Cinema

Tarantino mobiliza Cannes e fala sobre limites da violência em filmes

O diretor norte-americano palestrou durante o evento, abordando temas como a violência nos seus filmes e outras características peculiares em seu trabalho

O cineasta norte-americano Quentin Tarantino parou o Festival de Cannes nesta quinta-feira (25/5) durante um encontro com o público no Quinzena dos Cineastas (antiga Quinzena dos Realizadores).

Quentin Tarantino havia prometido uma "sessão secreta" de um filme ligado ao cinema americano dos anos 1970 e à história da Quinzena dos Realizadores, além da palestra sobre seu trabalho. O resultado não poderia ter sido diferente: fãs enfrentando horas de fila para tentar entrar no evento.

A surpresa, para a decepção de quem esperava que Tarantino fosse apresentar algo do seu décimo e último filme, foi a exibição do clássico dos anos 1970, A Outra Face da Violência, de John Flynn, escrito por Paul Schrader e Heywood Gould.

O diretor aproveitou a atenção dos fãs para falar do seu livro de não-ficção, lançado em novembro de 2022, ainda sem uma versão em português, em que ele combina "crítica de cinema, teoria do cinema, uma façanha de reportagem e uma história pessoal maravilhosa". O livro é uma coleção de ensaios organizados em torno de "filmes americanos importantes da década de 1970" que Tarantino viu em sua juventude e foram determinantes em sua obra como diretor.

Durante a palestra, Quentin abordou as principais características de seus filmes: violência, sangue e doses homeopáticas de humor. 

"É claro que gosto de filmes violentos, e de fazê-los. Mas tem uma ponte de que não cruzo: matar animais em filmes. É uma coisa que costumo ver muito em filmes europeus e asiáticos. Não pago para ver violência real. Em meus filmes, tudo é fantasia, sangue falso, é uma brincadeira. Mas tenho visto coisas nojentas feitas com animais completamente dispensáveis", observou.

Ele, no entanto, destacou uma única exceção quanto ao uso da violência: animais.

"Tenho esta grande questão sobre matar animais em filmes. Isso vale para insetos também! A menos que eu pague para ver um documentário bizarro e estranho, não vou pagar para ver morte real. Boa parte de que (a violência) funciona no cinema é porque é de faz-de-conta. É por isso que eu posso defender cenas violentas", declarou.

Outra peculiaridade nos filmes de Tarantino, a de alterar fatos históricos, como o assassinato de Hitler em Bastardos inglórios, e o destino alternativo de Sharon Tate em Era uma vez em Hollywood, foi questionada durante o evento.

"No caso de Bastardos, eu não havia determinado desde o início que Hitler morreria no final. Foi uma consequência natural do desenrolar do trabalho. Eu não tinha certeza do que fazer com ele. Fugir escondido pela porta do cinema? Definitivamente, não. Estava numa sinuca e, numa madrugada, às 3h da manhã, durante uma crise em que nada me satisfazia em relação ao desfecho, eu pensei: 'Sabe de uma coisa? Mate a porra do Hitler!' Escrevi a decisão em um papel e na manhã seguinte, quando acordei, li e percebi que era uma boa ideia. Mas o caso da Sharon Tate era isso mesmo, desde o início. Fiz o filme todo para contar aquele final!, relatou o diretor.