Metal pesado

Velho, grande nome do metal brasileiro, toca no Zepelim no fim de semana

Baal, músico de Brasília que divide o palco com o grupo carioca, conta ao Correio sobre o show, sua trajetória na música e as transformações sofridas pelo gênero nos últimos anos

*Franco C. Dantas
postado em 07/07/2023 18:05 / atualizado em 07/07/2023 18:06
 (crédito: Spirit of Metal/Reprodução)
(crédito: Spirit of Metal/Reprodução)

Quando se fala sobre black metal na América Latina, Velho é quase sempre um dos primeiros nomes a ser citado. Criada no Rio de Janeiro, em 2009, a banda coleciona elogios por parte da crítica especializada e cultiva uma sonoridade sólida e direta, sem preciosismos ou ornamentações excessivas. Neste sábado (8/7), o conjunto se apresenta em Brasília pela primeira vez desde o arrefecimento da pandemia, no reinaugurado Bar Zepelim (713 Norte), às 20h, e promete matar a saudade da cena underground candanga, com a qual criou laços íntimos com o tempo.

Com uma discografia marcada por clássicos como Vida longa ao primitivo e Decrepitude e sabedoria, Velho expõe temas filosóficos e existenciais nas músicas, com uma perspectiva que busca desafiar dogmas religiosos a partir de recursos mórbidos e macabros. Além do grupo carioca, outras três bandas com som orientado à música extrema tocam na apresentação: Nightmare Slaughter, que lançou na quarta-feira (5/7) o LP The mother of abortions; Uncouth, que lança nesse show o disco Thorns of vengeance; e Vultos Vociferos, uma das principais representantes do black metal na cidade. O show também marca a volta do Sessions, tradicional evento musical que ficou interrompido por conta da pandemia, prévia do festival Festa dos Dinossauros.

Baal é um músico de Brasília que toca no Vultos e no Uncouth, além de contribuir com o Velho, substituindo temporariamente o baixista original, Rafael Lopes. “Gravei um disco com eles (Velho) e toco de vez em quando porque são muito meus amigos”, explica. “Nesse show mesmo, não irei tocar com eles, porque três bandas na mesma noite eu não dou conta. A idade tá pesando”, brinca.

É Baal quem conta um pouco mais para o Correio sobre o show, sua experiência com o universo artístico do metal e as transformações sentidas por ele desde que passou a se envolver com o gênero.

Uncouth repagina o death metal old school dos anos 1990.
Uncouth repagina o death metal old school dos anos 1990. (foto: Baal/Acervo Pessoal)
 


Entrevista // Baal


Como se iniciou sua trajetória artística?
Minha primeira banda em Brasília foi a Bizarre Kings, em meados de 2003, se não me engano. Aprendi muito com o outro guitarrista, o Sinval, pois era muito experiente e tocava muito. Em 2005, entrei para a Vultos Vociferos, já na ativa desde 1999 dividindo alguns integrantes com outra banda da cidade, o Miasthenia. Naquele ano, o guitarrista permaneceu com o Miasthenia e eu assumi o instrumento no seu lugar. Gravamos três trabalhos desde então, todos disponibilizados no mês passado nas plataformas de streaming, até a demo, que tinha sido lançada apenas em fita cassete.

E com o Uncouth?
Em 2012, juntamente com o Marcelo, na época tocando na Eminent Shadow, montamos o Uncouth, mais voltado para o death metal old school, com influências de bandas mais antigas e tradicionais dos anos 1990. Fizemos alguns sons, ensaiamos e resolvemos tocar o projeto para frente chamando o João (Nauseous Surgery e Vultos Vociferos) e o Rafael Rato (Human Atrocity) para se juntar à banda. A mistura de diferentes influências deixou o som bem peculiar. Chegamos a tocar em Campo Grande (MS), em 2014, e em 2022, resolvemos gravar os sons. Gravamos a bateria em estúdio e o restante da produção eu mesmo fiz em casa, editando, mixando e masterizando. Contamos com a minha filha, Juliana Ferraz, para fazer a arte da capa do disco e as fotos foram da BlackLens (Kátia). Inclusive, este CD, intitulado como Thorns of vengeance, será lançado no dia do show, e estará à venda para os interessados.

Como têm se dado suas participações no Velho?
O Velho foi apenas uma experiência de tocar com meus irmãos lá do RJ para substituir o baixista oficial, Rafael. Acabamos gravando um ensaio juntos durante as minhas andanças lá no Albergue do Rock (residência do baterista do Velho, o Thiago Splatter) em um estúdio lá no centro do RJ. E ficou muito bom! Acredito que o pessoal do Velho trará esse CD que gravamos juntos para quem estiver interessado lá no dia do show. O Velho é um fenômeno nacional. Os sons são muito bem bolados e cantados em português com letras muito inteligentes. Vale a pena conferir.

Como estão as expectativas para essa apresentação?
Esse show tem tudo para dar certo. A Qualééé Produções, encabeçada pelo FIB, já é uma produtora bem experiente, com vários eventos no currículo e está fazendo uma divulgação fantástica. Todas as bandas que tocarão no dia são de irmãos que se conhecem há muitos anos e sabem fazer o som que se propõe: som extremo e underground com qualidade. Será uma grande noite de celebração e algumas surpresas preparadas pelas bandas.

O que te atrai no metal extremo?
O público do metal extremo, no geral, é formado por jovens e adultos com perfis questionadores, que não se encaixam nas regras e dogmas que são empurradas goela abaixo das crianças desde cedo, ditando como ser uma pessoa normal e aceita nos padrões ridículos que a sociedade e a igreja nos oferecem. É uma luta eterna e diária, porque as pessoas tomam rumos na vida que terão que se deparar com as escolhas feitas no trabalho, casamento, diversão etc. Quem decide permanecer com essa postura, já sabe que vai enfrentar algum tipo de preconceito em algum momento da vida por essa escolha. Poucos permanecem, mas a grande maioria cede ao lado mais fácil para ser aceito nos padrões da sociedade. Voltando à pergunta, o que me atrai no metal extremo é conseguir permanecer com essa escolha que fiz há mais de 30 anos, enfrentando essas regrinhas da sociedade e conseguindo ser bem sucedido em tudo que me propus a fazer, sem ter que desistir de nada e nem depender de ninguém.

Como você enxerga as transformações no black metal desde que conheceu o gênero até hoje?
O black metal é um estilo que foi feito pra chocar, desde o seu início. As gerações vão adaptando conforme suas realidades. É difícil dizer o que é certo ou errado hoje em dia. Com o acesso à informação em tempo real para todos, disponibilidade de uma infinidade de opções de estilos dentro do próprio black metal, algumas coisas ficaram estranhas. O que era legal para o pessoal da minha idade, quando não tínhamos algumas facilidades de hoje, já não é tão legal atualmente para alguns jovens. Nós, como velhos chatos que somos, mantemos a nossa música o mais ofensiva e chocante, tanto nas letras, como no visual. Tudo é questão de escolhas e vivências particulares. Não ditamos regras mas também não aceitamos algumas coisas novas que estão aparecendo. Fica cada um no seu quadrado.

Serviço

Sessions XI
Bar Zepelim (713 Norte). Sábado (8/7), a partir das 20h. Ingressos a R$ 35 na hora. Não recomendado para menores de 16 anos.

*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel

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