Milhares de roteiristas de TV e cinema de Hollywood decidiram cruzar os braços depois que negociações de aumento de salários com grandes estúdios foram suspensas.
A greve do Writers Guild of America (WGA), a primeira em 15 anos, levou 11.000 roteiristas - 98% dos membros votantes da instituição que une diferentes sindicatos de roteiristas da televisão e cinema dos EUA - a pararem.
Diante da greve, há expectativa de que a exibição de novos episódios de alguns programas noturnos e talk shows desta terça-feira (2/5) seja cancelada primeiro, mas programas e filmes podem sofrer atrasos nos próximos dias também.
Em 2007, os roteiristas entraram em greve por 100 dias, levando a uma perda de cerca de US$ 2 bilhões para o setor.
Desta vez, os eles estão em conflito com a Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP) - que representa os grandes estúdios, incluindo Amazon, Disney, Netflix e Paramount - em busca de salários mais altos e uma maior participação nos lucros da popularidade dos streamings.
Na noite de segunda-feira (1/5), o WGA disse que a decisão de fazer uma greve foi tomada após seis semanas de negociações, que produziram uma resposta "totalmente insuficiente" à "crise existencial que os roteiristas estão enfrentando".
As questões-chave das conversas foram a forma como os roteiristas são pagos por programas que muitas vezes permanecem em plataformas de streaming por anos, bem como o futuro impacto da inteligência artificial no processo de escrita.
O AMPTP disse que ofereceu uma "proposta de pacote abrangente", incluindo salários mais altos para roteiristas.
Mas não estava disposto a melhorar ainda mais essa oferta "por causa da magnitude de outras propostas ainda sobre a mesa nas quais o WGA continua a insistir".
Na noite de domingo, o canal Deadline Hollywood informou que a produção de programas noturnos de comédia ao vivo, como o The Late Show com Stephen Colbert, Jimmy Kimmel Live! e The Tonight Show, estrelado por Jimmy Fallon, pararão.
Colbert, que gravou seu programa antes da greve, compartilhou uma imagem de seus roteiristas e expressou apoio a eles em seu monólogo de abertura do programa na noite de segunda-feira.
No Met Gala, Fallon disse que esperava que a greve não fosse adiante, mas ao mesmo tempo queria ver um "acordo justo" para os roteiristas. "Preciso muito dos meus roteiristas, não tenho programa sem eles."
O apresentador do programa Late Night, Seth Meyers, expressou seu apoio à greve no segmento de correções de seu programa na sexta-feira.
"O que os roteirstas estão pedindo não é irracional", disse Meyers. "Como membro orgulhoso do Guild, sou muito grato por haver uma organização que cuida dos interesses dos roteiristas."
Saiba Mais
- Diversão e Arte Met Gala 2023: veja os looks das celebridades no icônico evento fashion
- Diversão e Arte Horóscopo do dia: confira o que os astros revelam para esta terça-feira (2/5)
- Diversão e Arte Met Gala: 7 dos melhores looks ao longo das décadas
- Diversão e Arte Jurado do 'MasterChef Austrália' morre um dia antes da estreia de programa
- Diversão e Arte Mulher viraliza após comer petisco para gato e internautas reagem: "Credo"
- Diversão e Arte Lulu Santos chega aos 70 com sólida turnê de relevância pop
'Pontos de atrito'
O WGA criticou os estúdios por criarem um modelo que visa transformar a escrita em uma profissão "totalmente freelancer".
"Pelo bem do nosso presente e do nosso futuro, não temos outra escolha", afirmou a organização em um longo documento.
A entidade pede o estabelecimento de uma equipe de TV mínima, variando de seis a 12 roteiristas por programa, bem como um número mínimo garantido de semanas de emprego por temporada.
Em sua própria declaração na terça-feira, o AMPTP chamou esses dois de "principais pontos de atrito".
Da sua parte, os estúdios coletivos disseram anteriormente que devem cortar custos devido a pressões financeiras, observando como os pagamentos gerais "residuais" aos roteiristas atingiram um recorde histórico de US$ 494 milhões em 2021.
