livros

Origem do combate ao racismo é tema de pesquisa lançada em livro

'Guerra fria e o Brasil: Para a agenda de integração do negro na sociedade de classes', de Elizabeth Cancelli, Gustavo Mesquita e Wanderson Chaves, será lançado nesta quinta (22/6) no Sebinho

O impacto da agenda de combate ao racismo na sociedade norte-americana do pós-guerra e sua repercussão nas pesquisas desenvolvidas no Brasil são os temas de Guerra fria e o Brasil: Para a agenda de integração do negro na sociedade de classes. Assinado pelos pesquisadores e historiadores Elizabeth Cancelli, Gustavo Mesquita e Wanderson Chaves, o livro investiga, sob a perspectiva das ciências sociais, as origens e o desenvolvimento da agenda antirracista especialmente nos anos 1950, 1960 e 1970.

Segundo Elizabeth, o livro não é uma coletânea de textos e sim o fruto de uma pesquisa comum. "O livro trata do envolvimento das fundações, dos estudos e da formação dos cientistas, e traz uma perspectiva que mostra como o ponto de vista dessa agenda internacional de integração, as teses na escola de sociologia da USP e o trabalho de Gilberto Freyre não eram, como se pensa, tão conflitantes", avisa a pesquisadora. "Elas vinham ao encontro de um pensamento, de uma necessidade do que os americanos acabaram dizendo que seria o grande dilema do pós-guerra, o dilema da integração e o fim da segregação."

Com lançamento marcado para hoje, às 17h, no Sebinho, o estudo também faz uma avaliação da formação dos pesquisadores que trabalharam com o tema no Brasil. "O título é uma alusão a Florestan Fernandes, que formou uma série de pessoas e intelectuais que fizeram parte dessa rede, que não é só nacional mas internacional, de uma agenda para esse esforço de integração do negro", explica Elizabeth. Ela lembra que, desde a abolição, não houve políticas de integração dos negros à sociedade. Os ex-escravizados permaneceram marginalizados, o que alimentou um racismo estrutural na sociedade brasileira.

O esforço de pensar em uma agenda do combate ao racismo se deu no pós-guerra sobretudo como uma reação a uma das maiores tragédias do século 20, nascida da discriminação racial e representada pela perseguição aos judeus. "Esse esforço foi importante para os Estados Unidos e para a Unesco, assim como para as fundações norte-americanas, que influíram nessa agenda definindo qual era a agenda como seria e por quê." A partir daí, segundo Elizabeth, houve toda uma concepção de agenda para inserção do negro no mundo capitalista, no mercado de trabalho e na sociedade de classes. "As políticas afirmativas são uma consequência dessa agenda. Havia outras propostas de solução dos conflitos, mas a grande proposta vencedora é essa, uma proposta liberal, afinada com o partido democrata. A gente estuda como isso se deu, como as propostas foram promovidas", diz a pesquisadora, que também participa de debate sobre o tema, hoje, às 14h, na Universidade de Brasília (UnB).


Guerra fria e o Brasil: Para a agenda de integração do negro na sociedade de classes

De Elizabeth Cancelli, Gustavo Mesquita e Wanderson Chaves. Editora Alameda, 269 páginas. R$ 62

Saiba Mais