Jornal Correio Braziliense
Rita Lee

Rita Lee marcou a literatura como uma escritora de humor ácido

Em mais de 10 livros, incluindo duas autobiografias e seis publicações dedicadas às crianças, Rita Lee fez críticas e revisitou a própria história

Duas autobiografias, seis livros infantis, um de pequenas notas ilustradas por Laerte, outro com textos, devaneios e músicas proibidas. Rita Lee, felizmente, não hesitou em fazer dos livros mais um espaço para derramar sua verve brilhante, debochada, inteligente e de um humor excepcional.

Outra biografia, a segunda depois de Uma autobiografia, publicada originalmente em novembro de 2016, chega às livrarias em 22 de maio e traz uma espécie de atualização. Nele, Rita fala sobre o câncer no pulmão, diagnosticado quando uma pandemia assolava o planeta, sobre o tratamento e a rotina recente.

"(...) quando decidi escrever Rita Lee: Uma autobiografia (2016), o livro marcava, de certo modo, uma despedida da persona Rita Lee, aquela dos palcos, uma vez que tinha me aposentado dos shows. Achei que nada mais tão digno de nota pudesse acontecer em minha vidinha besta. Mas é aquela velha história: enquanto a gente faz planos e acha que sabe de alguma coisa, Deus dá uma risadinha sarcástica", avisa a artista no início do livro.

Em Storynhas, uma parceria com Laerte, ela também fala de tratamentos, mas de outro, de quando fez uma mastectomia preventiva, já que tinha 87% de probabilidade de desenvolver câncer de mama. Era com humor ácido que ela olhava para si mesma. “Minha futura autobiografia autorizada por mim mesma contará situações fakes baseadas em fatos reais”, destaca a cantora. “Relendo ninjas escrevinhações twittêscas nonsense d 4 anos p/ cá, entendi pq vários twittietes me chamavam d “velha ocua drogada”, afinal, eu fazia twitterapia às custas de caridade de quem me amava”, continua.

Na autobiografia de 2016, Rita revisitou a história dos Mutantes e sua trajetória na música, confessou que tinha encontrado paz na meditação e que não queria ser cobrada por mudar de estilo de vida e imaginou a própria morte. “Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta", escreveu.

No mesmo relato, ela olha para o próprio deboche como uma espécie de salvação. “Dói mais sorrir na frente dos outros do que chorar sozinha, mas não devo levar a vida tão a sério, porque ninguém sai dela vivo. Debochar de mim mesma é uma estratégia que sempre dá resultado positivo. Uma das coisas que mais me dão prazer é fazer o que não devo, tipo fumar na frente de quem faz campanha anti-cigarro”, avalia.

Rita Lee também era uma leal protetora dos animais e dedicou os últimos anos de vida ao ativismo na luta contra a violência praticada contra os bichos. São eles os protagonistas de suas histórias infantis. Dr. Alex, personagem de quatro livros, é um ratinho que combate os malvados, quer salvar a Amazônia, tenta resgatar um cristal mágico, viaja ao espaço e faz miséria ao lado da vovó Ritinha. Em Amiga ursa, ela conta a história da ursa Marsha, que veio parar no Brasil depois de sofrer maus-tratos em circos e zoológicos. 

Globo - Outra biografia, Rita Lee
Globo Livros - Uma autobiografia, Rita Lee
COmpanhia das Letras - Storynhas, Rita Lee e Laerte
Glogbinho - Dra Alex na Amazônia, de Rita Lee

Humanidade

A causa era antiga na vida de Rita, que escondia gatinhos do pai no casarão da Rua Joaquim Távora, em São Paulo, onde também criava um jabuti, peixinhos e uma patinha que foi motivo de longa discórdia familiar. “Desde que me conheço por gente defendo animais diante do desrespeito que sofrem nas mãos de humanos gananciosos, que os tratam como objetos de uso pessoal. Estamos em pleno terceiro milênio e não há mais espaço para agirmos como na Idade Média”, disse Rita Lee, em entrevista ao Correio, à época do lançamento do livro.

Indignada com a maneira como a humanidade trata o planeta, a cantora chamou os humanos de cupins, mas confessou que tinha esperança nas gerações mais novas. “Aposto minhas fichas na geração pós-millennials, que eu chamo de crianças ‘índigo cristal’. Elas é que vão realizar mudanças de consciência na humanidade, uma turminha que vai retomar de onde os hippies pararam: a era do paz e amor. Pode parecer clichê, mas ainda é o lema da bandeira que carregamos”, disse.


 

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