Música

Coruja BC1 reencontra o rap em novo EP, ‘Versão brasileira vol.1’

O rapper paulista imprime a própria personalidade como conceito das novas músicas lançadas nesta quinta (15/6) nas plataformas digitais

Pedro Ibarra
postado em 16/06/2023 11:24
 (crédito: Gabriel Florêncio/Divulgação)
(crédito: Gabriel Florêncio/Divulgação)

Um passeio por São Paulo e pela essência do eu rapper é a base do EP Versão brasileira vol.1, novo trabalho do artista Coruja BC1. O músico aproveita os recém completos 10 anos de carreira para voltar a fazer o que gosta sem as amarras do conceito na própria música.

O disco varia entre as referências que fizeram BC1 amar o rap e a forma como ele se enxerga dentro do movimento. “Eu queria trazer a essência que me fez amar o rap, ser apaixonado por isso. Quis trazer a estética dos raps sujos e dos proibidões. A intenção é buscar a sofisticação no sujo”, explica o cantor. Ele explica o sujo como o som que nem sempre é visto como bonito, mas que para ele tem uma beleza única. “Que seja um som sujo e de rua, mas não perca a sofisticação, o encanto e a beleza”, completa.

O EP tem nove faixas que vão do funk ao rap quase norte-americano. A intenção sempre foi brincar com tudo que era capaz. “Eu parei de pensar o que as pessoas iam achar, independente do fulano ou da crítica”, conta o artista. “Eu quero achar como eu me sinto bem fazendo rap, quero voltar a sentir o calor que eu sentia. Quero impactar as pessoas, que elas voltem a pular da cadeira. Antes disso tudo, eu quero estar feliz”, acrescenta Coruja.

Para se reencontrar, nada melhor do que voltar para o lugar onde tudo começou: Osasco, São Paulo. “As pessoas precisam fechar o olho e sentir que estão dando um rolê em Osasco, elas precisam se ver no calçadão, no padroeiro, no baile das casinhas e no morro do sabão”, acredita o rapper, que atribui a própria versão brasileira à região em que cresceu. “Eu quero encontrar a minha brasilidade e São Paulo dentro dos ritmos que eu escuto”, pontua.

Para Coruja, esse é o momento de olhar para dentro e encontrar o melhor de si e, consequentemente, da música em que está inserido. Conversar com as raízes, segundo ele, é uma estrada nesse contexto. “Existe uma beleza brasileira, uma essência pouco mostrada na música urbana nacional. A galera fica olhando para Compton, mas não entende o Capão ou a cidade de Tiradentes”, comenta. “Eu queria que esse disco mostrasse que eu sou brasileiro e, mais importante, que eu vim de Osasco”, complementa.

É um movimento de fazer as pazes com o menino que ficou enterrado nas burocracias e pressões da vida após “dar certo”. “Eu já aconteci de uma forma grande no passado. Contudo, eu vim de um berço de muita cobrança e responsabilidade para cima de mim. Eu fui criado no movimento negro e hip-hop, sempre apostaram muito no meu sucesso” lembra. “Eu não conseguia curtir meu momento. Eu costumo dizer que hoje vivo muito melhor do que naquela época”, adiciona.

A pressão pelo sucesso já não é um problema. BC1 não é uma promessa, é uma realidade e quer manter por perto aqueles que o levaram onde queria chegar. “Completei 10 anos de carreira, vi muita gente chegar muito brabo e ainda assim ir embora. Isso é uma pressão danada, eu vivo disso, pago contas, tenho família que eu ajudo com essa parada que eu faço”, diz o artista que prefere se prender sempre a quem lhe é fiel. “O mercado da música tem a situação do copo de plástico e copo de vidro. Em uma festa grande, as bebidas são servidas no copo de plástico, em que as pessoas bebem e descartam. Copo de vidro são servidos para poucos, mais fiéis e que sempre vão visitar a sua casa. Eu quero ser um artista copo de vidro”, continua. “Acho que não é errado ser copo de plástico, é uma questão de bancar as escolhas. No entanto, eu busquei ser copo de vidro, encontrei um público fiel, que me acompanha e cresce em idade comigo. Não é um público de massa, às vezes eu até o encontro, mas essa não é a intenção”, conclui.

No EP Versão brasileira vol.1, Coruja BC1 procura fazer a música que o arrepia e se encontrar com o calor do público que não parecia mais sentir. “É rap feito para o motoboy, para os moleques que estão no corre, para os trabalhadores CLT, para quem quer curtir um baile ou só espairecer. Queria estar perto dessa galera”, garante o cantor, que não esperava que essa liberdade o faria chegar tão longe. “Esse EP é o meu álbum mais político, porque ele está liberto e é muito real”, crava o artista, que ainda explica como chegou a esta conclusão. “Cada álbum meu retrata a forma como vejo o país e o retrato da sociedade. Isso é importante para mim, são como fotografias sonoras do meu tempo”.

Feito para se encontrar, o EP encontrou o que faltava. O carinho do público mostrou a Coruja que, mesmo 10 anos depois, o sonho ainda está vivo e o caminho, agora encurtado pelo trajeto que já foi caminhado, é para conquistar algo ainda maior. “O trabalho me fez me reconectar comigo e com as pessoas”, confessa.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação