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Blind Guardian volta ao Brasil após 8 anos para o Summer Breeze

Ao Correio, Hansi Kürsch, vocalista da Blind Guardian fala sobre sua relação com a arte, com o público brasileiro e sobre o último disco da banda, ‘The God machine’

Franco C. Dantas*
postado em 28/04/2023 12:50 / atualizado em 02/05/2023 11:32
 (crédito: Dirk Behlau/Divulgação)
(crédito: Dirk Behlau/Divulgação)

A brisa ardente do verão alemão sopra pela primeira vez em solos brasileiros neste fim de semana. Já consagrado na Europa, um dos maiores festivais de heavy metal do mundo, Summer Breeze Open Air, faz sua estreia em São Paulo, no Memorial da América Latina, neste sábado (29/4) e domingo (30/4). Com mais de 30 atrações, a line-up é perfeita para os headbangers latino-americanos.

Quatro palcos recebem a tão antecipada programação do evento. O Hot Stage tem shows de bandas consolidadas no circuito do metal mundial, como Blind Guardian, Lamb of God, Krisiun, Kreator e Testament. Simultaneamente, o Ice Stage conta com mais alguns nomes de peso, como Stone Temple Pilots, Sepultura, Avantasia e The Winery Dogs.

Programação detalhada do evento pode ser conferida nas redes sociais do Summer Breeze Brasil
Programação detalhada do evento pode ser conferida nas redes sociais do Summer Breeze Brasil (foto: Summer Breeze/Divulgação)

O Sun Stage, de menor proporção que os outros dois, recebe Accept, Crypta, Stratovarius e Napalm Death. O quarto palco, Waves Stage, é exclusivo para quem comprar os ingressos da Summer Lounge e vai contar com atrações como Apocalyptica, Tuatha de Danann e Evergrey, além de palestras com Simone Simons e Bruce Dickinson.

A Alemanha é logo ali

Conhecida banda do circuito alemão, a Blind Guardian, grande headliner do primeiro dia de evento, volta ao Brasil pela primeira vez em oito anos. Aqui, quase como uma segunda casa, o grupo é sempre recebido calorosamente pelos muitos fanáticos por power metal, uma das vertentes do metal mais populares e frutíferas nesse país.

Fundada em 1984, sob o nome Lucifer's Heritage, a banda se consagrou nas décadas seguintes com discos seminais do que veio a ser o cenário do power metal germânico, como Somewhere far beyond, Follow the blind e Imagination from the other side. Atualmente, divulgam o último disco, The God machine, lançado em setembro de 2022 com um som bem mais pesado e sombrio em relação aos últimos trabalho do conjunto.

Com três membros da formação clássica, Hansi Kürsch, André Olbrich e Marcus Siepen, a banda ainda conta desde 2005 com o baterista e percussionista Frederik Ehmke, além de músicos de apoio para as performances ao vivo. O vocalista e líder do grupo Hansi conta ao Correio sobre as expectativas para a participação no Summer Breeze, o processo criativo por trás do último disco e suas visões pessoais sobre arte, história e a trajetória do grupo, que já acumula quase 40 anos de irreverência.

Entrevista // Hansi Kürsch

Como é voltar ao Brasil?
É um sentimento ótimo voltar depois de tantos anos. Acho que faz 7 ou 8 anos, não é o que nós esperávamos quando deixamos o Brasil pela última vez, achávamos que ficaríamos longe por uns 3 ou 4 anos, mas as coisas tomaram outro rumo. Estamos aliviados de voltar e tocar no Summer Breeze, estamos cheio de energia, procurando aquele sentimento vívido que percebemos toda vez que tocamos no Brasil.


O que inspirou o processo criativo de The God machine?
A princípio, o disco foi muito inspirado por nossas turnês, pelas experiências que cultivamos em tantos países e por como as pessoas receberam o nosso disco antes desse. Tentamos fazer coisas novas e arrumar algumas questões que tinham ficado de lado. Isso tudo rolou durante o período de composição do álbum, mas então o coronavírus aconteceu e passou a sugar muito de nossa energia. Surpreendentemente, esse disco foi o que trouxe novos ares para isso, justamente porque tinha tanta agressividade e raiva em todo mundo, pela sensação de impotência por ficar trancafiado.


