INQUÉRITO

Polícia alemã investiga Roger Waters por usar trajes nazistas em show

O uso das roupas faz parte de uma encenação feita pelo cantor durante a apresentação dos hits do álbum The Wall, que fala sobre um astro que sofre uma alucinação e acredita ser um ditador fascista

Talita de Souza
postado em 26/05/2023 09:15
Roger Waters usou trajes que lembram os soldados nazistas durante a ditadura de Adolf Hitler -  (crédito: Twitter @Ostrov_A/Reprodução)
Roger Waters usou trajes que lembram os soldados nazistas durante a ditadura de Adolf Hitler - (crédito: Twitter @Ostrov_A/Reprodução)

A Polícia de Berlim anunciou, nesta sexta-feira (26/5), que abriu uma investigação contra o astro do rock e co-fundador do Pink Floyd Roger Waters por incitação ao ódio após o cantor ser filmado com trajes nazistas durante um show na capital alemã.

“Estamos investigando uma suspeita de incitação ao ódio público porque as roupas usadas no palco podem ser utilizadas para glorificar ou justificar o regime nazista, perturbando a ordem pública. As roupas lembram o uniforme de um oficial da SS (Schutzstaffel) — organização paramilitar da Alemanha nazista”, disse Martin Halweg, porta-voz da polícia de Berlim, à AFP. Após a investigação, o processo será encaminhado ao Ministério Público alemão, que decidirá se o cantor será processado ou não. 

Um dos vídeos da performance de Waters atingiu 3,4 milhões de visualizações no Twitter e foi postado por um advogado de Direito Humanos. "Uau, Roger Waters imitando um nazista durante um show em.... Berlim. Isso é apenas ódio desiquilibrado aos judeus e distorção do Holocausto. O homem é vil além das palavras", escreveu o defensor na publicação. 

As imagens foram captadas em um show feito por Waters na Mercedes-Benz Arena em 17 de maio e viralizaram nas redes sociais nas últimas semanas. Nos vídeos, ele usa uma camisa e um sobretudo pretos com elementos de cunho nazistas e dispara tiros fictícios. Os fãs da banda defenderam o ídolo ao informar que o episódio se trata de uma encenação antiga programada para ocorrer durante a performance dos hits do álbum The Wall.

De fato, a ópera rock lançada em novembro de 1979 é composta por diversos atos que contam a história de Pink, uma estrela do rock deprimida que passa por episódios de flashback da vida dele.

Entre lamentos por relembrar abusos de professores abusivos, quando criança, e um casamento encerrado por infidelidade, quando adulto, Pink tenta ter uma overdose que, em vez de matá-lo, o faz passar por uma alucinação em que ele acredita ser um ditador fascista e que o show dele é um comício neonazista. Nesta parte da ópera, são tocadas, em meio às encenações do cantor, as músicas The Show Must Go On, In The Flesh, Run Like Hell e Waiting for the worms.

A encenação não foi bem recebida pelos alemães e israelitas. A repercussão on-line fez com que o cantor recebesse críticas do Ministério das Relações Exteriores de Israel, que disse que Waters “profanou a memória de Anne Frank e de seis milhões de judeus assassinados no Holocausto”.

A situação se agravou diante dos israelitas pelo histórico de Waters: ele é conhecido por ser um ativista pró-Palestina e já foi acusado de ter posições anti-judaicas. O fato foi enfatizado pelo embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, que declarou que o cantor “quer comparar Israel com os nazistas”. “Ele é um dos maiores críticos dos judeus de nossa época”, escreveu o embaixador no Twitter.

Na Alemanha, outro show de Waters, marcado para segunda-feira (28/5), foi cancelado pelas autoridades do país, mas a decisão foi anulada pela Justiça com a justificativa de que a medida feria o princípio de liberdade de expressão.

Com informações da AFP

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