Uma obra inédita do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), que renovou a reflexão sobre questões como poder, psiquiatria, ou sexualidade, chega às livrarias nesta sexta-feira (12/5), quase quatro décadas após sua morte.
Le Discours philosophique ("O Discurso Filosófico", em tradução livre) era um manuscrito quase acabado, que o autor de As palavras e as coisas, História da Sexualidade e Vigiar e Punir havia começado em 1966. Por algum motivo desconhecido, ele nunca chegou a publicá-lo.
A edição atual, da Éditions du Seuil, ficou a cargo dos acadêmicos Orazio Irrera, da Universidade Paris 8 Vincennes-Saint-Denis, e Daniele Lorenzini, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
O manuscrito foi encontrado entre os arquivos comprados em 2021 pela Biblioteca Nacional da França.
É um "livro brilhante (...), perfeitamente construído, elaborado do início ao fim", destacou o crítico e filósofo Roger-Pol Droit no jornal "Le Monde".
Outro filósofo, Christian Ruby, comentou no portal nonfiction.fr que esta escrita mostra que, para Foucault, a filosofia não constitui mais “o fundamento último do conhecimento”, pois “a verdade perdeu sua dimensão original”.
Essa ruptura remonta ao pensamento de Friedrich Nietzsche (1844-1900), que "quebra, desarticula, desfaz peça por peça a sólida armadura que isolava o discurso filosófico de todos os outros".
Em seu testamento, Foucault proibiu a publicação póstuma de suas obras, mas seu último companheiro e legatário, Daniel Defert, falecido em fevereiro, assim como um antigo assistente do filósofo, François Ewald, aceitaram que os textos que servissem para esclarecer seus conceitos sejam tornados públicos.
A primeira transgressão dessa determinação foi a publicação de uma miscelânea de textos ("Ditos e escritos"), seguida da compilação de seus cursos no Collège de France (de 1970 a 1983). O passo seguinte foi a identificação de ensaios desconhecidos.
E "ainda não acabou. Faltam três volumes para serem publicados: um Nietzsche, o curso de São Paulo e o curso de Túnis", disse François Ewald.
Foucault esteve várias vezes no Brasil e, na primeira delas, em 1965, lecionou no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP).