A arte sempre esteve presente na vida do escritor, músico e poeta Bruno Fontes, 36 anos. Nascido em Taubaté, no interior de São Paulo, herdou a paixão pela escrita do avô, Saavedra Fontes. Bruno, que também é jornalista, começou sua carreira artística na banda Soulstripper, muito popular nos anos 2000, mas que encerrou suas atividades em 2013. Desde esse desfecho, priorizou a poesia e encontrou nas obras produzidas uma nova forma de se reinventar. Ele, inclusive, acaba de lançar seu mais novo livro — As menores histórias de amor do mundo e outros absurdos — que contempla minicontos, minicrônicas e histórias de amor.
Falar sobre sentimento é uma das especialidades de Bruno. Na antiga banda, usava o talento para compor como trampolim para chegar à poesia. Antes das letras virarem música, postava frases nas redes sociais. Caso o retorno do público fosse positivo, os versos ganhavam vida através de ritmo e melodia. “Eu sempre divulguei minhas poesias, sempre compartilhei no Facebook, onde éramos famosos. Eu comecei a escrever sem ser pra música”, relembra.
Para quem é um pouco mais antigo, sabe bem que as várias letras e frases de Bruno eram bem famosas, especialmente no querido Tumblr, muito usado pelo público na época. Assim que parou de tocar, o processo para pegar gosto de escrever diariamente levou tempo. O primeiro passo foi participar de uma obra de antologias poéticas a convite de uma amiga, em meados de 2015. O texto produzido para o livro foi publicado na época. Com isso, ficou uma pulga atrás da orelha e uma chama começou a acender-se: Bruno precisava escrever um livro.
O que eu faço com a saudade?
Essa necessidade nasceu, mas nem ele sabia bem o porquê. Para conseguir os recursos necessários para a produção da obra, contou com financiamento coletivo, uma ajudinha por meio dos fãs. O suporte, inclusive, passou das expectativas do escritor, que vendeu mais de dois mil exemplares na época. O que eu faço com a saudade? veio ao mundo em 2017, mas acabou bem rapidinho, recorda Bruno.
Publicado de maneira independente, o livro fez tanto sucesso que uma editora o convidou para relançar as poesias em uma nova edição com novos textos. “Eu ainda não olhava isso como uma questão profissional, até que veio esse convite. Entramos em um acordo para fazer mais 50 textos. O livro foi relançado em 2019 e já está indo para a quinta edição. É o meu maior sucesso”, afirma.
Graças a esse carinho, conseguiu, finalmente, vestir a roupa de poeta que tanto lhe causava temor. Ele até se autodenomina como 'poeta por acidente'. Em suas palavras, Bruno descreve que sempre teve dificuldades de se enxergar nesse meio. A experiência positiva o fez ter coragem e ver que suas palavras encontravam caminho no coração e no gosto de outras pessoas. A trajetória o garoto de Taubaté estava apenas começando.
Mais livros
A primeira obra é a preferida do autor. Uma escrita jovem, com belas ilustrações espalhadas ao longo das páginas. Apesar do afeto, Bruno não arrisca reler o livro. “Referente a essa relação que tenho, não quero ler porque não sei o que vou achar”, enfatiza, em tom descontraído.
Comparado ao volume do que escreve de poesia, Bruno detalha que lê muito pouco outras obras. Seu grande apreço é por contos, algo que sempre gostou. “Cheguei na poesia muito depois. O que eu escrevo até chega a ser um pouco infantil. Tenho mais facilidade em escrever uma crônica. Vivo esse processo ao contrário”, diz o poeta.
E foi nesse caminho inverso que ele encontrou espaço para escrever um de seus livros preferidos. Ao lado do escritor e amigo Zack Magiezi, produziram juntos O amor vem depois, nascido no período pandêmico. De acordo com ele, nunca tinha escrito algo tão grande. Mas, apesar disso, revela que se sente muito satisfeito com o resultado. E fazê-lo na companhia de um grande colega de vida e carreira como Zack deixou o caminho até a publicação ainda mais bonito.
Para se reafirmar
Depois de tantos textos e produções, As menores histórias de amor e outros absurdos contempla uma coletânea de textos de Bruno, juntos, para uma mesma época — o agora. Diferente dos outros livros, esse tem um tempero especial. “Antigamente eu falava sobre histórias minhas, sempre referente a outra pessoa, alguém que eu me relacionei. Neste, falo de histórias que não são minhas, criando personagens de amor, tanto escrevendo na primeira pessoa como não”, ressalta.
Essa nova forma, segundo o escritor, apareceu para que o leitor, em si, pudesse navegar mais em suas poesias. Além disso, ele mesmo precisava dessa novidade que é possível encontrar sempre através da arte. Passou a observar mais os amigos, os bares e as ruas que frequentava. Tudo isso para escrever com carinho histórias que não são suas — mas que no papel tornam-se de todo mundo. “É muito prazeroso chegar nesse lugar que eu nunca pisei”, conta.
O processo foi bem rápido, pois já tinha muito do livro em mente. Entre os 450 textos escritos, 200 foram selecionados. A capa do livro é uma grande paixão de Bruno. Vindo de uma família cheia de portugueses, a andorinha presente na ilustração é um dos grandes símbolos do país luso. Feliz com o retorno das pessoas, Bruno comenta que seus fãs estão adorando a obra. “Não é um livro que eu me arrisco, é um livro que eu me reafirmo. Eu quero mostrar que posso repetir tudo o que fiz no primeiro, e continuar dando minha cara. Voltar para onde eu sei”, pontua.
Redes sociais e o futuro
Além dos livros, outro lugar em que Bruno se faz presente é a internet. Com mais de 500 mil seguidores acumulados por diversas redes sociais, o escritor posta seus textos, páginas com frases de suas obras e vídeos em que ele aparece narrando seus escritos. E são nesses registros que o público mais o adora. Algumas das gravações contam com milhões de visualizações.
No entanto, ele não enxerga a plataforma como um trabalho, apesar de achar bem árduo se manter conectado o tempo todo. “Tento temperar tudo, vou continuar fazendo, mas vai ser sempre assim. O vídeo é uma coisa que faço e acho lindo. É uma ferramenta para o leitor”, acredita.
Para o futuro, descanso. E, quem sabe, arrumar uma namorada, segundo Bruno. Escrever algum livro não está em sua mente, pelo menos por agora. Para os dias atuais, confessa apenas querer trabalhar na divulgação deste que acabou de sair.