Lisboa — Muito emocionado — com a voz embargada por vários momentos —, o cantor, compositor e escritor Chico Buarque de Holanda priorizou a política no discurso de agradecimento pelo Prêmio Camões, entregue a ele quatro anos depois de a honraria ter sido anunciada. Sem citar o nome de Jair Bolsonaro, que, em 2019, se recusou a assinar a condecoração, ele afirmou: “O ex-presidente teve a rara fineza de não sujar meu Prêmio Camões “. O diploma foi entregue pelos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. O artista receberá 100 mil euros (R$ 560 mil). Chico Buarque dedicou o prêmio a tantos autores humilhados e ofendidos nesses anos de estupidez e obscurantismo.
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Chico abriu o discurso ressaltando a importância que o pai, Sérgio Buarque de Holanda, teve em sua obra, tanto como compositor quanto como escritor. Também destacou o papel político dele, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT). “Mas ele não viu a restauração da democracia no país nem que o Brasil cairia em um profundo poço (nos últimos quatro anos)”, afirmou.
Já mais descontraído, brincou que temeu a possibilidade de ter o prêmio cancelado depois de longos quatro anos de espera, com uma pandemia no meio e o obscurantismo como marca do último governo. O artista contou que seus antepassados tentaram apagar da história que a família tinha sangue negro e indígena, a miscegenação brasileira. “Tenho sangue dos açoitados e dos açoitadores”, frisou.
O artista afirmou que se sentia honrado por receber um prêmio tão importante — um dos mais celebrados do mundo — como escritor, mas faz questão de ser reconhecido no Brasil como compositor popular. Ele destacou, ainda, que a democracia venceu no país com a eleição de Lula. Porém, alertou que os quatro anos “de um governo funesto”, que deixou raizes do fascismo. “Não podemos nos descuidar”, avisou.
Em dois momentos, Chico levou a plateia às gargalhadas. Primeiro, quando disse que sua mulher, Carol Proner, atravessou uma das avenidas de Lisboa para comprar a gravata que ele estava usando. Uma ironia à polêmica criada em torno da gravata comprada pela pela primeira-dama, Janja da Silva, em uma loja de luxo.
A segunda, quando disse que teria direito à cidadania portuguesa, pois descendia de judeus sefarditas, que fugiram de Portugal para o Brasil fugidos da perseguição da inquisição. Em seguida, ressaltou: “Já morei fora do Brasil e não pretendo repetir a experiência. Em Portugal, me sinto mais ou menos em casa”.
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