O TikTok está mudando o mundo da música. As possibilidades que a plataforma traz fazem com que artistas cresçam muito do dia para noite e músicas entrem nas listas de mais ouvidas de países e até do mundo. Contudo, o sucesso repentino não significa que o processo não foi longo. O cantor Puterrier é a prova disso. O artista está estourado por conta da rede social de vídeos curtos, mas tem um trabalho que vai muito além de viralizar.
O músico fez sucesso nacional com a faixa Putaria 2000, uma mistura de grime e funk, que foi denominada pelos fãs de atabagrime. “É como se fosse um grime com o ritmo do atabaque”, explica Puterrier. Grime é um gênero hip-hop criado na Inglaterra e adaptado em diversos lugares do mundo. No Brasil, os principais nomes do ritmo são Fleezus, Febem, CESRV e SD9, músicos como FBC e VHOOR também se aventuram no ritmo.
O músico se familiarizou com o grime, mas se encontrou no funk. Essa mescla deu liga, porque, segundo Puterrier, o público entende melhor o ritmo brasileiro do que o inglês. “Para mim, quem sabe muito de uma parada, vai fazer 100% aquilo, o que gosta mais. Eu amo grime, mas gosto muito mais de funk, então eu não aprofundo meu som tanto no grime para eu poder ter essa liberdade para caminhar por vários lugares”, acredita. “Às vezes, não ter muita noção do que está fazendo permite explorar um pouco de tudo”, brinca.
O músico vê o sucesso da canção como fruto de muito trabalho, afinal a gravou e regravou sete vezes para que chegasse ao resultado esperado. A música gerou o ritmo que ele adotou e até lançou um EP intitulado Atabagrime.”Desde que eu lancei Putaria 2000 e as pessoas começaram a falar que existia o atabagrime. Eu e minha equipe assumimos que eu seria esse cara”, conta o músico, que explica a persona que abraçou “Um cara que levanta bandeira de um Brasil melhor, para acabar com síndrome de vira-lata, que brasileiro acha que tudo de melhor vem de fora, e jogar nosso estilo para a pista. Quero que as pessoas tenham orgulho de serem elas mesma”, afirma Puterrier. “Playboy pode curtir, favelado pode curtir, as tiazinhas podem curtir. Atabagrime é para todo mundo”, finaliza.
A origem
Antes de emplacar um hit ou criar um ritmo era preciso começar uma carreira. Natural de Del Castilho, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, Puterrier é o nome artístico de Victor Mitoso. O jovem está há pelo menos 8 anos tentando emplacar na música. Ele lançou a primeira canção ainda muito novo, na época tentava a vida no ritmo trap. “Meu jeito é muito extrovertido, sorrio para todo mundo. Quando era trapper tinha que meter uma marra que não era natural para mim. Ainda estava me descobrindo”, lembra o músico que já usou outros dois “vulgos”, expressão popular para nome artístico.
Ele encontrou no funk. “Fui morar sozinho, fui para correria, fui viver. Dessa forma a música que eu gostava veio naturalmente”, lembra. Ainda jovem largou a escola e passava as madrugadas em bailes para se encontrar musicalmente. “Eu já sabia que o que estava fazendo era para mim, mas o jeito que estava fazendo ainda não era”, recorda.
Nessa onda da descoberta encontrou o grime por meio do canal do YouTube Brasil Grime show. O artista passava tardes rimando em cima de sets de Djs publicados entre os videos do canal. Aos poucos foi buscando um meio termo entre esse achado e o amor pelos bailes funks até chegar em um resultado que o agrada. “Eu coloco 80% funk e 20% grime, aquelas pitadinhas que dão o diferencial”, explica.
Quando encontrou o som criou a própria filosofia de vida, que denominou de Puterrier, faixa que abriria a nova fase da carreira. Baseado em curtir a vida, enquanto trabalha na música e se alia a pessoas que podem acrescentar na própria caminhada, o jeito de ser Puterrier virou nome. “Minha primeira grande música se chamava Puterrier, todo mundo em volta de mim olhou e falou: ‘não tem como você ser chamado de outra coisa, você é o Puterrier’”, fala.
Ter uma música de sucesso, portanto, foi apenas um fruto de um sonho que ele realmentre foi atrás. “Desde que eu era mais novo, eu escrevia poesia, postava minha música e até lidava com críticas. Porém, sempre tive uma autoestima do caramba, eu sempre dei meu nome e sempre achei que isso era pra mim. Falava: ‘uma hora vai’. Então, quando foi eu fiquei mais aliviado do que surpreso”, diz Victor que dá o recado que a estrada de verdade só começou agora: “Os outros estavam errados e eu estava certo mesmo. Agora podemos começar o caminho de fato”. Esse início já conta com shows em trios e bailes no carnaval do Rio de Janeiro e será coroado com o posto de atração principal no festival Baile Room em Belo Horizonte, um dos principais eventos para os novos talentos da música urbana brasileira.
Essa trajetória deve ganhar um novo e ousado capítulo em 2023. “Vou abrir um selo”, antecipa o cantor. A ideia é trazer artistas próximos para o selo Atagrime, focado no ritmo que toca. Nomes como Pedro Bala e Pique Raro, já são nomes garantido na empreitada. “Vale a pena para mim deixar as coisas em família. Por isso vamos criar um selo para os nossos”, pontua a músico que já chegou a recusar propostas para se juntar a Mainstreet, maior produtora de talentos do hip-hop brasileiro atual.
Inspirado por nomes como Heavy Baile e SD9, o artista quer fazer algo que ultrapassa a música, que acrescenta mais ao público. “Quero fazer algo cultural, não quero ficar soltando várias músicas e ver qual vai estourar. Quero ter uma proposta distinta para cada lançamento. Uma coisa que funcione na música, mas também fora da música”, almeja Puterrier que não se cansa de sonhar alto com os próprios projetos. “A meta é ser reconhecido internacionalmente, quero levar o atabagrime para o mundo”, projeta.
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