Como se deu essa abordagem mais incisiva no som do disco?
Às vezes, quando nos juntamos para a produção, muitas vezes temos visões diferentes de para onde ir com o álbum. Entretanto, dessa vez em específico, todos nós estávamos na mesma página quanto a intensidade e filosofia de gravar e performar. Acho que isso culminou num sólido e poderoso álbum, com muito mais intensidade do que alguns dos que fizemos antes, por mais que o processo de escrita em si fosse pouco diferente.


Historicamente, o Blind Guardian faz muitas referências à literatura, desde Tolkien até Neil Gaiman, como no último disco. Como esses tópicos literários se tornam pauta da banda?
Eu diria que a música em si sempre dita o tópico com a qual eu vou lidar depois, quando eu for fazer a letra. Eu pego uma noção cedo no processo de composição, normalmente eu e André trabalhamos mais no material, e, assim que finalizo as melodias dos vocais, eu já tenho alguma ideia: “Essa música é sombria, essa outra é animada, essa contém alguns aspectos narrativos, essa é sobre a Terra Média.” Tudo isso me direciona quando vou atrás do conteúdo lírico.


Você se considera um ávido leitor?
Eu leio muito algumas coisas históricas e às vezes isso se reflete nas letras. Às vezes algumas coisas filosóficas… No momento estou lendo muito mesmo sobre história, lidando muito com a Grande Guerra, menos sobre política ou o confronto direto, mas mais sobre os aspectos filosóficos e abstratos. Qual a correlação entre tempo e poder? Estou atrás disso e chegando a algumas conclusões próprias. Acho que a história ajuda a entender o mundo atual.

 

Blind Guardian
Blind Guardian (foto: Dirk Behlau/Divulgação)


Em playlists feitas por vocês, estão algumas das músicas prediletas de cada um, com nomes inesperados, como Dead Kennedys, Korn e Suicidal Tendencies. Você diria que essas referências influenciam o som da banda?
Tenho certeza que há pessoas que vão reconhecer essas influências. Jello Biafra, por exemplo, como vocalista, teve um enorme impacto no jeito que eu faço os meus vocais. Eu escutava Dead Kennedys muito antes de haver Blind Guardian e antes sequer de eu começar a fazer música. Sempre me interessei por como ele traz suas técnicas para o universo do punk e como ele expressava certas coisas em termos musicais. Ele era um vocalista muito melódico para um punk.


E Suicidal Tendencies?
Uma banda como Suicidal Tendencies traz coisas que podem ser ouvidas no nosso som, mesmo que não seja o aspecto mais significativo dele. Se você sabe que estamos ouvindo bandas de thrash como Slayer, por exemplo, então você entende como nossa abordagem ao power metal, ou heavy metal, que é como chamamos, é mais pesada do que a de outras bandas. Nós somos um pouco mais intensos no nosso gênero e acredito que isso seja apreciado pelas pessoas.


Como você percebe seus vocais no momento atual?
Eu estou em paz comigo mesmo, hoje mais do que nunca. Me sinto muito confiante com o que estou fazendo quando o assunto é cantar e me sinto muito confiante também com o que estamos fazendo como banda. Isso tira muito da pressão e do estresse que havia no final dos anos 1990 e no começo dos anos 2000. Eu me estressava com tudo e era guiado por futilidades, mas agora sinto que ainda temos o gás para conquistar coisas que não temos. Ainda queremos ser bem sucedidos e melhorar como músicos, mas me sinto muito mais tranquilo em relação a isso. Mas claro, com a idade aumentando, também aumentam as demandas para a minha voz. Há uma mudança natural com a qual tenho que lidar, mas ainda não perdi nada do meu alcance vocal, talvez esteja até maior do que estava nos anos 1990.


O que te move como artista?
Eu diria que é a sensação de ainda não ter conquistado tudo que eu quero conquistar na música. Não chega a ser algo tão definido assim, mas eu tenho o sentimento que ainda há espaço para melhorar.


Como está a setlist para esse reencontro com o Brasil?
Ainda estamos no começo da mudança de setlist e não estivemos no Brasil por mais de sete anos. O que pretendemos fazer no Summer Breeze é trazer o disco Somewhere far beyond para o público, uma vez que nunca tocamos esse álbum na íntegra no Brasil. Esse é o foco principal. Especialmente no Summer Breeze, estamos tentando manter a atenção nas partes mais clássicas da discografia, isso vai agradar as pessoas.

Serviço

Summer Breeze Brasil
Memorial da América Latina, São Paulo. Sábado e domingo, a partir das 11h. Ingressos a partir de R$ 425, disponíveis em Ticket360.

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