A cantora indígena Brisa Flow cria manifesto audiovisual em videoclipe Etnocídio, ao se posicionar contra o Marco Temporal. O lançamento ocorre na mesma semana que o Acampamento Terra Livre (ATL) se instala na capital federal. Uma fala proferida durante a reunião do movimento indígena para manifestar contra a tese jurídica introduz o videoclipe Etnocídio, faixa pertencente ao disco Janequeo, lançado por Brisa Flow em 2022. O manifesto audiovisual ganha caráter documental com imagens captadas em manifestações no Distrito Federal e no Rio de Janeiro em 2021.
“O marco temporal diz que só tem direito a demarcação
da terra indígena quem estava na terra até 1988.
Ora, que terra indígena é essa?
Ao que nós sabemos, todo o território da América,
do Sul da Argentina ao Norte do Canadá,
é terra indígena”, canta Brisa Flow.
Os versos da cantora estreiaram nesta terça-feira (25/04) enquanto acontecia a maior Assembleia dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil, em que Brisaflow marcou presença. A artista, licenciada em Música pela Fiam Faam, traz reflexões em suas músicas sobre o genocídio dos povos indígenas, ao usar da arte deles e o rap como ferramenta para combater o epistemicídio. “Com a saída do governo fascista e a entrada do novo governo acredito que nos enchemos de esperança, mas ainda estamos aguardando a demarcação de terras”, diz, ao Correio, Brisa Flow.
Brisa relata que o que mais deu esperança foram os feitos do governo e os novos políticos em prol das vidas indígenas. “A criação do Ministério dos Povos Indígenas e também novos parlamentares indígenas representando dentro da política”, diz. A entrada de diversas mulheres indígenas, como Célia Xakriabá, é positiva ressalta Brisa. “A gente sabe o quanto a representatividade importa e o quanto é importante ter indígenas na política pelo bem viver da terra como um todo”.
A artista acredita que o maior desafio para artistas indígenas é fazer o que sabem fazer melhor: persistir. “É continuar acreditando, fazendo som e fazendo nosso trabalho em um país que infelizmente não valoriza os artistas indígenas”, pontua.
Artistas indígenas persistem ao dar tudo de si para continuarem, sem soltar a mão de ninguém. “A gente tem que dar toda hora do espírito, do corpo, da mente, da nossa saúde mental, da nossa saúde coletiva também, porque nós nos apoiamos muito para que a gente possa continuar fomentando, alimentando o nosso cenário”, afirma a cantora. “Isso que nos dá bastante esperança, essa união que temos criado entre nós, artistas indígenas, pra que a nossa cena cultural seja mais valorizada”, conta.
Brisa Flow finaliza ao relatar a importância de fomentar a cultura originária: “É importante, pois o Brasil tem muitos artistas indígenas talentosos que precisam ter mais oportunidades e espaço pra mostrar os seus trabalhos e seus dons”.
*Estagiária sob supervisão de Pedro Ibarra