Festival

Do rock ao jazz, C6 Fest estabelece "pop" particular

Último dia do festival estreante em São Paulo celebrou legado e paixão

Caetano Mota*
postado em 22/05/2023 17:35 / atualizado em 22/05/2023 18:55
 (crédito: Caetano Mota/CB/D.A.Press)
(crédito: Caetano Mota/CB/D.A.Press)

São Paulo - O domingo (21/5) marcou o último dia da primeira edição do C6 Fest, sucessor do histórico Free Jazz Festival. Amantes do jazz, MPB, rock e eletrônica estiveram presentes para celebrar a música como um todo. O Correio Braziliense foi convidado para participar dessa imersão e acompanhar shows de artistas essenciais para a música brasileira e global. Dos nomes internacionais, 80% tocaram pela primeira vez no Brasil.

Resumo dos shows - Domingo (21/5)

O dia teve início com uma apresentação representativa e especial. “O ano de 1973”, show unicamente elaborado para o C6 Fest, foi curado pela cantora Juçara Marçal e seu parceiro de longa data, o músico Kiko Dinucci. Juntos, os dois escolheram meticulosamente os temas, o elenco e quais canções daquele ano entrariam para o repertório.

Ao Correio, Dinucci assegurou que a música brasileira em 1973 foi até o limite da ousadia. “Discos maravilhosos foram lançados naquele ano. Como um todo, a década de 70 explorou novas novas possibilidades estéticas, elementos experimentais e ousados, em função da contracultura, das vivências e sentimentos dos jovens da época. Particularmente, eu me identifico muito com essa década. Acho a mais criativa da indústria fonográfica brasileira”, disse. Durante o show, Juçara Marçal chegou a citar o festival Phono 73, promovido pela gravadora Phonogram, como uma das maiores inspirações para o espetáculo.

Ao som de triângulos, chocalhos, atabaques e sintetizadores, o espírito libertário de 1973 foi invocado por Jadsa, Linn da Quebrada, Giovani Cidreira, Tulipa Ruiz e Arnaldo Antunes. De Gilberto Gil a João Donato, o destaque da apresentação foi Fala, canção do grupo Secos & Molhados apresentada por Linn da Quebrada. A artista entregou uma performance emocionante acompanhada dos estranhos, porém, encantadores backing vocals de Juçara Marçal e distorções de guitarras que faziam a festa por trás.

Em seguida, uma das melhores vozes da nova MPB, Tim Bernardes, honrou o legado da apoteótica Gal Costa com um show nostálgico e emocionante. O vocalista da banda O Terno cantou os maiores sucessos de Gal, que faleceu em novembro de 2022, aos 77 anos. “Minha heroína”, disse Tim ao iniciar sua apresentação (que poderia facilmente se tornar um álbum ao vivo, caso tivesse sido gravada) com Baby, de 1969. O músico ainda cantou Realmente Lindo, composição de autoria própria incluída no penúltimo álbum da cantora, A pele do futuro, de 2018.

Para terminar da melhor forma as programações da área externa do festival, Caetano Veloso encantou o público e levou os fãs à loucura. O cantor, que voltou à ativa com a turnê de seu último álbum, tocou sucessos como Sozinho, You don’t know me e Leãozinho.

  • Tim Bernardes canta Gal Costa. Caetano Mota/CB/D.A.Press
  • Elenco de "O ano de 1973" canta Rita Lee. Caetano Mota/CB/D.A.Press
  • Arena externa MetLife. Caetano Mota/CB/D.A.Press

Há 5 anos, na cidade de Cambridgeshire, na Inglaterra, oito jovens decidiam o nome de sua nova banda por um gerador de artigos randômicos da Wikipédia. Eles bateram o martelo para Black Country, New Road, referente a uma estrada que percorre o oeste do Reino Unido. Semelhantemente, ao som de Crazy in love, o grupo não poderia ter subido ao palco de uma forma menos irônica ou pretensiosa. A carismática banda de rock alternativo agitou a Tenda Heineken com os baixos, guitarras e os saxofones que já se tornaram marca registrada.

Os dois primeiros discos do grupo contaram com o vocalista Isaac Wood, que precisou deixar o conjunto por motivos de saúde mental. Para algumas bandas, a saída do vocalista significa o fim dela. Para Black Country, New Road, foi uma oportunidade para cada integrante provar seu talento e reformular o grupo, mantendo a mesma essência. As melhores faixas do álbum ao vivo Live at bush hall, primeiro disco sem Isaac Wood, foram tocadas em São Paulo com direito a outras inéditas.

A americana Natalie Mering, conhecida profissionalmente como Weyes Blood, conseguiu o que nenhum artista atingiu durante o C6 Fest. Os fãs fervorosos de Mering entoaram, com todo o ar de seus pulmões, letra por letra dos maiores hits da cantora. Com um vestido branco e uma presença encantadora, a alquimista transformou cada voz em um coro que a acompanhava em seus ritmos setentistas à la Karen Carpenter. Weyes Blood performou as duas últimas músicas do show, Twin flame e Movies, com um equipamento luminoso que imitava o coração brilhante da capa de seu último disco, And in the darkness, hearts aglow. Ao final, a artista foi ovacionada, jogou rosas brancas à plateia e, após um pedido feito nas redes sociais, recebeu dos seguidores diversos DVDs de filmes brasileiros.

A banda de folk-rock The War On Drugs também visitou o Brasil pela primeira vez com a turnê do aclamado I don’t live here anymore. A maioria das músicas do grupo possui um ritmo semelhante e nem todas são tão animadas, entretanto, o próprio intuito da apresentação não é ser algo frenético. O espetáculo também é visual, tanto pelas grandiosas performances quanto pelas ininterruptas luzes coloridas. As gaitas, sintetizadores e os longos solos de guitarra que acompanham, por exemplo, os dez minutos de Under the pressure, mostram o porquê da banda ser tão requisitada no país.

O último dia de festival ainda juntou três nomes do jazz moderno para uma sequência de apresentações no Auditório Ibirapuera: Samara Joy, vencedora do último Grammy de Artista Revelação, a dupla instrumental dos jovens DOMi & JD BECK e o grupo inglês The Comet Is Coming.

  • Black Country, New Road. Caetano Mota/CB/D.A.Press
  • Weyes Blood. Caetano Mota/CB/D.A.Press
  • The War On Drugs. Caetano Mota/CB/D.A.Press
  • Frente da Tenda Heineken. Caetano Mota/CB/D.A.Press

O evento reuniu fãs veementes de artistas fora do nicho mainstream. Músicas bem produzidas, refrões chicletes e uma miscelânea de estilos. Foi assim que o C6 Fest, que é tudo isso e mais um pouco, criou seu “pop” particular. Deixando o público na ansiedade para mais, o festival concebeu experiências intimistas com os músicos que, antes do convite, talvez nem tinham previsão de um dia conhecer o Brasil.

 

Estagiário sob supervisão de Samuel Calado.

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