Música

Turnê de 40 anos dos Titãs chega a Brasília na quarta-feira (7/6)

Arnaldo Antunes fala sobre o show de reunião da banda com a formação que conquistou o Brasil nos anos 1980 e chega a Brasília nesta quarta-feira (7/6)

Pedro Ibarra
postado em 06/06/2023 10:48 / atualizado em 06/06/2023 10:59
 (crédito: Bob Wolfenson/Divulgação)
(crédito: Bob Wolfenson/Divulgação)

Há pouco mais de 40 anos, alguns jovens paulistas criavam uma banda para tocar nos intervalos no pátio do colégio Equipe em São Paulo. Arnaldo Antunes, Branco Mello, Marcelo Fromer, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto, Tony Bellotto, Ciro Pessoa e André Jung queriam falar sobre o que estavam descontentes, queriam usar a música para se expressar logo após uma longa ditadura. O nome escolhido pelos então jovens foi um tanto quanto ousado, mas atualmente ganhou um tom premonitório: a partir de 1982, eles eram os Titãs.

Com o passar do tempo esses jovens foram marcando os próprios nomes na história do Brasil. A banda, com muitas pessoas, foi se alterando também. Jung saiu e deu lugar para Charles Gavin; Ciro Pessoa, morto em 2020, saiu em 1984, antes de se tornarem grandes ícones nacionais; Marcelo Fromer morreu em 2001, quando a banda já era imensa no cenário musical do país. Com o tempo, nomes como Arnaldo Antunes, Nando Reis, Charles Gavin e Paulo Miklos também saíram, mas continuaram amigos e se relacionando com os amigos de colégio e de banda com quem conquistaram o Brasil.

Arnaldo, Branco, Charles, Nando, Paulo, Sérgio e Tony, portanto, são os remanescentes dos Titãs originais e juntos chegam, nesta quarta-feira (7/6), a Brasília para uma apresentação especial no Arena BRB, no Mané Garrincha. "É um reencontro muito feliz por conta dessa amizade que vem dos tempos de colégio. A gente na verdade misturou tudo, trabalho, amizade, parcerias e criação", pondera Arnaldo Antunes em entrevista ao Correio.

O show que chega a cidade é uma ode a toda relevância que a banda teve no período entre os anos 1980 e 1990, antes da saída de vários integrantes. "É um repertório da época em que estávamos todos na banda. Escolhemos as coisas que realmente são sucessos, para todo mundo cantar junto. Para ser uma celebração conjunta", adianta o cantor e poeta que volta mais de 30 anos após ter se despedido do amigos. "Vai ser uma festa. A emoção não é só a gente estar de novo junto no palco, é  ver todo mundo cantando junto. Esse tipo de show é para isso, lavar a alma de todos nós", complementa.

Arnaldo comemora poder voltar a viver os sonhos de adolescência. "Para gente, é uma felicidade grande, é um reencontro entre nós e os fãs, mas também entre nós mesmos, com a maturidade de sexagenários. Vamos rever um período feliz e intenso da nossa juventude", reflete o artista. "O que já veio de lembranças desde o primeiro encontro foi muita coisa. São emoções e sensações desse período de juventude, é inevitável. Está tudo no ar para nós. Voltam as piadas, a diversão, o espírito de turma e a amizade de nós adolescentes", conta Arnaldo. "Está sendo emocionalmente muito intenso esse reencontro", adiciona.

Apesar de mais velhos, em momento nenhum o avançar da idade desiludiu os integrantes da banda. "Há uma sede da juventude que a gente tenta manter viva, queremos ter ainda esse impulso vital. Algo que continue conosco", acredita Antunes. "Acredito que todos esses anos, a carreira e todas as experiências são transformadas em riqueza. Eu quero continuar fazendo coisas que me façam levantar do sofá muito mais do que sentar conformado e desiludido", afirma o músico. "A gente tem muito mais bagagem, mas mantém acesa essa chama, que é o que move o rock n' roll, que é muito mais que o gênero musical, é um espírito. Nos reunirmos é colocar fagulhas nessa fogueira", enfatiza.

Momento certo

Um dos fatores marcantes dos Titãs é a forma feroz como a banda criticou as injustiças e os problemas de um Brasil pós-ditadura. Eles surgiram em um país autoritário e hostil  aos direitos humanos. Atualmente voltam após um período sombrio da história brasileira. Um cenário pós-pandêmico, de dualidade política e mais uma vez de violação de direitos humanos.

Os Titãs sempre falaram sobre isso e 40 anos depois se mostram necessários mais uma vez. Músicas que faziam muito sentido em 1980, parecem fazer ainda mais em 2023. "Nós éramos adolescentes que cresceram na pior fase da ditadura. A gente tinha consciência do que estava acontecendo e isso nos alimentou de um grau de revolta que a gente expressou no trabalho artístico", lembra Arnaldo que traça o paralelo com a atualidade: "Agora é um pouco parecido. Estamos revivendo traumas da ditadura com o bolsonarismo, um período terrível em que nutrimos muita indignação."

Por mais coincidência que tenha sido, é uma realidade. Marisa Monte estava fechando os shows da turnê dela com Comida, faixa crítica dos Titãs, visto que o Brasil estava com o maior número de pessoas abaixo da linha da fome em anos. A banda parece voltar quando se faz necessária. "A coincidência é muito bem-vinda, apesar de não termos projetado isso, nem termos esperado por isso. É procedente. Estamos voltando junto com uma redemocratização do Brasil com o governo Lula, depois de um período de crescimento da vertente autoritária por conta dessa ascensão da extrema-direita do Brasil", analisa Antunes. "De certa forma, isso alimenta nossa esperança. Estamos aí não só para celebrar o reencontro dos Titãs, mas do público com o valor da cultura e da democracia. Estamos podendo sintonizar o nosso momento, com o momento do país", conclui.

De geração para geração

Mesmo com mudanças, todos têm uma memória com os Titãs, uma música favorita da banda e até um Titã favorito. A banda é uma das mais importantes do rock brasileiro e da história da música do país e atravessou décadas e gerações. "Serão várias gerações assistindo a gente: avô, pai, mãe e filhos", pontua o cantor. "Acredito que há uma saudade por parte de quem acompanhou a gente na formação que está se reunindo, ali entre os anos 1980 e 1990, e que quer nos rever. Porém, também há as pessoas que vão nos ver pela primeira vez e que nos conhecem por discos, histórias, entrevistas, documentários e até pelo filme que o Branco e o Oscar fizeram sobre a nossa história", acrescenta.

O próprio Arnaldo Antunes não acreditava que era possível um reencontro de todos esses sentimentos e anos. "A princípio seria um show de comemoração dos 40 anos dos Titãs, com a banda como é atualmente e, nós, que fizemos parte do grupo, entraríamos como convidados. Aos poucos foi pintando a ideia de reviver a formação como era nos anos 1980. Eu nunca tinha previsto, cheguei a relutar um pouco inicialmente, mas depois me entreguei de corpo e alma para isso", recorda. "São essas coisas da vida e do destino, é porque tinha que ser", completa.

Então para o próprio vocalista a pergunta é a mesma que o público faz. "As pessoas têm curiosidade de ver como seria uma reunião de todos nós", diz. Afinal, para a banda estar de volta é muito mais do que apenas olhar para o passado. "Estar de volta é uma maneira de seguir em frente", ressalta Arnaldo.

 

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