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Jovens da Maré se apresentam em Portugal em clima de emoção

Quase 13 anos depois de fundar a Orquestra do Amanhã, Carlos Eduardo Prazeres levará o grupo para Arouca, cidade onde nasceu o seu pai, Armando Prazeres, sequestrado e assassinado em 1999 na comunidade carioca

Vicente Nunes - Correspondente
postado em 20/07/2023 16:39
O projeto já impactou 3,5 mil meninos e meninas -  (crédito:  Julio Moreira)
O projeto já impactou 3,5 mil meninos e meninas - (crédito: Julio Moreira)

Lisboa — A Orquestra Maré do Amanhã cruzou o Atlântico pela primeira vez com duas missões claras. A primeira, e óbvia, é mostrar todo o seu talento para os portugueses em concertos gratuitos que acontecem em Lisboa, Porto, Sines e Cascais. A segunda, carregada de emoções, remonta a 1999, quando o maestro português Armando Prazeres foi sequestrado e assassinado na comunidade carioca. O grupo de 23 jovens com histórias de tantas lutas pela sobrevivência se apresentará em Arouca, cidade natal do músico. A orquestra foi fundada em 2010 pelo filho de Prazeres, Carlos Eduardo, que encontrou no projeto uma forma de proteger, por meio da música, meninos e meninas do crime organizado.

“Desde que comecei o projeto, levar a orquestra para Arouca sempre foi o meu grande sonho. Será um momento de muita emoção”, afirma Carlos Eduardo. A apresentação está marcada para 30 de julho. Serão dois concertos no mesmo dia. Antes, porém, os jovens farão vários flashmobs por pontos turísticos de Lisboa, do Porto e de Cascais e participarão do Festival Músicas do Mundo, em Sines. O encerramento da turnê se dará com concertos durante a Jornada Mundial da Juventude, que será o maior evento da história de Portugal, com a presença confirmada do Papa Francisco. Espera-se até 1,5 milhão de peregrinos.

“Estou tentando muito conseguir chegar até o Papa Francisco, mas está difícil. Como sou um homem de muita fé, não vou desistir. Gostaria que ele abençoasse os meninos”, ressalta Carlos Eduardo, que não esconde o orgulho do que se transformou a Orquestra Maré do Amanhã.

O projeto, que começou tímido, com apenas 26 alunos, quase 13 anos depois, já impactou 3,5 mil meninos e meninas, atendendo a todas as crianças matriculadas nas escolas da comunidade, desde a creche. Ele conta que, durante esse processo, são identificados os talentos e as vocações genuínas. Os escolhidos são convidados a integrar o braço profissionalizante do projeto: a Camerata Jovem Maré do Amanhã.

Os alunos recebem, então, um auxílio financeiro no valor de um salário mínimo (R$ 1.320, ou cerca de 240 euros), bolsas de estudo em escolas privadas, aulas particulares de seus instrumentos e atendimento psicossocial. Mais: são capacitados como professores e repassam o conhecimento aos novos participantes das orquestras mirins, multiplicando o que aprenderam. O trabalho desenvolvido pela orquestra é tão relevante, que ela foi considerada Patrimônio Imaterial do Rio de Janeiro neste ano. Não só: a orquestra criada por Carlos Eduardo Prazeres também fincou raízes no Pará, onde atua em uma cidade ribeirinha e em uma comunidade quilombola.

Para aqueles que terão o prazer de ouvir jovens tão talentosos, foi preparado um repertório bastante variado, que vai de músicas clássicas a Anitta, cantora com a qual a orquestra se apresentou no Réveillon do Rio de Janeiro, em 2017, para 2,5 milhões de pessoas, e de Guns n’Roses aos Beatles. Sempre, claro, com surpresas que encantam o público e que garantiram, por três vezes, o Prêmio Profissionais da Música.

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