Música

Hamilton de Holanda lança novo disco e faz turnê na Europa

Com ritmo frenético de produção, Hamilton de Holanda lança o álbum 'Flyng chicken', faz excursão por vários países da Europa e toca na França com uma orquestra de 100 bandolinistas

Hamilton de Holanda, o instrumentista brasileiro com maior presença nos palcos internacionais, ultimamente tem passado 45% do ano fora do Brasil. Em março, depois de participar do show da banda britânica Coldplay, no estádio Engenhão, no Rio de Janeiro, fez nova turnê pelos Estados Unidos. Na primeira quinzena de abril lançou o 40º disco, intitulado Flyng Chicken. No dia 13 próximo voltará à Europa para ser protagonista de um evento em Marselha, na França, acompanhado por 100 bandolinistas.

Este é o quadragésimo título da discografia do bandolinista, que iniciou trajetória artística em Brasília, ainda na adolescência, formando dupla Dois de Ouro com o irmão Fernando César. Flying Chicken — o nome foi dado em homenagem ao amigo e músico candango Ricardo Frango — reúne oito faixas, todas produzidas por ele e pelo produtor Marcos Portinari, e chega às plataformas digitais via a parceria entre o selo Brasilianos e a gravadora Sony Music. No trabalho, o som cristalino do bandolim de 10 cordas do músico se destaca ainda mais em função da mixagem feita por Thiago Big Rabello e a masterização, que tem a assinatura de Salomão Soares.

O repertório traz temas compostos em diferentes momentos. São eles: Flying Chicken, Sol e luz, Barulhinho de trem, Because of our strong love, Paz no mundo, Endlessly, Erezin e O som vai conduzir. Todas têm a assinatura de Hamilton de Holanda, sendo que em Endlessly e O som vai conduzir ele tem como parceiros Michael League e Xande de Pilares, respectivamente. Chama também a atenção a capa e o design do álbum, criado por Bruno Filipe e Pedro Araújo, conhecido como The ZakMan, feito a partir da utilização da tecnologia stable diffusion, uma técnica de geração de imagens por meio da inteligência artificial. O projeto exigiu várias gerações de imagens para atender às expectativas do artista e da equipe.

Entrevista/ Hamilton de Holanda

 

Flying Chicken é um projeto solo ou coletivo?

Flying Chicken é um pouco dos dois porque é parte de algo muito íntimo e até solitário, que são as composições, não é? E daí elas vão tomando corpo com o coletivo, então o coletivo no sentido do Trio, que foi gravado comigo, Salomão Soares e o Big Rabello e com todas as pessoas que fazem parte da produção de um disco, passando por capa, mixagem, masterização, distribuição... Enfim, no final das contas, ele se transforma em um projeto coletivo.

 

 

Em que período ele foi desenvolvido?

As músicas foram feitas em períodos diferentes, então tem as compostas em 2022, temas que eu fiz no período da pandemia e outras de 2019. E ele foi, vamos dizer assim, gestado nesse período inicial que eu falei, quando eu compus, mas ele foi executado mesmo, a gravação, a parte toda de produção do disco, foi em 2022 em três meses. Foi assim que a gente fez. E foi rápido.

 

Entre os temas gravados há alguns que foram composto durante a pandemia, quando você criou uma música por dia?

Sim, a música Paz no mundo foi feita durante a pandemia; assim como Erezin. Ela fez parte de uma das aulas que eu ministrei no YouTube. Era um negócio chama do Aulive. Numa dessas aulas, eu ensinava as pessoas como era o processo de composição, como faço para compor uma música e ela saiu ao vivo ali. Quem procurar no YouTube tem lá eu fazendo assim na hora, criando a melodia e mostrando para o pessoal como é que funciona o processo de composição.

 

A proposta da capa e do design do álbum é promover um diálogo com com o conteúdo?

Para mim, a capa é a cara da música, é a imagem do som. Porque traz elementos que são uma mistura de algo vintage com algo mais moderno, algo mais futurista também. Que é o som do bandolim, que tem essa sonoridade mais antiga, da madeira, misturado com a bateria, que é uma coisa já mais universal, e os teclados, que tem teclado ali que é da década de 1970 e tem outros que são mais atuais. Então, a capa também dá para pensar que alguém desenhou aquilo ou que fez a partir de um outro desenho, mas, no fim das contas, foi feito pelo Bruno Felipe e o Pedro. Eles são parceiros, a partir da inteligência artificial, foram geradas mais de 200 imagens até a gente escolher uma e, depois de escolhida, houve ainda um retoque, a parte humanizada, que eles finalizaram o design. Então, o som também vem daí,  achei que o som é exatamente projetado na imagem da capa.

