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Música

Lô Borges lança quinto disco em cinco anos: 'Tenho fascínio pelo que não compus'

Músico, que esteve em Brasília para show no 5º Bonecos de Todo Mundo, permanece em atividade frenética. Em entrevista ao Correio, Lô falou sobre a carreira e a paixão pela composição

Um dos principais nomes de uma geração musical mineira que marcou época em toda cultura brasileira, Lô Borges não parece ter a intenção de parar tão cedo. No auge dos 71 anos de idade, o cantor e compositor que foi marcante nos anos 1970 e 1980 permanece em atividade frenética, seja lançando ou se apresentando, nos últimos anos. Essa intensidade  passou por Brasília na última quinta-feira para a 5ª edição do Bonecos de Todo Mundo, festival de bonecos que se encerra semana que vem.

A apresentação coroou um período muito produtivo do artista. Lô tem lançado um disco por ano há cinco anos. O mais recente deles, Não me espere na estação, chegou no último dia 20 de janeiro neste ímpeto de um artista que vê prazer na composição. "A composição de algo inédito faz parte do meu cotidiano. Eu tenho fascínio pelas coisas que eu ainda não compus. Por isso,  estou no meu quinto disco de inéditas, são mais de 50 músicas que há cinco anos atrás não existiam", conta Lô em entrevista ao Correio.

O músico se diz encantado com o novo, o que não atrapalha em olhar para o antigo. "Como eu componho o tempo todo, quando eu chego para cantar o Trem azul, não parece que eu a fiz há esse tempo todo. É como se  tivesse feito há um ano atrás. Minhas músicas antigas têm um frescor também", explica Lô. Essa forma de ver o mundo faz com os shows dele, como o que veio à Brasília, sejam pensados exclusivamente para o público. "Nos meus shows,  não canso o público, canto as músicas todas do Clube da Esquina. A galera gosta de ouvir e eu e minha banda amamos tocar. Para mim, apresentar Um girassol da cor do seu cabelo, ou um Tudo que podia ser e todas músicas que eu fiz nas décadas passadas é uma delícia, uma coisa renovada", expressa o artista.

Aqui e agora

Lô Borges, portanto, fez uma apresentação que alternou novidades e clássicos, afinal está lembrando do passado e olhando para o futuro, mas vive o aqui e agora. "Eu sou um cara que olha para o presente", diz. Talvez por esse motivo, o cantor esteja há tanto tempo em atividade. "Me sinto um compositor em continuidade, comecei nos anos 1970, mas minhas músicas são todas irmãs. O que eu fiz há 50 anos, eu poderia ter feito ano passado", acrescenta, salientando que a intenção não é parar. "Enquanto eu tiver inspiração, a minha contribuição para o mundo vai ser trazer músicas novas", completa.

Essa forma de ser do compositor traz a ele a analogia de uma colméia, uma grande organização de abelhas da MPB. "Eu vivo em um mundo em que estou cercado de pessoas com vocação de abelha rainha, mas sou abelha operária. Meu negócio é ajudar a colméia da MPB a fazer mel, própolis e geléia real", reflete o artista.

No contrafluxo

Ele recorda de toda a trajetória e percebe que sempre foi diferente. Nunca ligou para as mesmas coisas que os artistas que viu surgir tanto com ele, quanto antes ou depois dele. "Com 20 anos, fui coautor do Clube da esquina, logo depois, fechei um contrato para fazer um disco só meu no mesmo ano. Nem músicas eu tinha, não quis nem colocar meu rosto na capa, botei o tênis velho que não tirava do pé", lembra o cantor em referência ao álbum autointitulado de 1972, conhecido popularmente como "disco do tênis". "Eu poderia ter vivido do show business depois daquele álbum, mas decidi virar hippie em Arembepe, na Bahia, andar de carona com estranhos e fazer o que os jovens da minha idade estavam fazendo. Cortei com a gravadora e voltei apenas seis anos depois", recorda.

Ele sente que essa forma de ver o mundo sempre existiu e permanece com ele até hoje e, por isso, ele quer continuar criando. "Para eu fazer tanta música inédita, ser idealista e bancar todos os meus projetos sem a ideia de ter um retorno rápido. Faço isso porque gosto, porque sou um idealista da música", afirma. Lô chega a reclamar de que tem muito material e queria lançar mais de um disco por ano. "Quando é o Neil Young fazendo dois discos por ano todo mundo acha uma gracinha, quando é o Lô Borges é: 'lá vem o chato da música inédita'", brinca, mas com um fundo de verdade. "Vou negociar com a gravadora, tenho repertório composto para pelo menos mais dois anos de lançamento, tenho um disco já praticamente pronto", adianta Borges.

É nessa vontade de trabalhar e na simplicidade do amor pela composição que Lô Borges se baseia. "Minha intuição vai fazendo música atrás de música, disco atrás de disco sem nem pensar no que vou ganhar com isso", comenta. "Eu não faço questão nenhuma de ser cult, estrela, abelha rainha. Não faço questão nenhuma de entrar para a história", pontua o artista, que, querendo ou não, já é parte integrante da história da música brasileira.

 

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