Na Brasília do artista Christus Nóbrega, os índios são os guardiões reais e oficiais do Planalto Central, as relações homoafetivas também estão presentes no canteiro de obras da nova capital, que é formada pelos setores do vento leste, oeste, norte e sul e foi erguida em terreno marcado por uma bonita lenda dos cristais. Entre uma construção e outra, nesse espaço imaginário, Paulo Freire mandou construir salas de leitura para os operários e a quadra modelo é circular. A capital de Christus Nóbrega é uma utopia construída sobre um sonho que começou na infância e tomou uma dimensão poética no século 21. Esse devaneio é o material de Brasília, enfim, exposição que se espalha pelo Panteon da Pátria, Museu Histórico de Brasília, Espaço Lúcio Costa, Espaço Oscar Niemeyer e Brasília Shopping. A escolha dos locais teve um propósito: reativar lugares pouco frequentados pelos habitantes da cidade.
O trabalho é uma homenagem a Brasília, uma espécie de agradecimento do artista paraibano que sempre se sentiu bem recebido na capital, mas também uma celebração das próprias memórias. Christus era menino quando a mãe — uma pedagoga e professora universitária que viajava à cidade com frequência — contava histórias de como Brasília nascera. As narrativas pareciam fábulas futurísticas e viravam imagens e cenários na cabeça do garoto. Mais tarde, a irmã de Christus, cientista da computação com especialização em inteligência artificial, introduziria o artista ao universo das possibilidades desse tipo de ferramenta tecnológica. "Eu tinha uns 5, 6 anos, e minha mãe, quando voltava das viagens, descrevia magicamente o que era Brasília. E eu ficava imaginando", conta.
Foram essas lembranças que Christus levou aos mais de 10 softwares de inteligência artificial utilizados para criar as imagens de prédios e pessoas de Brasília, enfim. "Fui contando para a máquina essas histórias e ela foi criando as imagens. São muitas ferramentas, porque cada uma trabalha uma parte e depois faço o cruzamento entre elas, o que dá essa ideia ficcional sobre Brasília", diz. A exposição está dividida entre imagens dedicadas ao patrimônio humano da cidade, ao histórico e ao arquitetônico. Em todos, há textos que criam narrativas ficcionais para a cidade e seus pontos históricos, muitas delas ancoradas na realidade, como a abundância de cristais, a presença do lobo guará e a intoxicação intencional dos operários nos canteiros de obras por parte dos empreiteiros, mas todas acrescidas de uma parte fantasiosa que ajuda a construir a ficção.
É nessa fantasia que reside a utopia. Na cidade ficcional de Christus, há acertos que nunca foram uma realidade na Brasília de JK. "É muito estranho porque as pessoas se reconhecem, mas, ao mesmo tempo, estranham", afirma. "Quem visita a exposição tem acesso a várias pequenas ficções, como se estivesse lendo um livro de história e encontrando micropontos."
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