Música

Projeto de Mahmundi, Carol Biazin e Bryan Behr homenageia Cazuza

Projeto une Mahmundi, Carol Biazin e Bryan Behr para o lançamento de quatro canções reinterpretadas em homenagem a Cazuza

Giovanna Kunz*
postado em 17/07/2023 10:14 / atualizado em 17/07/2023 10:52
Mahmundi, 
Carol Biazin e Bryan Behr cantam em homenagem 
ao Cazuza -  (crédito:  Carolina Vianna/Divulgação)
Mahmundi, Carol Biazin e Bryan Behr cantam em homenagem ao Cazuza - (crédito: Carolina Vianna/Divulgação)

Existem artistas no Brasil que despertam nos brasileiros o orgulho de ter nascido no país. Cazuza está entre esses ícones. Ao longo da vertiginosa trajetória, o cantor se mostrou provocante, rebelde e intenso. Em homenagem ao artista, que completaria 65 anos este ano, Mahmundi, Carol Biazin e Bryan Behr se unem e lançam Exagerados, tributo com releituras de quatro clássicos do cantor somados às interpretações e contribuições de cada um para as músicas.

Com autenticidade, Cazuza deixou como herança para a cultura brasileira as composições provocativas e a personalidade rebelde, que transcendem gerações e influenciam artistas, como Carol Biazin, Mahmundi e Bryan Behr até hoje. Os três jovens estão no início da carreira e essa oportunidade abre espaço para eles colocarem a própria identidade e renovar clássicos da MPB. O tributo cria uma ligação entre o cantor e as novas gerações da música popular brasileira. "Toda vez que existe uma homenagem ao meu filho, é mais uma prova de que ele foi imortal na obra dele", ressalta Lucinha Araújo, mãe de Cazuza.

Os cantores escolheram as composições que mais gostam para gravar e adicionar elementos da atualidade e conectar, ainda mais, as canções com o público jovem. Mahmundi interpretou Faz parte do meu show, Carol Biazin escolheu Codinome beija-flor, Bryan Behr optou por Pro dia nascer feliz e os três gravaram Exagerado. "Eu fico boba de ver eles cantando Cazuza. Ele já morreu há 33 anos, mas eu acho que tudo que é bom dura muito", define Lucinha.

O artista

A carreira de Cazuza começou no início dos anos 1980, quando integrou a banda Barão Vermelho, que se popularizou desde o álbum de estreia com os sucessos Bete Balanço e Pro Dia Nascer Feliz. Desde então, o vocalista ganhou destaque pelas composições e, logo, seguiu carreira solo.

O primeiro álbum solo não deixou a desejar. Autointitulado Exagerado, ele criou canções clássicas como Codinome Beija-Flor e Maior abandonado, que demonstram a intensidade das composições do cantor. Além das letras, Cazuza trazia a emoção para as apresentações com performances teatrais no palco, que mostravam o artista completo que ele era.

A carreira de Cazuza foi interrompida em 1990, quando morreu por conta da Aids. No entanto, a morte precipitada não o impediu de deixar obras grandiosas nos oito anos de trajetória. Após Exagerado, ele lançou outros quatro álbuns — Só se for a dois, Ideologia, O tempo não para e Burguesia — que falaram sobre amor, política, liberdade e, até mesmo, sobre sua luta contra a Aids.

Os últimos quatro álbuns foram gravados depois do diagnóstico da doença, dado em 1987. Dessa forma, é possível observar a diferença entre as letras anteriores. "Ele cantou as dores e amores da vida dele, mas quando  se descobriu soropositivo, ele passou a cantar o país dele. O Brasil estava atravessando uma fase muito difícil", explica Lucinha.

Na época, muitos artistas estavam sofrendo com a doença, mas o que difere Cazuza dos outros é que ele não apenas continuou a compor e se apresentar com a saúde debilitada, mas deixou um legado de coragem por ter falado abertamente sobre a comorbidade em uma época que existia mais preconceito e todos procuravam esconder. Os legados que o músico deixou para a sociedade mostram que a sua genialidade estava para além da arte. "Nós passamos cinco anos de horror com ele se tratando e se mostrando para o Brasil todo. Ele foi muito corajoso. Ele dizia que um homem que canta 'Brasil, mostra sua cara', não pode esconder a sua em um momento como esse e que as pessoas nunca mais acreditariam no que ele falasse".

Instituto Viva Cazuza

Após a perda do filho, a mãe de Cazuza fundou o Instituto Viva Cazuza para dar assistência a crianças e adolescentes soropositivos e colaborar com o combate à disseminação do vírus. O instituto ofereceu tratamento médico, assistência social, suporte psicológico e também teve a iniciativa de criar a Casa de Apoio à Criança, que proporcionou moradia e alimento às crianças diagnosticadas, no Rio de Janeiro.

O trabalho de Lucinha Araújo é de extrema importância para a luta contra a AIds, ela viveu de perto as tragédias que a doença causa e promove o acesso ao tratamento adequado e acolhimento para os jovens. Desde a fundação, o instituto cuidou de 328 crianças portadoras do vírus HIV, mas fechou as portas no fim do ano de 2020.

Além do apoio às crianças, a organização também oferecia remédios e cestas básicas para adultos soropositivos, mas Lucinha continuou com essa ação. "Abri a Sociedade Viva Cazuza, em memória dele, para crianças que nasciam soropositivas, porque eu não ia ter coragem de trabalhar com adultos. E, há dois anos, eu achei que a minha missão com crianças já estava cumprida porque eu tinha vaga para 35 crianças e só uma era soropositiva. No entanto, eu tratava de 250 adultos que não moravam lá e, até hoje, forneço cesta básica, remédios, refeições e conselhos às vezes", explica Lucinha Araújo.

A organização recebeu o apoio de muitos artistas, entre eles estava Renato Russo, que morreu de AIDS cinco anos depois de Cazuza. "Renato ia me visitar lá na Sociedade Viva Cazuza para conhecer as crianças. Toda vez que ele ia, ele me dava um cheque, mas nunca confessou que era HIV para mim, nunca desabafou", conta Lucinha. Além dos cheques, Renato Russo deixou uma caixa de CDs que ele gravou em italiano, antes de morrer, para Lucinha fazer uma rifa e ajudar as crianças. "Fiz como ele mandou e foi uma coisa muito bonita", adiciona ela.

Lucinha não esconde a admiração por Renato Russo e aponta semelhanças entre ele e o filho. "O Renato era maravilhoso também, só que eles tinham uma diferença, o Renato era geneticamente triste e o Cazuza era geneticamente alegre", destaca.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

 


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