música

Após longo hiato, Buraco do Jazz volta ao mapa cultural de Brasília

Projeto celebra sete anos de ocupação cultural de Brasília com show ao ar livre no espaço próximo ao panteão da liberdade, na praça dos três poderes

Irlam Rocha Lima
postado em 03/05/2023 06:00
 (crédito: Reprodução/Pixabay)
(crédito: Reprodução/Pixabay)

Um dos mais bem-sucedidos projetos de ocupação dos espaços urbanos de Brasília com atividades artísticas, o Buraco do Jazz, com sete anos de existência e mais de 200 edições, está de volta, depois de longo e sentido hiato. O evento vai ocorrer no gramado do Panteão da Pátria e da Liberdade, na Praça dos Três Poderes, em oito datas deste mês.

A abertura, amanhã, às 18h, tem como atração o show da cantora Júlia Molina, acompanhada por banda. Na sequência, se apresentam Soul Jazz, Georgia Alo, Procurados Blues, Band, AL Jazz, Sabor de Cuba, Rairye Molina’s, em 11,12, 18, 19, 25 e 26, respectivamente.

Criado em 2016, o Buraco do Jazz tem como características principais o fato ser realizado ao ar livre e colocar como protagonistas cantores, cantoras e bandas da cidade, além de expositores e food trucks em um só lugar.

Os espectadores, que têm entrada franca, podem participar do concurso de cangas, utilizadas para sentar no gramado — outro de atrativo do evento. Com uma proposta de música ao ar livre, o Buraco do Jazz iniciou sua trajetória no gramado do Eixão, à altura da 214 Sul. Em seguida, passou pelo Complexo Cultural da Funarte — hoje Eixo Ibero-Americano —e Parque da Cidade, conquistando cada vez mais público. Pelo palco do projeto, além de músicos brasilienses, já passaram artistas nacionais e internacionais, como os grupo cubano Aniel Jazz.

Felipe Sobral, do Soul Jahzz, banda que participa do Buraco do Jazz pela segunda vez, vê o festival como um evento essencial para os músicos. “Nele, temos a liberdade de explorar novas possibilidades musicais sem termos que nos preocupar com padrões exigidos pelo mercado. Pensando sob a ótica do jazz, a improvisação se torna o elemento fundamental do show.”

O guitarrista e vocalista complementa: “No fim, quem ganha é o público, que tem a oportunidade de ver os músicos expressando sua arte de maneira mais profunda e verdadeira. É um evento singular em todos os
aspectos e merece o reconhecimento da nossa cidade”.

Da Soul Jahzz fazem parte também Dido Mariano (contrabaixo acústico e baixo elétrico), Raildo Ratho (saxofone tenor e soprano), Haniel Tenório (trompete e flugelhorn) e Patrick Rocha (bateria).

Gustavo, qual é sua relação com o jazz, enquanto gênero musical?

O jazz não é só a música e o poder dele me acalma ou me eletriza. Muitas vezes, eu sinto que o jazz harmoniza a minha energia de alguma forma, o que me deixa mais ativo. Por exemplo, pela manhã, quando intercalo o jazz com uma outra paixão minha pela música erudita. Mas a relação com o jazz se define em uma palavra: visceral. 

Como e quando surgiu a ideia do Buraco do Jazz?

Essa proposta foi colocada em andamento em 2016, atrás do posto da 214 Sul — entre o Eixão e o Eixinho, sempre às quintas. Na época, ainda imaturo e muito imediatista, acreditava que o projeto seria só aquele ano por conta das dificuldades. Eu não imaginava que ele ia continuar no ano seguinte. No entanto, foi um período em que Brasília teve uma seca muito grande e nós não paramos em dezembro, na verdade, nós não paramos mais. Houve uma prosperidade. Nos mudamos para a Funarte e começamos a desenvolver a última da cidade nesse segmento cultural. E, hoje, pelo sétimo ano, vamos para a edição 204, no Centro Cultural Três Poderes. Agradeço ao Rafael Rangel, pois estávamos conversando por três anos antes desse dia, que ocorrerá nesta primeira semana de maio de 2023.

Que sensação teve após a realização da primeira edição, no gramado do Eixão Sul?

A sensação inicial foi de exaustão, pois era eu e eu que montava tudo e desmontava, atuava no som, no bar, na iluminação, e no recolhimento do lixo. A segunda sensação foi de missão cumprida, sentimento que guardo até hoje ao fechar a porta do container de madrugada com os nossos 18 colaboradores. Ano passado mesmo, voltei para casa às 5h da manhã, aos prantos por ter tido um ano tão maravilhoso com o nosso projeto patrocinado pelo FAC e com a equipe mais unida que nunca. O Trovão, nosso homem da arrumação da bagunça, o Yago, meu braço direito da arrumação dos estandes e tudo mais que envolve a estrutura, o José, técnico eletricista que, pela primeira vez, pudemos contratar — graças aos recursos que tínhamos em mãos — e eu pude parar de mexer com eletricidade enfim.

Por quê ocorreu a mudança para a área da antiga Funarte?

A Funarte foi boa enquanto durou, saímos de lá na edição 99 para inaugurar, no Parque da Cidade, a edição 100. Os motivos foram um pouco obscuros, não sei se seria bom dizer. Os assaltos recorrentes foram de arrasar. Já houve edição que não tínhamos nem caixas de som no dia. Até que nos foi emprestado. No dia que o diretor da Funarte, João Carlos Correia, deixou a diretoria para assumir um cargo no Senado, a Funarte me chamou para conversar e falar algumas coisas que estavam entaladas na garganta deles. Toda relação tem um começo meio e fim e, assim, foi o nosso fim. Eles estavam descontentes conosco lá e nós estávamos exauridos de tantos assaltos que levamos.

A ideia da itinerância sempre permeou o Buraco?

Sempre permeou e permeia. Se paramos em algum lugar, nos fechamos. O buraco não fecha, ele só aumenta — graças à cultura criada e ao amadurecimento das bandas da cidade. O Buraco tem que ser itinerante. Voltaremos ao Instituto Iberoamericano um dia? Quem sabe? Voltaremos ao Parque? Quem saberá? Estamos no gramado do Centro Cultural Três Poderes, ao lado da Pira da Liberdade e embaixo do Panteão da Pátria. Sim, esse é o nosso momento.

Qual é a expectativa em relação ao novo local?

A expectativa é bem otimista, mas é como sempre dizemos: 'Mantenha os pés no chão e foque nas pessoas'. Tudo são as pessoas. Atualmente, vou diariamente ao local e vejo o silêncio, e uma característica de solidão que permeia a cidade. Mas as expectativas vão fazer aquele local explodir em música, luzes coloridas, pessoas felizes e uma atmosfera que estamos a disseminar, às quintas e sextas, por meio das nossas atividades jazzísticas.

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