Artes Cênicas

Musical narra a vida de Dominguinhos nos 10 anos da morte do artista

Espetáculo musical 'Isso aqui tá bom demais' no Teatro Plínio Marcos homenageia o mestre pernambucano da sanfona

Irlam Rocha Lima
postado em 13/04/2023 10:36 / atualizado em 13/04/2023 10:52
 (crédito:   Priscila Prade/Divulgação)
(crédito: Priscila Prade/Divulgação)

Acordeonista, cantor, compositor e arranjador, José Domingos de Moraes, o Dominguinhos, era um artista completo. Pernambucano de Garanhuns surgiu como o mais dileto discípulo de Luiz Gonzaga, a quem acompanhou em várias oportunidades, tanto em estúdio quanto no palco. Morto em 2013, aos 72 anos, deixou um rico legado musical.

Parceiro de Anastácia, Nando Cordel, Gilberto Gil e Chico Buarque, Dominguinhos se tornou conhecido por, a partir do seu trabalho, ter unido o regional de um Brasil profundo com o que havia de mais moderno na música popular brasileira. Isso, ao cantar a experiência humana, em sua essência, com alegria, humor, poesia e leveza.

Em mais de 50 anos de carreira — iniciada na infância — gravou 40 discos, a maioria de forma instrumental. O último trabalho foi o DVD Iluminado Dominguinhos, de 2010. Entre os maiores sucessos de sua obra estão Eu só quero um xodó, Tenho sede, Abri a porta, Lamento sertanejo, Pedras que cantam, De volta pro aconchego e Isso aqui tá bom demais.

O multi-artista nordestino é celebrado na passagem do décimo ano de sua morte com o musical Isso aqui tá bom demais, que depois de estrear em São Paulo cumpre turnê pelo país e chega a Brasília para apresentação, a partir desta quinta-feira (13/4) e até domingo (16/4), no Teatro Plínio Marcos.

Idealizado por Gabriel Fontes Paiva, responsável pela direção artística, o espetáculo tem direção musical de Myriam Taubkin. Ambos trabalharam durante vários anos com Dominguinhos. O texto, com base na trajetória do homenageado, é da dramaturga e jornalista Sílvia Gomez.

"Quando Dominguinhos morreu foi um momento difícil, porque o acompanhamos de perto. Era muito querido e sempre foi uma delícia trabalhar com ele. Pouco depois da morte dele, procurei a Myriam, minha parceira no Projeto Memória Brasileira, que documenta a memória viva da música brasileira há 35 anos, para criar um musical sobre a vida e obra desse gênio", revela Paiva. "Foram sete anos elaborando, negociando direitos autorais e viabilizando o espetáculo. E, hoje, entendo que conseguimos construir o projeto ideal com dezenas de outras pessoas, que compreendem, respiram e vivem neste universo", acrescenta.

Sobre o processo de construção da dramaturgia, Silvia Gomez lembra que o texto foi escrito ao longo de dois anos, a partir de entrevistas com pessoas que conviveram com Dominguinhos, como Anastácia, Gabriel Fontes Paiva e Myrian Taubkin. Além disso, o jornalista Lucas Nobile assina a pesquisa documental que apoiou a escrita dramatúrgica.

O musical conta certas passagens da vida e da obra de Dominguinhos, misturando documentário e ficção, para o artista relembrar a trajetória, por meio de músicas, fotos, parcerias profissionais e afetivas, enquanto conversa com sua maior e fiel companheira, a sanfona.

Boa parte do elenco da peça veio do universo da música, como é o caso de Liv Moraes, filha, cantora e parceira de Dominguinhos; Cosme Vieira, que tocou sanfona com o mestre, quando ainda era criança; o compositor e arranjador Zé Pitoco, que acompanhou o acordeonista em inúmeros shows; o ator e professor de música Wilson Feitosa; além de Luiza Fitipaldi, Hugo Linns e Jam da Silva, expoentes da nova geração de atores e cantores originários de Pernambuco.

