O Prêmio Geek de Literatura reconhece autores e artistas brasileiros, geeks e independentes e suas obras. Este ano (2023), os vencedores, por voto popular, foram Zona livre, de André de Carvalho, na categoria ficção, e O monstro debaixo da minha cama, de Luckas Iohanathan, na categoria quadrinhos. Eles receberam R$ 10 mil e um contrato para publicação impressa da obra pela editora Pipoca & Nanquim.
Zona Livre é um livro thriller de investigação, mas com uma estética futurista. Nesta ficção, existe um dispositivo chamado neurolink, um aparelho conectado ao cérebro e com a internet que permite filmar aquilo que o personagem vê. Após Filipe ser filmado por um neurolink e o vídeo viralizar, sua vida muda completamente… para pior.
O autor André de Carvalho fala, ao Correio, sobre o processo criativo. “Comecei a trabalhar em Zona Livre a partir de um conceito central e alguns eventos catalisadores, sem saber, de antemão, como conectá-los. Desenvolvi um esboço do enredo, ainda cheio de lacunas, e dei início à campanha de escrita. Muita coisa foi se revelando durante o processo”, relata. Durante esta primeira etapa. o autor trabalhou no livro diariamente em torno de 10 a 12 horas, durante dois meses. “No segundo tratamento, procurei pavimentar os alicerces. Busquei os pontos fracos, resolvi problemas estruturais da narrativa, acrescentei cenas novas e procurei tornar as que já existiam mais convincentes. Cortei excessos, suprimi passagens desnecessárias, fui fortificando o conflito e deixando o texto mais coeso”, explica. “Nas revisões subsequentes, tive uma preocupação maior com o estilo. Com uma intimidade maior com os personagens, o texto foi ganhando profundidade, até chegar à forma final”, completa. Esses processos levaram cerca de nove meses.
Algo importante para o desenvolvimento de um livro de ficção é a criação do mundo, suas regras e dinâmicas. André se inspirou no cyberpunk para criar este aspecto do livro. “Este gênero é regido pela expressão ‘alta tecnologia, baixa qualidade de vida’. São Paulo é uma cidade que traz bastante desse antagonismo, e me pareceu o palco ideal para a história”, ressalta. A ideia desta São Paulo futurista e decadente surgiu durante a pandemia do coronavírus. “O isolamento social escancarou a nossa relação obsessiva com as tecnologias. A sensação de viver dentro de uma tela gerou em mim uma inquietação persistente. Quis refletir sobre isso”, adiciona.
Sobre ter ganhado o prêmio, o autor diz estar muito feliz. “Além de ser um reconhecimento muito importante do meu trabalho, é um incentivo para seguir produzindo”, afirma. Carvalho também celebra a publicação em formato impresso pela editora Pipoca & Nanquim. Atualmente, o livro existe apenas em formato digital.
Atualmente, o autor trabalha em um romance de terror no espaço sideral, ambientado no amanhã das viagens interplanetárias. "Sou muito curioso com os rumos da ciência e da tecnologia e estou bastante empolgado com as discussões recentes a respeito da astronomia. O espaço voltou aos noticiários, voltou a ser assunto nas mesas de bar. A ideia de que, no futuro, o homem será capaz de viajar pelo cosmo é bastante provocativa”, opina. O futuro livro também contará com um toque brasileiro. “A brasilidade é uma das preocupações da minha literatura. Acredito que, através do tema da colonização planetária, será possível estabelecer paralelos com a nossa história colonial e refletir sobre alguns paradigmas do nosso mito fundador”, afirma.
*Estagiária sob a supervisão de Nahima Maciel
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