“Rainha do rock brasileiro”, Rita Lee morreu na última segunda-feira (8/5) aos 75 anos. Para além de uma ampla discografia, ela deixa um legado gigantesco às mulheres. Apesar de nunca ter se considerado um ícone feminista – ou até mesmo uma feminista –, sua influência na irreverência das mulheres quanto à desigualdade de gênero é, até hoje, considerada um dos maiores marcos do feminismo brasileiro das últimas décadas.
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“Nunca carreguei bandeira de feminismo. Eu era a única menina roqueira no meio de um clube só de bolinhas, cujo mantra era: para fazer rock tem que ter culhão. Eu fui lá com meu útero e meus ovários – e me senti uma igual, gostassem eles ou não. Sou do tempo em que o feminismo era queimar sutiã no meio da rua, e eu nunca tive peito suficiente para sequer usar sutiã. Talvez eu seja uma feminista gauche”, disse ela ao portal Hysteria ainda em 2017.
A "ovelha negra", como era conhecida antes de se consagrar no rock, esteve em diversas revoluções – musicais, sociais e comportamentais – que marcaram épocas. Suas canções foram contestadoras e tiveram papel importante na discussão de pautas feministas nas décadas de 1970 e 1980.
Com um tom ácido e irônico, uma personalidade irreverente e um estilo único e excêntrico, lançou canções que se tornaram grandes marcos feministas, abordando questões como igualdade de gênero, liberdade sexual e empoderamento feminino: "Ovelha negra", "Lança perfume", "Agora só falta você", "Baila comigo", "Banho de espuma", "Desculpe o auê", "Erva venenosa", "Amor e sexo", "Reza", "Menino bonito" e "Doce vampiro" são alguns exemplos.
Rock
Em um terreno dominado pelos homens, como era o rock, Rita Lee foi uma das primeiras mulheres a falar abertamente sobre sexo e prazer feminino em suas obras. "Mania de você", música que ficou várias semanas em primeiro lugar nas paradas de sucesso e chegou a tocar em um comercial de jeans, foi uma das primeiras a chamar a atenção para os temas.
“Vivi intensamente minha época sem pensar que futuramente seria considerada revolucionária. Acho que abri, sim, estradas, ruas e avenidas. E vejo que hoje as garotas desfilam por elas, o que me faz sentir um certo orgulho. Ser pioneira teve um preço, mas também fez escola. Naquele tempo, eu não tinha distanciamento histórico para me perceber como feminista, libertária, quebradora de tabus. Eu simplesmente subia no palco, matava o pau e mostrava a xana”, declarou.
Ela também foi a artista que mais teve músicas censuradas na época da Ditadura Militar (1964-1985). Ainda assim, foi a mulher que mais vendeu discos no Brasil, ultrapassando a faixa de 55 milhões de cópias ao longo de suas quase seis décadas de carreira.
Homenagens
Nas redes sociais, Rita Lee é homenageada por grandes personalidades e também por pessoas comuns que tiveram suas vidas impactadas pelas músicas e pelo estilo de vida da artista.
“A Rita Lee brigou tanto pelas mulheres, e, hoje, podemos falar sobre feminismo porque muitas lá atrás lutaram contra muitos. Obrigada, Rita. Vá em paz”, escreveu Valesca Popozuda em suas redes sociais.
“Primeiro Gal, hoje Rita Lee. É muito difícil ver essa geração de mulheres incríveis indo embora. As marcas que elas deixaram na cultura, no feminismo e no Brasil como um todo vão ser eternas, mas a gente queria mais um pouquinho”, disse uma internauta.
“Eu cresci ouvindo Rita Lee. Meu primeiro show foi o da Rita Lee. Cresci com todos os LPs da Rita Lee, admirando. Hoje, pesquiso o feminismo na música, e foi ela a maior inspiração desde sempre”, publicou outra fã.
“A luta feminista brasileira deve muito à Rita Lee. Aprendemos com sua irreverência e sua insubordinação frente à ditadura e ao patriarcado. Seu legado, além de musical, é político! Que vivamos nossas vidas a partir de seus ensinamentos. Viva o Rock Nacional, viva a luta feminista e viva Rita Lee”, comentou outra internauta.
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