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'Rita Lee do Sertão' tem marido chamado Roberto e tira fotos com os fãs

Karla Celene, professora e escritora de Montes Claros, conta que é sempre confundida com a Rainha do Rock

Luiz Ribeiro - Estado de Minas
postado em 13/05/2023 17:54
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

Rita Lee morreu, deixando o Brasil consternado, órfão de seu alto astral. No entanto, a figura da cantora, compositora e escritora, com aqueles cabelos, óculos e roupas coloridas, “permanece” em pleno sertão mineiro. A Rainha do Rock tem uma “sósia” em Montes Claros, no Norte do estado: a professora e escritora Karla Celene Campos, de 62 anos.

“Na adolescência, ainda com cabelos na cor de mel original, ouvi de uma tia que parecia muito com a Rita Lee. Essa semelhança foi notada por outras pessoas, mesmo antes de eu mesma percebê-la. Não só na aparência física, mas no meu espírito livre de ser”, diz Karla Celene.

A mineira tem orgulho de ser chamada de “Rita Lee do Sertão”. “Amo minhas raízes. Sou sertão. Ser Rita Lee do Sertão é elogio em dose dupla: pela mulher e pelo espaço físico e mítico”, diz a professora e escritora nascida em Francisco Sá, a 42 quilômetros de Montes Claros.

O marido Roberto

Karla Celene é casada com o professor Roberto Pinto Fonseca – outra “ligação” dela com estrela d'Os Mutantes, cujo viúvo se chama Roberto. No caso, o compositor e instrumentista Roberto de Carvalho, de 70 anos.

A mineira diz que se descobriu “alma gêmea de Rita Lee” na década de 1970, após a Rainha do Rock ser expulsa da banda de Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. “Ela aconteceu em mim no auge de sua carreira, pós-Mutantes, pós-Tropicália e pós-Tutti-Frutti, no período em que fez o Brasil inteiro cantar suas canções em parceria com Roberto de Carvalho”, diz Karla.

“No auge da minha juventude, eu fazia faculdade (de jornalismo) em Belo Horizonte, morava em república e sonhava com um mundo melhor. Daí ela surge e se encaixa direitinho naquilo que eu queria”, relata.

A Rita Lee do Sertão conta ter sido muito influenciada pela compositora de “Ovelha negra” e “Lança perfume”. “Caramba! Que mulher colorida, iluminada, bem-humorada, dona de si. Esse jeito de ela ser alimentou o meu próprio jeito de ser”, diz, elogiando o “o jeito libertário, a arte, o talento, a inteligência, o brilho e a irreverência” da estrela paulistana. “Tudo isso é traduzido não só nas canções, mas também nos livros que ela escreveu. Li todos.”

Karla Celene foi confundida com a Rainha do Rock em várias situações. “Algumas divertidas, outras emocionantes, apenas uma desagradável”, comenta. “Pessoas de diversas gerações já se aproximaram de mim para pedir: 'Faça uma foto comigo'. Queriam mostrar que estavam ao lado de uma Rita Lee.”

 Uma dessas vezes está registrada no livro “Kalimera”, uma espécie de diário poético de bordo que Karla escreveu sobre viagens à Alemanha, Turquia e Grécia com duas amigas. Ela estava no restaurante de um navio no Mar Egeu, entre as ilhas gregas, quando o garçom, “num belo português”, afirmou: “Suspenderam os jardins da Babilônia” (verso da música “Jardins da Babilônia”). O garçom era brasileiro, viera de Pernambuco, se chamava Félix e era fã de Rita Lee.


Numa feira de gastronomia em Belo Horizonte, Karla ouviu, na mesa ao lado, uma pessoa dizer: “É ela”. E a outra rebater: “Não. Parece, mas não é”. O telefone tocou e a amiga avisou a Karla: “É o Roberto, seu marido.” Foi o que bastou. “A pessoa ao lado escutou e comentou, triunfante: “Não falei?”, associando o nome que ouvira ao músico Roberto de Carvalho.

Em fevereiro deste ano, em Búzios, um guia turístico, pensando estar na frente da Rainha do Rock, ficou emocionado. Karla conta que ele a abraçou, beijou e disse que a amava.

Aplausos no bar

Outro episódio ocorreu em um bar na cidade de São Thomé das Letras, no Sul de Minas. “Havia música ao vivo. A cantora me olhou e começou a cantar 'Ovelha negra'. As pessoas me olharam, se levantaram e começaram a gritar: “Rita Lee! Rita Lee!. Naquele instante, chorei, por pensar que estava a colher louros que não eram meus, enquanto a verdadeira Rita não poderia mais, pela doença, estar onde eu estava. Agradeci a Deus por ter saúde para estar ali... Nem me passava pela cabeça que ela partiria dias depois”, descreve.

Karla conta que a única “situação desagradável” que enfrentou ocorreu numa viagem a Mucugê, na Bahia. “Entrei numa loja de artesanato, a proprietária se aproximou e me pediu para sair, dizendo-me: 'Artistas não são bem-vindos aqui'. Não argumentei, simplesmente saí, imaginando que se fosse a verdadeira Rita Lee ali, aquela senhora ouviria poucas e boas.”

Karla diz que a partida de Rita Lee deixou o sentimento de perda, mas pondera: “Longe de ser uma tristeza feia, sem cor. Tristeza pela constatação da finitude de todos nós; pela falta que ela fará como ícone que foi, na luta pela libertação da mulher. Tristeza pela perda de alguém que retratou a coragem de ser como quis, com capacidade de expor sua arte e mudar o mundo de um jeito autêntico, sem bajulações ou hipocrisias.”

A “alma gêmea” da autora de “Mania de você” diz que no dia em que foi anunciada a morte de Rita Lee, ela caminhava por uma avenida de Montes Claros quando ouviu de um homem que passava de carro: “Uai, não morreu?”.

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