Num lançamento nos Estados Unidos com renda de quase US$ 7 milhões, o longa-metragem finlandês Sisu não se afirma tanto pelo sucesso nas bilheterias, uma vez que teve estreia limitada nas terras gringas: sua popularidade vem ancorada nos comparativos com o sanguinolento último filme da franquia John Wick estrelada por Keanu Reeves e ainda pelas ruidosas passagens em festivais como os de Toronto, que alardeou a trama da sistemática matança de nazistas (registrada no filme), e de Sitges (na Espanha), evento em que conquistou prêmios como melhor filme, ator, fotografia e trilha sonora. No Brasil, a data de estreia ainda não foi confirmada.
Sisu, situado em 1944, concentra a atenção num ex-criminoso de guerra que, agente de Forças Especiais, teria abatido quase 300 russos. Tudo isso antecede o desempenho gráfico dele no violento filme, em que, sob a constante companhia de um cavalo e de um cachorro, passa a proteger, a todo custo, recém-descobertas pepitas de ouro. Rumo a um banco, no Norte da Europa, ele terá de percorrer 900 quilômetros. Destacado, na imprensa estrangeira, pela pretensão e humor agudo, o diretor comanda ações entre enormes bombardeios, extravagâncias com mísseis, minas terrestres e enormes sabotagens. O comandante nazista Bruno Helldorf passa a ser o maior inimigo do bárbaro protagonista.
Depois de assinar um thriller natalino, batizado de Rare exports (2010), e de, embalado nos moldes de Barack Obama, posicionar Samuel L. Jackson, na ficção, como presidente dos Estados Unidos, em Big Game (2014), o quase cinquentão diretor Jalmari Helander coloca o astro finlandês Jorma Tommila a representar, como saudado na imprensa estrangeira, "um esquadrão da morte de um homem só".
Francamente inspirado no clássico de ação Rambo, o cineasta Jalmari ainda revolveu dados históricos, para criar Sisu, com narrativa (sob orçamento de US$ 6 milhões), em parte, inspirada na figura do franco-atirador Simo Hayha, que no decorrer da Guerra de Inverno (iniciada em 1939), teria matado quase 550 pessoas. A máquina de destruição humana idealizada no filme, feito em inglês, com vistas no mercado internacional, atende por Aatami Korpi, e com mais de 60 anos, vive isolado na Lapônia. Ele encarna um garimpeiro singular, "absolutamente determinado" (numa tradução livre para "sisu") e de coragem incomparável. Radical, Aatami, conquista o apelido de Koschei (ser malvado, imbatível e senil).
Remetendo aos ruídos de "sustos e agitação", colados ao significado de Sisu, a selvageria do protagonista é canalizada contra os nazistas que buscam roubar toda sorte de ouro, antes de deixar a Lapônia, de onde partem com mulheres prisioneiras tidas por moeda de troca.
Pelo que destacou o britânico The Guardian, Sisu, que foi atração no Festival de Sydney (Austrália), traz similaridades "com um moedor de carne nórdico". Reconhecido por ter o exagero como marca, o diretor Jalmari Helander (cunhado do astro do filme) embala a jornada de um herói, à la spaghetti western, capaz de até mesmo se reconstruir à base da costura das próprias feridas. Perturbado, ele pode atear fogo em si próprio e fugir das mais macabras armadilhas (como quando pendurado a um poste, por exemplo). Visto, por alguns, como uma metáfora do apego à honra de uma nação (no caso, a finlandesa), em fins da Segunda Guerra, o longa não deixa de reavivar a memória em torno da Guerra do Inverno, que acarretou na redução estimada em 10% do território da Finlândia, entregue à oponente Rússia.