Cinema

Diretor Claudio Borelli fala sobre 'Urubus' em entrevista ao Correio

.Diretor do filme 'Urubus', Claudio Borelli lembra que, entre outras coisas, o longa fala do amor e suas consequências

Diretor do longa Urubus, que recentemente entrou em cartaz, Claudio Borrelli não segreda uma das facetas do filme, cuja produção executiva coube a Fernando Meirelles (de Cidade de Deus): "Amor sublime amor, Romeu e Julieta, Avatar, e até Titanic, assim como Urubus, contam uma história mais velha que o mundo: o amor entre os diferentes, as mudanças de olhar trazidas por esse amor, e as consequências dele". Com imersão numa realidade paulistana periférica — apoiada no cotidiano de jovens pichadores —, o roteiro confronta (e complementa) o dia a dia da quebrada com os interesses da estudante de artes Valéria (Bella Camero), saída de Brasília, depois da morte da mãe.

Recentes atos na capital do país, por sinal, trazem a ferrenha crítica do cineasta, quando se ousa um paralelo entre o quebra-quebra da invasão à Esplanada e atos de jovens manifestantes que, em 2008, na 28ª Bienal de São Paulo, criaram parte da pólvora do roteiro de Urubus. "No caso de São Paulo, estamos falando de jovens periféricos, com ânsia de expressão e visibilidade, ocupando um lugar vazio, num espaço que lhes é negado, na tentativa de sair das sombras. Nada (em 2008) foi destruído. Já o 8 de janeiro foi, antes de mais nada, um ato antidemocrático, uma tentativa de golpe pela violência, protagonizado por pessoas de classe média e alta, buscando colocar um país inteiro de volta nas sombras. Tudo foi destruído", avalia Claudio Borrelli.

Ao lado de Gustavo Garcez, que encara o protagonista Trinchas, estão pichadores como Bruno Santaella, Roberto Orlando e Matias Antônio, isso além de outro respaldo de talento ter sido gerido nas ruas: o corroteirista Cripta Djan, que trabalhou ao lado de Mercedes Gameiro e de Borrelli. Urubus, como defende o diretor, retrata a realidade da cena da pichação da forma mais fiel e honesta possível, no inventivo terreno da ficção. "Seja nas escaladas, seja na violência policial, nas festas, ou na relação com a comunidade, e, até mesmo o romance entre Trinchas e Valéria, e que foi inspirado nos vários casos de amor que acontecem entre estudantes de arte e pichadores, nós tivemos o cuidado de não enfeitar o bolo", reforça Borrelli.

De tópicos como incitação a crime ao apreço por uma estética particular (ligada ao picho), Urubus não poupa na cartela de emoções remexidas pela trama. "A pichação por si só é a expressão pelo ódio — "me odeie mas me veja". O vitimismo não tem lugar no movimento. E o papel do filme não é imprimir opinião. Apenas retratar a "contravenção" como ela é. Mas, veja bem, há uma grande diferença entre vitimizar e humanizar. Talvez o filme tenha humanizado o contraventor", enfatiza o diretor, capaz de arrebatar a atenção dos mais variados espectadores, entre os quais o hollywoodiano Matt Dillon, que, ao entregar um prêmio (de melhor filme), na Itália cravou: "Urubus leva o espectador para um mundo ao qual, normalmente, não teria qualquer tipo de acesso". "Nós usamos, a exemplo do tema, todos os artifícios que o cinema pode oferecer (para atrair ampla gama de espectadores). As pessoas envolvidas com o tema querem se ver representadas na tela. Já as pessoas curiosas se aproximam", conclui.

 

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