Música

Jards Macalé lança novo álbum de inéditas, o ‘Coração bifurcado’

Em 12 faixas, o trabalho tem nomes como Kiko Dinucci, Alice Coutinho, Romulo Fróes, Ronaldo Bastos e José Carlos Capinan

Pedro Ibarra
postado em 02/05/2023 06:00
 (crédito: Leo Aversa/Divulgação)
(crédito: Leo Aversa/Divulgação)

O que fazer quando você já fez tudo? Jards Macalé já passeou por estilos e gêneros musicais muito distintos, foi compositor, intérprete e principalmente um artista de um legado incontável para a música brasileira. A ele restou falar do universal, e por isso decidiu falar de amor. Com colaboração de amigos, Jards Macalé lançou Coração Bifurcado, novo álbum de inéditas com o tema amor.

Em 12 faixas convidou nomes como Kiko Dinucci, Alice Coutinho, Romulo Fróes, Ronaldo Bastos e José Carlos Capinan para, juntos, transmitirem, por meio da música, o amor. "Para mim, todas as canções são de amor, falando bem ou falando mal a vida é um jogo de amor", afirma Jards Macalé em entrevista ao Correio. Ele conta que o tema é tão de entendimento geral que nem pediu para que as letras tivessem o termo. "Não é preciso colocar a palavra amor, a situação já clareia a coisa do amor", explica. "As minhas músicas são feitas para transpirar sentimentos", conclui.

No lado musical, o disco transparece o que foi a trajetória de Jards: um pouco de tudo. "É uma mistureba danada, eu já não sei mais que tipo de música eu faço se é bolero, bolero canção, samba, samba canção, rock, jazz. Tem uma das músicas que eu dito as palavras que parece até um rap", conta. Ele promete que não tenta ser tão eclético, que é apenas o processo, talvez um resultado dos anos de estrada. "Esse caldeirão todo agora sai naturalmente. Não existe mais nicho para mim. O que é, é. O que sai, sai", pontua.

O álbum tem, além do nome, outro ponto que toca o coração. Macalé dedica a obra a Gal Costa. "Esse álbum é todo para a Gal Costa, que ia gravar comigo e infelizmente faleceu antes", lembra o músico. "Eu fiquei muito triste, não por ela não participar do disco, mas porque tinha perdido minha amiga e minha intérprete. Por isso, o disco, a turnê e tudo que vier deles é dedicado a Gal e sua grande voz", completa.

65 anos de música

Uma carreira longeva como a de Jards tem a beleza de ser um músico que vê o mundo mudando, mas tem a tristeza de se despedir de colegas e amigos no caminho. Gal não foi a primeira para quem Jards dedicou um trabalho, mas essas despedidas não são um fim para o compositor. "Esses amigos que se foram, para mim não foram. A coisa física não está mais presente. Porém, tudo que nós fizemos, conversamos e trabalhamos está dentro de mim. Tudo aquilo de conversa, compõe, canta e faz show, eu lembro de tudo com alegria", comenta. Quanto à imortalidade que a própria arte proporciona, prefere falar do presente. "Como João Donato falou em uma entrevista que eu e ele demos quando lançamos o nosso disco juntos: 'Enquanto eu entrar e sair do cemitério com as minhas próprias pernas, eu estou ótimo'", brinca.

Jards começou a escrever músicas aos 15 anos e passou por eras e gerações dentro do mercado musical. A obra do artista é simples, complexa, entendível e muito rebuscada. Ele tenta atribuir ao fato de ter tido uma formação musical extensa que foi do erudito ao popular, mas chega à conclusão de que apenas o tempo foi capaz de fazer ele chegar onde sempre imaginou que deveria estar. "Antigamente, eu era inexplicável para o mercado, que me achava um doido. Mas, para mim, sempre foi tão simples. Precisaram passar 65 anos para essas músicas se tornarem explicáveis", reflete.

As gerações passaram e, aos poucos, Jards foi reconhecendo cada vez menos os rostos que o acompanhavam. "Toda vez que eu olho para essa garotada entre 15 e 40 anos nos meus shows, me pergunto: onde está aquele meu grupo que me acompanhava, que viu o início da minha trajetória", diz o artista que assume que o fato não é ruim. "Outro dia uma mãe me apresentou o filho de 14 anos que dichavou minha obra inteira conversando comigo", recorda.

Macalé assume que já não faz as coisas na mesma pressa. "Quando me perguntam da minha carreira, eu corrijo, porque não é carreira, é correria. Eu passei todo esse tempo correndo atrás e continuo até hoje. Agora corro apenas de forma menos ansiosa para chegar em algum lugar", avalia. "Quando eu fiz 80 anos, no dia 3 de março, eu já vinha pensando muito nisso sobre essa data tão significativa que é completar 80 anos. Pensei muito nesse passado e cheguei à conclusão de que esse bloco passou. As coisas bacanas, os maus momentos, os bons momentos, tudo já passou, está resolvido", reflete. Não é mais hora de olhar para trás. "Daqui para frente, temos o presente, em que continuaremos fazendo coisas. E o futuro, meu amigo, a Deus pertence. Afinal, eu sou um jovem de 80 anos".

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