MÚSICA

Conquistando cada vez mais público, rock autoral brasiliense vive boa fase

Bandas têm atraído público e chamado a atenção de renomadas casas de shows, que têm se rendido a um novo movimento do estilo no DF

Suzano Almeida
postado em 02/04/2023 06:00
 (crédito: Paulo Cavera/Divulgação)
(crédito: Paulo Cavera/Divulgação)

Celeiro histórico do rock nacional, o Distrito Federal vê sua cena se reacender. Com um novo circuito de bandas autorais e um público com sede de conhecer novas sonoridades, casas de shows, pubs e eventos renomados estão abrindo, cada vez mais, espaço para quem faz seu próprio som. Se antes o underground era a única alternativa, hoje locais de mais prestígio em diversas regiões administrativas acrescentam em suas agendas dias exclusivos para elas.

Um dos destaques dessa nova cena é a banda Caos Lúdico. Formada em 2015, sua mistura de sonoridades — rock, ska, punk, reggae, hardcore — levou o grupo ao palco principal da edição 2022 do Capital Moto Week. Formada por João Ramos, Guilherme Wanke, Rafael Marreta, Felipe Andrade, Ramon Santana e Luciano Batista, a banda abriu o show dos Paralamas do Sucesso, na última edição.

"Acho que estamos criando uma nova cena. Só haver bandas não é ter uma cena. Precisamos de interação com o público, com os produtores, casas para criarmos essas condições. Aqui em Brasília nunca faltaram bandas. Temos muita diversidade. O público não está preocupado com o estilo (de rock), mas com a experiência. Com a relação público e banda", conta João Ramos.

O frontman da Caos Lúdico conta que o grupo já dividiu espaço com bandas de outros estilos e, mesmo em meio aos metaleiros, o som elaborado, com trompete, sax e trombone, também conhecido como Ska — estilo também popularizado pelos Paralamas do Sucesso e Skank — foi bem recebido por esse público, que não está interessado apenas em cores fechadas. O som contagiante rendeu ótimas avaliações após o Capital Moto Week e um aumento na base de fãs.

Há mais tempo no mercado, Cezar Degraf é um dos nomes da atualidade que mais se destacam nas plataformas de música. Com mais de 40 mil execuções mensais no Spotify, o paranaense radicado em Brasília formou sua principal banda aqui no Distrito Federal em 1998. No início dos anos 2000, estourou com a Vontana, e, hoje segue carreira solo. Em apenas uma de suas canções, Lutar e vencer, ele já acumula mais de 450 mil execuções.

"O rock tem um público fiel, pessoas que consomem a música e nas casas de shows. Hoje, não é o estilo que está em maior evidência, mas, mesmo assim, tem o público. Tanto as bandas quanto os artistas têm se reciclado e isso está dando um novo gás à cena", destaca Degraf.

Em seu trabalho solo, Cezar Degraf procura trazer mensagens positivas, que levem as pessoas a refletir e persistir, como na próxima atração, Tormenta, que será lançado hoje nas plataformas de streaming e com um clipe no YouTube do cantor. "Caímos, mas podemos nos erguer."

Marsalla

Formada em 2017, a banda Marsalla acaba de sair do estúdio e lança no próximo 17 de março mais um single: Depois te conto. Com influências do Pop Punk, U2, Charlie Brown, entre outros, o grupo se coloca como um expoente da cena local. "Sempre procuramos estar na cena do autoral de Brasília. Nosso primeiro projeto começou antes da pandemia, em 2019 e durou até 2021.

Matheus Teixeira, da Marsalla, credita o bom momento a um público novo que vem lotando as casas de shows. "O público do pop punk está se renovando e isso tem dado um gás na juventude que tem comparecido aos nossos shows. Sempre estamos participando da cena do autoral e hoje temos uma agenda bem legal por causa da volta dela. Temos tocado em locais importantes, como o O'Rilley, o Velvet e hoje estaremos no Galpão 17."

Para atrair o público, a banda realiza pequenos shows, como tem ocorrido para o lançamento da nova música.

Público atrativo

O crescimento da cena do rock em Brasília não ocorre por coincidência. Desde meados da década passada, grandes festivais, especialmente na Europa, têm dado espaço para novas e nem tão novas bandas, fugindo de figurões das décadas de 1980 e 1990.

Puxadas pelo que tem acontecido em festivais da Europa,  casas importantes, como o O'Rilley Irish Pub e o Velvet Pub, têm reservado dias fixos em suas agendas para que o público conheça novos nomes do cenário local.

"Sempre tive a esperança de o rock voltar a reinar no Brasil, em Brasília. Portanto, me sinto na obrigação de dar espaço às bandas de rock autoral, com a finalidade de fortalecer o movimento. É algo que terá resultado a longo prazo. Espero que as outras casas do Distrito Federal também abram as portas para as bandas daqui", destaca o proprietário do O'Rilley, Gustavo Gondim. "Fico feliz em ter 'lançado moda'. A ideia é exatamente incentivar outras casas a fazerem o mesmo", completa.

Dono de uma das casas de shows mais ecléticas do Distrito Federal, o Velvet Pub, Thiago Sabino conta que os shows com bandas autorais mudaram a cara da casa. "O que tem enchido a casa são as bandas autorais. Antes, tínhamos bandas covers e, como ficamos fechados por causa da pandemia (de covid-19), o público não estava comparecendo. Com as bandas autorais, elas passaram a trazer seu próprio público. Eles mesmos vendem os ingressos, o que ajuda no cachê delas. Isso traz retorno para elas e para nós", comenta.

Diferentemente do senso comum, segundo Thiago, não são mais as bandas covers que têm garantido o público das casas de shows, mas as bandas autorais. "Eu tenho tido resposta contrária ao que outras casas pensam. Com esse formato, as bandas colocam seu público, vendem produtos e eles têm um pessoal que acompanham as apresentações. Antes, pagávamos os cachês e a casa não enchia. Agora não. Sempre temos um bom movimento."

Além de músico, Cezar Degraf é um dos produtores responsáveis pelo novo movimento de bandas autorais em casas de renome. Com os projetos Alto Volume e Setor Sonoro, o músico tem chamado a atenção para a nova leva de bandas do rock local. "Tenho muito orgulho e satisfação em produzir e abrir espaços para que novos nomes surjam. Temos bandas em quantidade e qualidade no DF e no Entorno. Brasília sempre foi celeiro e elas continuam surgindo. Isso eu acompanho semanalmente.

Apenas no ano passado foram realizadas mais de 40 edições dos dois projetos, com pelo menos 80 bandas se revezando nos palcos da capital do país. Para tocar em eventos do Alto Volume, as bandas precisam apenas procurar o perfil do projeto no Instagram e lá terão as informações. Não é necessário que elas já tenham material gravado, porém, é preciso material próprio.

"Em breve teremos mais espaços e mais próximos das outras regiões administrativas. Esse movimento não é exclusivo da gente, mas de todos que se empenham em dar visibilidade. Nosso objetivo é incentivar que outras casas e outros produtores dêem oportunidade para essas bandas", conclui Degraf.

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