O AMPTP também rejeitou uma exigência do WGA de que o uso de bots de IA fossem proibido de escrever ou reescrever material, e no lugar ofereceu a realização de "reuniões anuais para discutir os avanços na tecnologia".
O que aconteceu durante a última greve de roteiristas?
Muitos leitores se lembrarão de como as produções de TV e cinema se tornaram um pouco diferentes durante o auge da pandemia de covid, devido a rígidos protocolos de segurança, mas alguns podem não se lembrar dos efeitos semelhantes da última grande greve de roteiristas no inverno de 2007.
A greve foi motivada por pedidos dos roteiristas aos estúdios por novos contratos que lhes pagassem mais por trabalhos vendidos em DVD, baixados ou transmitidos online.
Para os telespectadores, esse movimento significou que programas de entrevistas de grande renome, que dependem muito dos roteiristas, saíram do ar.
A produção também parou nas principais séries, sitcoms e dramas do horário nobre, incluindo Ugly Betty, Desperate Housewives e The Office.
A greve custou aos fãs de Breaking Bad dois episódios de sua primeira temporada, no entanto (alerta de spoiler!) também poupou a vida de uma de suas principais protagonistas, Jessie, que corria o risco de ser eliminada do programa.
Outras produções se arrastaram sem seus escritores, muitas vezes com efeitos desastrosos.
A segunda temporada de Heroes, filmada durante a greve usando os primeiros rascunhos, foi considerada por muitos como inferior à primeira temporada e a série nunca se recuperou.
O melhor exemplo desse período talvez tenha sido o filme de James Bond, Quantum of Solace, conforme o ator Daniel Craig relembrou em uma entrevista.
"Tínhamos o esqueleto de um roteiro e então houve uma greve dos roteiristas e não havia nada que pudéssemos fazer", disse ele.
"Não poderíamos contratar um outro roteirista para terminá-lo. E lá fui eu tentar reescrever cenas - e não sou roteirista."
Depois que um acordo foi alcançado - os roteiristas receberam a promessa de uma porcentagem dos lucros futuros gerados - levou meses para a TV voltar ao normal.
Alex O'Keefe, roteirista da série The Bear e membro da WGA, disse à BBC na segunda-feira que metade de todos os roteiristas recebia o mínimo dos estúdios e que havia "uma subclasse em Hollywood no momento".
Ele disse que a produção criativa de seus colegas roteiristas está melhor do que nunca, atendendo às demandas da era do streaming, mas que eles recebem menos do que nunca.
"E roteiristas como eu, especialmente os roteiristas jovens, negros, indígenas, trouxeram toda uma nova onda de criatividade para o processo."
"Mas estamos nos vendo incapazes de sobreviver em lugares como Nova York e Los Angeles, onde precisamos estar."
O'Keefe enfatizou que, embora existam alguns profissionais que estão "indo muito bem", muitos roteiristas, incluindo alguns de grandes programas, não estão.
"Eu não classificaria todos os escritores como pobres ou falidos, mas posso dizer que tenho US$ 6 em minha conta bancária", disse ele.
Ele disse que quando ele e seus colegas ganharam o prêmio de melhor série de comédia no Writers Guild of America Awards, ele foi à cerimônia com um terno comprado para ele por seus amigos e sua família.
"A gravata foi comprada a crédito, eu não tinha dinheiro, estava com a conta negativa no banco", explicou.
O sindicato dos atores SAG-AFTRA e o sindicato dos diretores DGA se solidarizaram com os roteiristas em greve.
Saiba Mais
- Diversão e Arte Ed Sheeran ameaça abandonar carreira após ser alvo de processo: "É o fim"
- Diversão e Arte Matuê tem maior estreia da história do rap nacional no Spotify
- Diversão e Arte Maíra Cardi revela tatuagem íntima em homenagem ao noivo
- Diversão e Arte Ex-atriz ‘Chiquititas’ relembra casamento antes do OnlyFans
- Diversão e Arte Bruna Marquezine se irrita sobre suposta rivalidade com Anitta
- Diversão e Arte Cintia Abravanel revela motivo de relação distante do pai, Silvio Santos
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.