Jornal Correio Braziliense

Música

Summer Breeze: Lamb of God volta ao Brasil para participar do festival

Ao Correio, Randy Blythe e Mark Morton contam sobre a causa LGBTQIA+, o último disco, 'Omens', e o público brasileiro

Uma das últimas bandas de metal a fazer barulho considerável no mainstream, Lamb of God volta ao país neste sábado (29/4), logo após uma turnê com o Kreator, para a primeira edição brasileira do tradicional festival alemão Summer Breeze. O evento, que acontece no Memorial da América Latina, em São Paulo, junta grandes nomes do circuito mundial do heavy metal em quatro palcos espalhados pelo local.

Consolidada no começo dos anos 2000, com discos premiados e bem sucedidos no mercado, como Ashes of the wake, Sacrament e Wrath, Lamb of God divide o Hot Stage, sábado, com bandas como Blind Guardian e Skid Row. Domingo, o palco conta com nomes como Kreator, Testament e Krisiun.

Os outros palcos, Ice Stage e Sun Stage recebem Sepultura, Stone Temple Pilots, Avantasia, Accept, Crypta, Stratovarius e Napalm Death. Enquanto o Waves Stage, exclusivo para quem compra o ingresso da categoria Summer Lounge, recebe Apocalyptica, Tuatha de Danann e palestras de Simone Simons e Bruce Dickinson. A programação completa pode ser conferida nas redes sociais do evento.

No clima desse primoroso festival, dois dos fundadores do Lamb of God, Randy Blythe, vocalista, e Mark Morton, guitarrista, contam ao Correio sobre as experiências com o público brasileiro, o último disco, Omens, e o envolvimento com uma caridade em prol da juventude LGBTQIA+.

MATHIAS LOEVGREEN BOJESEN - Randy Blythe, vocalista e frontman do Lamb of God

Entrevista // Mark Morton e Randy Blythe

Me contem mais sobre as experiências com o Brasil…
Mark: Já faz algum tempo que fomos pela última vez, nem sei direito quando, acho que faz uns quatro ou cinco anos. O público brasileiro é famoso por ser absolutamente insano. Eu acho que heavy metal é um estilo de vida, em qualquer lugar que você for, mas no Brasil, e na América do Sul como um todo, vocês elevam isso a um patamar acima. É muito divertido tocar aí por conta da resposta da plateia.

 

O que havia na mente de vocês durante a composição de Omens?
Mark: Não foi drasticamente diferente, pelo menos na abordagem, dos outros discos que fizemos. Willie e eu principalmente tocamos riffs que sentimos um groove maneiro, que nos deixam animados, e fazemos as músicas a partir disso. Aí o Randy começa a escrever as letras e a gente vê no que dá. Essa é uma pergunta que sempre nos fazem, mas é sempre a mesma coisa (risos). Não temos uma fórmula, só tentamos ser bem genuínos. Minha única estratégia como artista é ser autêntico e fazer música que eu gosto de tocar e ouvir. Se os outros quatro caras concordam então está tudo certo.


Como foi a colaboração com o Kreator no single State of unrest?
Mark: Isso surgiu de uma turnê que tínhamos marcada com o Kreator que acabou adiada por causa da pandemia, aí começamos a trabalhar em uma música conjunta. Originalmente, essa música ia incluir o Riley Gale, do Power Trip, que também estaria na turnê. Mille e eu começamos, por meio da magia da internet, a jogar umas ideias aqui e ali e alguns clipes brutos de riffs de guitarra. Acabou que montamos a estrutura de uma música a partir disso.


Randy: Pra mim foi fácil não tive que fazer nada. Só fui e fiz minhas coisas de sempre, o Mille fez as coisas dele. Como o Mark mencionou, era para o Riley ter sido um dos vocalistas nisso então foi um pouco amargo para mim, porque sinto muita falta dele. Ele era um bom amigo e nós conversávamos muito sobre coisas além da música, mas fico feliz que os fãs gostaram, enfim.


