criar música é “apenas um dos 10 poderes”. “Essa foi uma época de ouro do meu aprendizado, porque querendo ou não, você tem que estar ali. Se você quer ter uma vivência de DJ, se você quer ter uma vivência de artista, você tem que estar na rua”, explica.
Desde a chegada de plataformas de streaming, como o Spotify, em 2011, o mercado musical passou por profundas mudanças. Graças a elas, novos artistas surgem toda semana, sem a necessidade de reprodução da música na rádio e uma matéria no jornal.
“Mudou muito em aspecto de show, de música, de videoclipe e de cenário em geral. Tem muitos artistas que abraçaram mesmo o personagem e vivem ele 24 horas por dia”, afirma WC. “Isso era totalmente diferente há uns cinco ou seis anos atrás. Você via o lado um pouco menos mecanizado do lado artístico da parada e o lado ser humano.”
Com mais espaço para chegar ao “topo”, o difícil é se manter lá. O produtor aponta que, apesar de muitos músicos terem se tornado influencers, quem não se atualizar irá sumir. “A música é ingrata. Essas pessoas que explodem do nada e somem, foi porque não teve a percepção de levar a parada a sério e ter uma equipe ali ajudando”, explica WC. “Não tem mais longevidade de artista. Eu vi artistas de 2 anos atrás que hoje estão sofrendo para fazer acontecer alguma coisa”, relata o capixaba. “Tem que ter constância, por isso que eu faço as minhas coisas acontecerem e todo ano eu faço música.”
Inovação
WC se identifica como uma pessoa muito tecnológica, atenta às mudanças que acontecem no mundo digital. O avanço da autonomia das inteligências artificiais é um risco muito alto, segundo o produtor, mas que, sendo bem utilizado, pode ajudar bastante, principalmente no mundo da música.
“A Inteligência artificial é uma bolha ainda. Ela não é conhecida pelo público, não é igual ao Mickey Mouse ao Snoop Dogg, o Michael Jackson”, pontua o músico. “Eu acredito que daqui a uns 5 anos você vai estar implementado no trabalho e vai poder colocar no seu workflow, e com a música cara vai ser a mesma coisa", complementa.
Por estar envolvido com música há mais de 10 anos, WC no Beat ainda não utilizou a inteligência artificial da forma como está hoje na sua música por pensar que “seria só apenas como um start para algo”. Pensando nos artistas por vir, ele afirma que “a geração dos moleques de hoje em dia que estão com o computador em casa produzindo música está muito mais inteligente que a minha. Essa molecada nova vai usar a inteligência artificial a seu favor dentro da música”.
Uma das principais críticas que pesquisadores e trabalhadores das mais diversas áreas fazem ao investimento em inteligências artificiais é a possibilidade da ferramenta acabar com postos de trabalho, ao invés de facilitar as atividades. A classe musical está presente nessas discussões, principalmente nos setores criativos da indústria, e o Grammy proibiu músicas feitas inteiramente por IA na premiação.
“Hoje, se apertar um botão, a tecnologia vai criar uma mídia de piano que você colocar no seu projeto, e com uma letra que nunca existiu”, afirma Weslley Costa. “É só questão de tempo disso ser mais usado, porque não tem como você não usar uma ferramenta tecnológica que vai te influenciar e te levar para frente.”
Carinho por Brasília
A capital federal foi um dos primeiros lugares que, após o lançamento do álbum de estreia 18K, Weslley Costa se tornou WC no Beat. “Brasília foi um lugar que eu chegava e era surreal. A galera cantava a música toda e eu tinha acabado de lançar o álbum, então dá para perceber que tinha um carinho pelo meu trabalho”, relata. Desde 2018 o artista faz shows em Brasília, e, apesar das críticas pela quantidade de vezes que é chamado, ele relembra que as apresentações sempre lotam.
“Tem gente que reclama, mas tem muito fã de Brasília que gosta muito do meu trabalho, onde eu vou tocar a galera está lá”, afirma WC. “Da última vez que eu toquei em Brasília, teve até uma pessoa que se machucou para entrar em um show”, completa.
O carinho pela cidade faz com que o produtor não descarte a ideia de se mudar para viver na capital, mas a ideia de morar fora deixa esse plano mais distante de ser realizado. “Se eu morasse em Brasília eu criaria uma cena que ficaria muito grande, e até pelo fato de eu ser produtor, é possível criar pessoas do zero, como eu já fiz”, explica WC no Beat.
*Estagiário sob supervisão de Pedro Ibarra