Detentor de prêmios como o Grammy Latino e da Música Brasileira, embora morasse em São Paulo, Dominguinhos sempre voltava ao Nordeste, desde as primeiras turnês com trios, no início da carreira. E nunca deixou de se apresentar nas tradicionais festas juninas de Caruaru (PE), Campina Grande (PB) e Feira de Santana (BA). Como evitava avião, fazia as viagens sempre de automóvel.

Boa parte do elenco da peça veio do universo da música, como é o caso de Liv Moraes, filha, cantora e parceira de Dominguinhos; Cosme Vieira, que tocou sanfona com o mestre, quando ainda era criança; o compositor e arranjador Zé Pitoco, que acompanhou o acordeonista em inúmeros shows; o ator e professor de música Wilson Feitosa; além de Luiza Fitipaldi, Hugo Linns e Jam da Silva, expoentes da nova geração de atores e cantores,originários de Pernambuco.

 

Entrevista: Liv Moraes

 

Que lembranças guarda do seu pai?

São muitas lembranças que guardo do meu pai. Era engraçado porque a gente ia almoçar ou jantar, mas ele sempre escolhia ir para o restaurante mais longe...Andar de carro nos acalmava. Ele passeava comigo até eu dormir. Mas são muitas lembranças...Do cheiro, do abraço..

Qual é a avaliação que faz do legado de Dominguinhos?

Ele deixa um legado muito importante aqui. Era uma genialidade fora do normal. E suas músicas eram diferentes. Não tinha um único estilo específico. Eram improvisos incríveis nas canções dele ou nas participações. Ele tinha um jeito de cantar que era só dele. E esse jeito único era tanto na voz, quanto na sanfona que ele urbanizou. Foram muitos ritmos e riquezas e a gente aqui, perpetuando. É uma honra imensa.

  

Como foi o processo da parceria entre vocês?

Olha, meu pai era um parceiro musical incrível. E como eu escrevo várias poesias, ele um dia achou uma das minhas poesias que chama Vários caminhos e musicou. E virei parceira dele quando tinha de 8 pra 9 anos. E foi uma experiência única e inovadora, até porque eu era muito nova, não tinha noção. Fora isso, ele era o meu melhor amigo, parceiro de chorar as pitangas.

 

Entre as canções compostas pelo mestre da sanfona quais considera as mais emblemáticas?

Eu só quero um Xodó, dele com Gilberto Gil, foi um boom na carreira do meu pai. Foi quando reconheceram a importância dele na MPB como compositor, como músico. Ainda, De volta pro aconchego, gravado por Elba Ramalho, e Pedras que cantam, que foram para as novelas e fizeram com que ele se expandisse nacionalmente. Fora ainda o lindo trabalho que ele fez com Gal. Tem várias, né. Mas, essas são muito importantes pra ele.

O Isso aqui tá bom demais retrata bem o mestre da sanfona?

O musical é um reencontro e em encontro com meu pai e com a história dele. Você se vê dentro da história dele. Apesar de ter participado de boa parte da vida do meu pai, você estar ali com ele na feira, por exemplo...Por isso digo que é um encontro/reencontro comigo mesma e com meu pai. É um presente, ainda mais por estar com todo esse elenco, diretores e equipe maravilhosa. Me sinto realizada e feliz!

 

A montagem do espetáculo faz jus ao homenageado?

O legado dele com certeza está sendo muito bem representado por este roteiro rico e belo da Silva (Gomez). Ainda, a maravilhosa direção de Gabriel Paiva e direção musical de Myriam (Taubkin), que escolheu muito bem as músicas. Afinal, são muitas músicas. Se fossemos colocar todas as músicas quantos dias ia durar esse musical (rs). A Myriam fez um lindo trabalho com Hugo Linns. Tá lindo demais, as pessoas se emocionam demais e conhecem mais da vida e da obra de José Domingos de Morais.

 

Como é voltar a Brasília, agora como participante do musical?

Estou muito feliz. Meu pai tinha um carinho demais por Brasília. Já fomos de carro, eu ainda pequena, e dormíamos em Brasília. E ele ia muito pra tocar forró, chorinho. Estou muito ansiosa para chegar à capital e para que povo conheça esse musical, se emocione, dê risada e saia mais leve e em paz...Como meu pai gostaria que fosse, que é de passar essa paz e leveza da vida.

 


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