 

Você já havia trabalhado com os músicos que o acompanham neste trabalho?

Não. Em disco não, mas a gente já tinha feito alguns shows. Esse é o primeiro disco que a gente grava junto. Big Rabello, o baterista, é o dono do estúdio e foi quem fez a gravação, mixagem, e ele tinha feito o O, que é um trabalho meu anterior. Ele tinha trabalhado como técnico de áudio nesse álbum. O Salomão é um pianista, tecladista, lá da Paraíba, que mora em São Paulo, é um jovem músico que eu  admirava,. Já imaginava um dia chamando-o para fazer alguma coisa. E essa oportunidade surgiu na pandemia, porque no meio daquele abre e fecha, rolou uma oportunidade de fazer um show num drive-in em Curitiba e me pediram para fazer algo temático. Na época,  propus fazer Tom Jobim. E aí me lembrei logo do Salomão, por conta do piano e o Big, que eu já alimentava essa vontade de fazer alguma coisa , porque já tinha visto ele tocar e curti. Então, veio daí, essa primeira tentativa que, na verdade, é anterior ao show em Curitiba. Mas, aí caiu quase uma nevasca, com granizo. Foi um problema e a gente não conseguiu fazer esse show. Só que a emoção de ter ensaiado com eles foi tão grande que acabou virando um trabalho. A gente fez alguns shows com músicas do projeto em que homenageamos Tom Jobim, no Brasil e no exterior. Gostei muito da sonoridade dessa mistura dos eletrônicos dos teclados com a bateria do Big e a madeira do bandolim. Eu achei que era o momento de registrar essa novidade dentro da minha discografia.

 

Como foi a nova turnê pelos Estados Unidos?

Foi um sucesso. Eu tive a oportunidade de tocar em várias cidades, entre elas Nova York lá no Jazz At Lincoln Center, que é um lugar super-bacana; e também no Kennedy Center, em Washington. Fiz esses shows com Nduduzo Makhathini, um pianista sul-africano, que eu conheci virtualmente durante a pandemia. A gente fez alguns vídeos colaborativos e ficamos na promessa de tocar juntos no mesmo lugar, na mesma cidade, na mesma sala, porque até então só tinha rolado virtualmente. E aí foi o máximo. Até compus uma música para tocar junto, que nem gravei ainda.Só tocamos nos shows. E o Nduduzo traz uma ancestralidade africana, já que ele vem da África do Sul e combinou muito o nosso trabalho. Foi muito legal, tanto que a gente está na Europa, com uma turnê, continuando esse trabalho, que chama A Rota do Descobrimento.

 

Que expectativa forma em relação ao evento em Marselha, quando será acompanhado por 100 bandolinistas?

É um sonho para mim estar numa cidade onde vão se encontrar mais de 100 bandolinistas. É um sonho para qualquer bandolinista porque nosso instrumento é bem característico, tem suas dificuldades, não é um instrumento fácil, não é um instrumento tão popular como cavaquinho e violão, por exemplo. Mas tem uma legião de fãs e de músicos que gostam do bandolim. Então, vai ter bandolinistas do mundo inteiro. O organizador do encontro comentou: 'Hamilton, só você é que pode fazer isso. A gente faz uma orquestra com 100 bandolinistas e você vai ser o solista para tocar a Suíte retratos, do Radamés Gnattali. Eu topei na hora, então vai ser um festival grande com vários dias, vai ter workshops, um concurso de bandolim valendo um prêmio e eles vão tocar algumas músicas minhas também. Eu vou fazer parte do júri, então é uma realização de um grande sonho.

 

Depois fará apresentações em outros países da Europa?

Volto para o Brasil em maio e faço alguns shows, inclusive toco aí em Brasília no dia 13 de Maio, com a Orquestra Filarmônica. Depois, na segunda metade do mês de maio eu volto para a Europa para fazer alguns shows desse disco, do Flying Chicken com o trio, com Big Rabello e o Salomão, a gente vai tocar na Suíça, em Berna. Na segunda metade de junho,  vou fazer alguns países da Europa, a Turquia. Vou conhecer um país que eu nunca fui, Azerbaijão. Vou tocar na Polônia também pela primeira vez, isso tudo já apresentando esse repertório. No mês de junho, vou para a França participar de um grande evento chamado Festival Django Reinhardt, que é em homenagem ao violonista famoso que tocava Jazz Manouche, Jazz Cigano. O festival é em uma cidade pertinho de Paris chamada Fontainebleau e eu vou com o trio.

 

Quando vem lançar o novo projeto em Brasília?

No dia 3 de junho volto a Brasília para participar de um o festival de jazz e blues e aí vou apresentar o repertório do disco Flying Chicken.

 

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