Artes plásticas

Artista popular Severina Gonçalves é tema de livro-catálogo

"Severina dos Bichos — A arte feita em alerta" conta um aparte da história da artista e mostra como se dá a produção de suas esculturas

Maria Luiza Castro*
postado em 25/04/2023 10:10 / atualizado em 25/04/2023 10:29
 (crédito:  Kazuo Okubo)
(crédito: Kazuo Okubo)

O livro-catálogo Severina dos Bichos — A arte feita em alerta, recém-lançado, traz as esculturas de Severina Gonçalves, moradora de Planaltina, produzidas a partir de materiais descartados no lixo. As esculturas têm formato de animais e aves. O livro conta uma parte da história de Severina, mostra como a artista representa a força da mulher idosa, periférica, que pode ter vez e voz.

Ana Mago, uma das produtoras do livro e filha da artista, lembra que ela iniciou o projeto reutilizando cera da abelha Jandaíra. Severina era criança ainda, e brincava com poucos recursos que tinha. Depois, experimentou novos materiais como papelão, arames e tudo o que poderia ser reaproveitado se transformava em suas mãos. A brincadeira de bichinho se tornou algo mais sério, e, aos 10 anos, já doava suas esculturas para serem leiloadas na quermesse da igreja. Mesmo sem entender o significado da palavra, aos 5 anos Severina já era muito criativa.

Todo o material utilizado pela artista tem o intuito de ser sustentável. Severina mostra que o ser humano acaba com a fauna, destrói a vida silvestre e os rios. Ela demonstra no livro que é possível cada um fazer sua parte com amor e arte. A escolha dos animais e aves como temas das esculturas se deu ao fato de ela ter sido nascida e criada no interior. "Inclusive de animais que nunca viu, mas quando vê uma imagem de algum bicho que ela acha interessante já diz 'vou fazer uma desse aí'", conta Ana.

Para Severina, fazer as esculturas é como brincadeira de criança. Produzir é o que a mantém lúcida aos 83 anos, e também é o que a ajudou e, ajuda até hoje, com as despesas da casa. Além de preservar a natureza, porque em vez de jogar fora, ela destrói e reconstrói em forma de escultura. O material é recolhido na rua, nos lixões, na esquina, e algumas pessoas até doam e ao invés de jogar fora, ela destrói e reconstrói em forma de escultura. Essa é a arte de Severina, ela diz que é uma arte única, que ela mesma criou e aperfeiçoou, sem intervenção ou influência de ninguém.

De acordo com Ana, Severina costuma dizer que está tudo na cabeça dela. A artesã nunca estudou arte, mas consegue ver arte em tudo. "Pode ser uma folha de árvore ou um besouro morto, um resto de corda achado no monturo, arames retirados de eletrônicos, tudo em suas mãos toma uma proporção, beleza e criatividade que não posso deixar de achar incríveis", diz a filha.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

 


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