O samba é um gênero do povo, que desceu os morros e os lugares marginalizados e conquistou o Brasil. Este caminho é muito semelhante a de um outro gênero que é um dos mais escutados do mundo atualmente: o rap. Uma mistura entre os dois gêneros é a proposta de Marcelo D2 para o novo disco IBORU, lançado nesta quarta em todas as plataformas de streaming.
O disco tem 16 faixas que variam de um samba com traços das raízes do gênero, mas em certo momento se mesclam com as batidas de Dj clássicas do hip-hop em um retrato do que é D2. O artista é criado no samba, mas cresceu no rap. Porém, conquistou um público justamente pela capacidade de transitar entre gêneros. Quando se pensa no músico, se pensa em rap, rock e agora, mais do que nunca, samba.
A novidade não está necessariamente em Marcelo cantar samba, está nele abraçar de vez o samba como uma linha principal da própria música. Ele já havia tocado com Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Mart’nália, mas este é o primeiro álbum que ele mergulha de cabeça nas composições que envolvem uma essência de D2 que quem o acompanhava já conhecia. “Eu só morro quando meu samba morrer”, canta o artista na quinta faixa, Só quando meu samba morrer, que é talvez um dos momentos mais lindos e “sambísticos” do interessante novo álbum.
Ao mesmo tempo que o cantor se joga no ritmo que tem a cara do Brasil, ele faz uma ode ao samba e a todos nele envolvidos. Desde as participações especiais de Zeca Pagodinho, Xande de Pilares, Mumuzinho e Alcione, passando por samples dos compositores de samba-enredo samples de Romildo e Monarco chegando a composições que passam por todos os cantos do samba. Moacyr Luz, Diogo Nogueira, Marcelinho Moreira, João Martins, Inácio Rios, Arlindinho e Marcio Alexandre, além dos próprios Zeca Pagodinho e Xande de Pilares. Duas outras participações muito especiais chamam atenção na lista de músicas. Luiz Antonio Simas, a banda Metá Metá, os parceiros de Planet Hemp BNegão e Pedro Garcia e o ícone Mateus Aleluia.
Tematicamente é um disco que fala tanto do músico quanto do mundo, passa uma impressão de respiro após um tempo sombrio e pesado muito criticado por Marcelo D2. Um trabalho que destoa dos passados sem que D2 esqueça de onde veio e, ao mesmo tempo, dá um passo à frente para um futuro muito mais próspero. Um alívio para o rapper se tornou um belo samba para o público.
Livremente traduzida do Iorubá a palavra IBORU significa “que sejam ouvidas nossas súplicas”. É um privilégio pensar que, como público, é possível ouvir esses pedidos de Marcelo D2 em formato de 16 faixas de samba. Ainda mais bonito é ver que algumas dessas súplicas já foram ouvidas e IBORU chega em um Brasil melhor.
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