Obituário

Zé Celso Martinez Corrêa morre, aos 86 anos, em São Paulo

O dramaturgo estava internado em estado grave após um incêndio no apartamento em que morava

Cecília Sóter
postado em 06/07/2023 09:43 / atualizado em 06/07/2023 10:18
 (crédito: Garapa - Coletivo Multimídia (garapa.org/).)
(crédito: Garapa - Coletivo Multimídia (garapa.org/).)

Morreu nesta quinta-feira (6/7) o dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa, aos 86 anos, em São Paulo. Ele estava internado desde terça-feira (4/7), após sofrer queimaduras causadas por um incêndio no apartamento em que morava, em Paraíso (SP).

Zé Celso dormia quando o incêndio começou — a suspeita é de que um problema no aquecedor do apartamento teria desencadeado o fogo. Ele foi socorrido pelo marido e, posteriormente, foi levado ao hospital por uma ambulância. Lá, foi intubado imediatamente por estar em estado grave — 53% do corpo do dramaturgo foi queimado pelas chamas. 

Além de Zé Celso, estavam também no apartamento Marcelo Drummond, marido do dramaturgo, Victor Cor-De-Rosa e Ricardo Bittencourt, amigos do casal. Eles não sofreram queimaduras graves, mas seguem em observação no hospital.

Zé Celso: oito décadas de revolução

José Celso Martinez Corrêa nasceu em 30 de maço de 1937, em Araraquara. Iniciou a carreira na década de 1950, mas foi na década de 1960 que desenvolveu a marca de seu trabalho quando liderou o Teatro Oficina, grupo formado quando integrava o Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Dirigiu, adaptou e colaborou com nomes que vão de Augusto Boal, Henriette Morineau, Fernanda Montenegro, Sérgio Britto, Raul Cortez, Bete Coelho e Flávio Império a Chico Buarque, William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Max Frisch, Bertolt Brecht e Máximo Gorki.

Em 1974, enfrentou problemas com a censura e partiu para o exílio em Portugal, onde criou o grupo Oficina-Samba. Na época, realizou dois documentários: O parto, sobre a Revolução dos Cravos, e Vinte e cinco, sobre a independência de Moçambique. Voltou para São Paulo em 1978 e criou um movimento para manter aberto o Teatro Oficina, que ele rebatizou de Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, tombado em 1982 e reinaugurado em 1983.

Era um grande crítico de Jair Bolsonaro. Em entrevista ao Brasil de Fato, em 2019, ele chamou o governo do ex-presidente de "imbecil".

"Não é um governo de direita moderna, mas de direita arcaica. Botar a embaixada em Jerusalém, esse alinhamento com Trump, que está para ter um impeachment... É um governo imbecil, desde o primeiro momento, até a posse, antes da posse, tudo. Eles estão fazendo uma coisa totalmente fora de época, essa coisa de globalismo marxista. Não têm a menor ideia do que é Marx", declarou na época.

O dramaturgo comentou também sobre a extinção do Ministério da Cultura, no governo Bolsonaro, criado em 1985 pelo governo de José Sarney: "Acho que não é uma questão de pedir a esse governo um ministro da Cultura, porque eles vão colocar um idiota qualquer. Porque eles são imbecis."

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