No lançamento desse single, vocês anunciaram que o dinheiro arrecadado pela música seria doado para uma caridade voltada à juventude LGBTQIA+, que Riley Gale costumava ajudar. Como foi isso?
Randy: Bom, eu não me considero ativista de nenhuma forma, por mais que eu seja conhecido por me envolver em questões sociais. Para nós, doar esse dinheiro para uma caridade que o Riley ajudava foi uma decisão óbvia. Foi uma maneira que encontramos de honrar ele. Não tínhamos escrito a música com essa intenção, mas foi um jeito legal de pontuar que era para ele estar lá. Para mim, o que as pessoas fazem com suas próprias vidas, contanto que não estejam fazendo o mal, não é da conta de mais ninguém. Eu tenho amigos gays, nós já tivemos pessoas LGBT na equipe, então virar minhas costas e ter medo de dizer que “é OK abraçar sua própria sexualidade”, seria uma traição a pessoas com quem me importo profundamente.


Mark: Foi uma escolha pensada para honrar Riley e a comunidade com a qual ele lidava, conhecia e amava. Foi mais isso do que propriamente pontuar essa questão por nós mesmos, como uma banda. Não sei se dá para fazer uma declaração genérica por nós cinco, ainda mais porque nossas perspectivas e opiniões são diferentes em algumas maneiras, simplesmente por sermos humanos. Eu amo o fato que, politicamente, existe um grande espectro entre nós, mas essa ação de caridade foi algo que todos nós concordamos. Eu penso que nós somos todos seres humanos e temos diferentes experiências. Quanto mais honrarmos isso, mais conseguimos coexistir em um estado de harmonia.


Vocês diriam que as discordâncias políticas são combustível para o processo criativo?
Mark e Randy: Não (risos)


Randy: Nós costumávamos ser muito mais combativos como banda, e algumas pessoas diziam: “Oh, essa tensão é o que faz boas músicas.” Honestamente, eu acho que isso é um pé no saco, eu fico feliz que todos nós crescemos um pouco e aprendemos a ser mais gentis uns com os outros ao longo dos anos. Eu acho que é perda de tempo. Nós estamos fazendo arte, né? No processo de fazer arte com esses quatro nós entendemos o que nossa música faz e o porquê de ela ser importante para as pessoas, ao contrário de algum artista pop descartável que faz um hit no verão. Os fãs do nosso tipo de música têm isso integrado no estilo de vida deles, são uma comunidade. Então nos unindo e aprendendo a trabalhar um com o outro, respeitosamente, eu acho que fazemos melhores músicas. Eu passo mais tempo com esses caras do que com minha mulher, então eu não quero um monte de tensão, eu quero que a gente fique de boa.


O que vocês têm ouvido recentemente?
Mark: Eu escuto mais coisas que não são metal e acho que elas inevitavelmente influenciam o que eu faço. Bom, eu sou guitarrista, então ultimamente tenho ouvido muito Stevie Ray Vaughan, Marcus King, Led Zeppelin, The Rolling Stones, muito do rock e blues clássico. É onde encontro prazer. Como fã, eu mexo muito com algumas coisas de jazz também, as antigas do Miles Davis, coisas desse tipo.


Randy: O clima está ficando legal por aqui então tenho ouvido muito dub e reggae dos anos 1970… Eu costumo escutar músicas mais relaxantes. Eu enviei uma mensagem pro Mark há algum tempo, mandei uma música, De system, de um poeta jamaicano chamado Mutabaruka, que o refrão diz: “O sistema é uma fraude, o sistema é um cemitério.” Foi daí que surgiu a ideia de Resurrection man, que está no nosso álbum homônimo.


Como está a setlist?
Randy: Eu não sei… Como está, Mark?


Mark: Eu não sei, ainda não está batido o martelo. É uma tarefa tortuosa, nós temos nove discos do Lamb of God a essa altura e tem algumas músicas que os fãs esperam ouvir. Se não tocarmos elas, as pessoas sairiam desapontadas, temos evidências históricas que comprovam isso… Quando você adiciona essas músicas, não sobra muito espaço, então é sempre uma dificuldade. Eu não sei ainda o que vai ser da setlist mas está nos trabalhos, amigos...

Serviço

Summer Breeze Brasil
Memorial da América Latina, São Paulo. Sábado e domingo, a partir das 11h. Ingressos a partir de R$ 425, disponíveis em Ticket360.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira